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Era um rosto bonito, até mesmo lindo; e quando o vi pela primeira vez, tinha a mesma expressão melancólica.
Mas esta se iluminou quase instantaneamente por um sorriso de reconhecimento.
conseguia. Ficamos em silêncio por quase um minuto, e afinal ela falou; eu não
– Que estranho! – ela exclamou. – Doze anos atrás, vi seu rosto em um sonho, e ele tem me assombrando desde então.
– Estranho, de fato! – repeti, superando com esforço o horror que havia me impedido momentaneamente de falar. – Doze anos atrás, em uma visão ou na realidade, eu certamente vi você. Não pude esquecer seu rosto. Ele continuou desde então diante de meus olhos.
Seu sorriso se suavizou. O que quer que eu tivesse achado estranho nele se fora, e agora suas bochechas com covinhas pareciam deliciosamente lindas e inteligentes.
Senti-me reassegurada, e continuei do modo que a hospitalidade me indicava, dando-lhe as boas vindas, e dizendo-lhe que sua chegada acidental nos dera a todos um grande prazer, e especialmente a felicidade que era para mim.
Segurei sua mão enquanto falava. Eu era um pouco tímida, como as pessoas solitárias são, mas a situação me tornou eloquente, e até mesmo ousada. Ela apertou minha mão, cobriu-a com as dela, e seus olhos brilharam quando, olhando ansiosamente nos meus, sorriu de novo, e corou.
Ela respondeu minhas boas-vindas com muita gentileza. Sentei-me ao seu lado, ainda pensativa, e ela disse:
– Devo falar de minha visão sobre você; é tão estranho que você e eu tenhamos sonhado tão vividamente uma com a outra, e que tenhamos visto uma à outra como somos agora, quando é claro que nós duas éramos apenas crianças. Eu era uma criança, com cerca de seis anos de idade, e despertei de um sonho confuso e inquieto, e me vi em um quarto, diferente do meu berçário, com painéis mal feitos de madeira escura, e com armários e estrados, e cadeiras, e bancos espalhados. As camas estavam, creio, todas vazias, e o quarto estava vazio, exceto por mim mesma; e eu, olhando ao meu redor por algum tempo, e admirando especialmente um candelabro de ferro com dois braços, que eu certamente reconheceria, engatinhei para baixo de uma das camas para chegar à janela; mas,quando saí de baixo da cama, ouvi alguém chorando; e olhando para cima, ainda de joelhos, vi você, com toda certeza era você, como está agora; uma linda jovem, com cabelos dourados e grandes olhos azuis, e lábios... seus lábios... você, como está aqui e agora.
– Seu olhar me conquistou, subi na cama e a abracei, e acho que nós duas adormecemos. Fui acordada por um grito, você havia se sentado e estava gritando. Fiquei assustada e deslizei para o chão, e, como me pareceu, perdi a consciência por um momento, e quando voltei a mim, estava de novo em meu quarto, em casa. Não me esqueci de seu rosto desde então. Eu não poderia ser enganada por uma simples semelhança. Você é a jovem que eu vi.
Agora era minha vez de relatar minha visão correspondente, o que fiz, para verdadeira admiração de minha nova conhecida.
– Não sei qual de nós deveria ter mais medo da outra – ela disse, sorrindo – se você fosse menos bonita, acho teria muito medo de você, mas sendo você como é, e sendo nós duas tão jovens, sinto apenas que a conheci doze anos atrás, e que já tenho direito à sua intimidade, ao que tudo indica fomos destinadas, desde a mais tenra infância, a sermos amigas. Imagino se você se sente tão estranhamente atraída para mim como me sinto para você; nunca tive uma amiga... encontrarei uma agora? – Ela suspirou, e seus belos olhos negros me olhavam apaixonadamente.
A verdade é que eu me sentia inexplicavelmente influenciada pela linda estranha. Eu me sentia, como ela disse, “atraída para ela”, mas sentia também um pouco de repulsa. Neste sentimento ambíguo, entretanto, a sensação de atração prevalecia imensamente. Ela me interessava, e me conquistou; ela era tão linda e tão indescritivelmente atraente.
Então percebi nela um pouco de languidez e exaustão, e me apressei em lhe desejar boa noite.
– O doutor acha – acrescentei – que você deveria ter a companhia de uma criada esta noite. Uma das nossas está esperando, e você verá que ela é uma criatura muito prestativa e quieta.
– Que gentileza sua, mas eu não poderia dormir, nunca, com alguém no quarto. Não precisarei de nenhuma assistência... e devo confessar minha fraqueza, tenho terror de ladrões. Nossa casa foi roubada certa vez, e dois criados foram assassinados, então sempre tranco minha porta. Isso se tornou um hábito... e você parece tão gentil que tenho certeza que irá me perdoar. Vejo que há uma chave na fechadura.

Carmilla - A Vampira de KARNSTEINOnde histórias criam vida. Descubra agora