"Hogwarts"

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Meu corpo ainda doía a cada movimento que eu fazia, até mesmo tomar um simples banho parecia um tortura, mas já não era mais uma dor tão insuportável como antes, me obriguei a melhorar, obriguei meu corpo a ao menos sustentar meu peso em pé, afinal, eu precisava ir até Hogwarts.

Malfoy não aparecerá no dia seguinte, provavelmente estava ocupado demais sendo um comensal, ou pelo menos, fingindo ser um. Ele apenas enviou um bilhete, curto e direto, "Não ouse sair desta casa Melinda."

Contrariando a ordem de Draco, implorei para que Pierre me deixasse ir, eu precisava estar lá. E era isso que discutíamos pela terceira vez na pequena sala de estar da casa onde estávamos hospedados.

— Pierre, por favor, entenda... - Peço cruzando as pernas sobre o sofá.

— Não Mel, é você quem não entende... - Ajusta os óculos redondos. — Você quase morreu, não pode simplesmente ir para uma guerra, estaria se oferendo para morte desse jeito.

— Eu não posso ficar aqui sentada esperando que aqueles que eu amo voltem vivos... - Puxo o ar tentando conter o nervosismos ao dizer tais palavras.

— Assim como eu não posso deixar que você vá, esperando que você volte...- O garoto se levantou da poltrona onde estava, caminhado até o grande sofá para se sentar ao meu lado. - Eu vou com você então, sei que mesmo que eu negue você dará um jeito de ir.

— Você não pode ir. - Respondo em prontidão.

— Mas você pode? - Retruca.

— Pie, esse guerra não é sua, você foi arrastado para tudo isso, se algo acontecer... - Minha boca seca. — Eu nunca me perdoaria.

— Não vai acontecer nada... - Seus dedos acariciam minha bochecha. — E não se preocupe, estou aqui por livre e espontânea vontade. - Sorri. — E me ofende sua falta de fé em mim como um bom bruxo que sou.

— Desculpe. - Dou uma risada baixa. — Só não quero que você se machuque.

— Não vou. - Seus braços me puxam para um abraço. — Nem você, não se depender de mim.

Ficamos por incontáveis horas ali, apenas conversando qualquer coisa que não fosse sobre a guerra que se aproximava.

Eu pedia a Merlin que meus pais ficassem afastados, que eles não fossem até Hogwarts, que se protegessem o máximo possível. A falta de notícia me deixava apreensiva, enquanto minha mente formava um turbilhão de pensamentos indesejados.

Por um instante me peguei pensando em como seria reencontrar Mattheo, qual seria sua reação ao descobrir que eu não estava morta!? Senti algo se contorcer dentro do meu peito, medo. Estava com medo de que Mattheo ainda estivesse sobre o controle de Voldemort, medo que ele tivesse cedido aos desejos do pai, medo de vê-lo ferido...

— Está tudo bem? - A voz de Pierre me tira dos meus pensamentos. — Você está branca como um papel.

Estávamos agora na cozinha, preparando algo para comermos. Tínhamos achado um pequeno rádio, não era um rádio trouxa, era uma imitação mágica, por ali descobríamos o que estava acontecendo no mundo mágico. Nomes e mais nomes, de mortos e desaparecidos ecoavam pelo pequeno espaço.

— Estou... - Mesmo que não estivesse. — Você acha que ele vencerá? - Pierre sabia de quem eu me referia, não conseguia pronunciar seu nome sem sentir vontade de vomitar.

— Espero que não... - Sua voz era baixa, cautelosa. — Você disse que seus amigos buscavam respostas para impedi-lo...

— Sim, eles estão... - Me lembro de Harry, Hermione e Ron, os três grifinórios agora estampavam todos os folhetos de indesejáveis espalhados pelas ruas. — Confiarei neles até o último segundo.

— Sendo assim... - Pierre diz sorrindo. - Eu também confiarei.

— Alguma preferência para o jantar? - Pierre pergunta mudando o assunto.

— Surpreenda-me. - Respondi sorrindo.

— Podemos desligar esse rádio? - Perguntou apontado para o objeto sobre a bancada. — Não suporto mais ouvir tanta tragédia, ao menos para jantarmos...

— Ah, é claro. - Puxo minha varinha desligando o pequeno rádio bruxo.

— Na verdade, mudança de planos... - Pierre puxa a própria varinha, ligando novamente o rádio, mas desta vez ao invés de nomes de vítimas, "Take on me " ecoava pela cozinha. — Oh sim, muito melhor....

— Não me diga que você conhece essa música? - Pergunto rindo enquanto Pierre cantarolava do outro lado do balcão.

— Ora, mas é claro que sim. - Me estende a mão. — Me conceda essa dança srta LeClair.

Agarro sua mão ouvido a melodia animada da música, Pierre me girava e mexia os pés sem parar de cantar a música. Seus passos eram alegres e leves, e enquanto ele sorria eu me pegava fotografando aquele momento, mais um dos que eu eternizaria.

— Me prometa que você ficará bem. - Peço ofegante pela dança.

— Eu prometo Mel. - Responde me abraçando. — Eu amo você. - Em resposta um sussurro saiu dos meus lábios, "Eu também te amo Pie"

Antes que começássemos a ser melancólicos novamente, Pierre afastou nossos corpos voltando para uma dança desengonçada que eu aposto que ele inventara ali mesmo. Dançávamos até que nossos pés reclamassem e nosso estômago roncasse de fome, nos alertando que ainda tínhamos um jantar para ser preparado.

(...)

— Pronta? - Pierre perguntou enquanto eu ajeitava o restante da roupa.

Toda alegria de ontem havia se dissipado pela manhã, quando concordarmos que iríamos até Hogwarts assim que o sol se pusesse.

— Sim, acho que sim. - Não havia o por que de mentir para Pierre, talvez eu não estivesse pronta, mas precisava ir.

Tentaríamos aparatar até o próprio castelo, se conseguíssemos, seria um sinal de que as coisas já não estavam tão boas, que as proteções tinham caído por terra.

— Vamos... - O garoto me estendeu as mãos, e em preparei para o enjoo que sentiria ao aparatar.

Segurei em seus dedos, estavam gelados como nunca, em comparação a minha mão, que suava e parecia ferver. Pierre fechou os olhos e se concentrou, ele nunca estivesse em Hogwarts antes, então precisava visualizar o máximo que conseguisse.

Sinto meu corpo ser puxado, minha cabeça doer, assim como meu corpo ainda machucado. Tudo girava e eu apertava os olhos me concentrando o suficiente para não vomitar. Com um estrondo meus pés tocaram o chão, e por coincidência ou sorte, Pierre tinha nos aparatado até a torre de astronomia, indicando que os feitiços já não funcionavam mais.

Gritos ecoavam conforme adaptei meus sentidos ao novo local, um frio gelado atingiu meu corpo e me impulsionei a dar dois passos à frente, até o parapeito.

Meu estômago se revirou, minhas pernas ameaçaram ceder e vômito subiu até minha garganta quando observei atentamente tudo ao meu redor. Caos e terror espreitavam aquele lugar, aquele lugar que havia sido minha casa e agora estava em ruínas, alunos e professores se juntavam para proteger uns aos outros, corpos feridos estavam caídos ao chão, comensais estavam em todos os lados.

Tudo estava destruído.

Be with me - Mattheo Riddle Onde histórias criam vida. Descubra agora