Eu disse que fiquei encantada com a maioria das suas características. Havia algumas que não me agradavam tanto.
Ela era mais alta do que a maioria das mulheres. Vou começar descrevendo-a.
Ela era esguia, e maravilhosamente graciosa. Exceto que seus movimentos eram lânguidos, muito lânguidos. Na verdade, não havia nada em sua aparência que indicasse uma inválida. Sua compleição era rica e brilhante, suas feições pequenas eram lindamente formadas; seus olhos eram grandes, negros e brilhantes; seu cabelo era maravilhoso; eu nunca vira um cabelo tão magnificamente cheio e longo como quando ela o soltava sobre os ombros. Muitas vezes eu o tocava com as mãos, e ria maravilhada com seu peso. Ele era incrivelmente belo e macio, e era de um castanho muito escuro, com um toque de dourado. Eu adorava soltá-lo, deixando-o ceder ao próprio peso, E, em seu quarto, quando ela se deitava na cadeira, conversando com sua voz doce e grave, eu costumava fazer tranças nele, e espalhá-lo, e brincar com ele. Céus! Se eu soubesse!
Eu disse que havia algumas coisas que não me agradavam. Disse que a confiança dela me conquistou na primeira noite em que a vi, mas descobri que ela mantinha uma reserva constante sobre tudo o que dizia respeito a si própria, à sua mãe, sua história, de fato tudo que tivesse conexão com sua vida, seus planos ou sua família. Arrisco-me a dizer que estava sendo despropositada, e talvez estivesse errada. Talvez devesse ter respeitado a solene injunção imposta sobre meu pai pela imponente dama em veludo negro. Mas a curiosidade é uma paixão incansável e inescrupulosa, e nenhuma moça pode suportar pacientemente que a sua seja despistada por alguém. Que mal poderia fazer se alguém me dissesse o que eu desejava tão ardentemente saber? Ela não confiava em meu senso de honra? Por que não acreditava quando eu lhe garantia solenemente que não divulgaria uma sílaba do que me contasse a nenhuma alma viva?
Parecia-me que ela possuía uma frieza incompatível com sua idade na sua melancolia sorridente e persistente recusa em me conceder até mesmo o menor raio de luz.
Não posso dizer que discutimos por isso, pois ela não discutia por nada
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Carmilla - A Vampira de KARNSTEIN
VampirePrimeira tradução integral e anotada de uma das mais célebres histórias de vampiro da língua inglesa. Publicada em 1872 e primeira a ser protagonizada por uma vampira, apresenta uma densa atmosfera gótica e um erotismo subjacente que marcaram época...