A voz

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No dia seguinte, Robin vem atrás de mim.
— Perseguição?
Pergunto enquanto vejo seu lábios se abrirem para um sorriso, que retribuo.

— Acho meio arriscado você ir sem nem saber usar uma arma direito, então achei que podia ajudar nisso.
Ele diz um tanto convencido, na verdade, convencido é pouco.
— Aulas?

Provavelmente não vai dar muito certo, mas é melhor do que quase, matar a pessoa errada de novo.

Ao envés de responder minha pergunta com um sim ou alguma explicação breve, ele faz que não com a cabeça, o que me causa estranheza.
— Aula. Só temos tempo para uma.
Sua voz saí como se houvesse outra coisa para fazer.

Até onde eu sei, Bill não mandou ele fazer mais nada, e o chefe exigiu que todos treinassem o máximo possível.

— Ok.
Concordo um pouco receosa, então o garoto com quase seis centímetros mais alto que eu, me leva onde vamos treinar.

Analiso o lugar, que é um pátio aberto, onde não tem muitas pessoas por perto. Perfeito.

Hood arruma tudo muito rápido, então logo começamos o treinamento. A primeira coisa que ele ensinou foi golpes: baixos, altos, fraquezas, e pontos fortes.

Porém, não ficamos nisso por muito tempo, pois meu pai e Bill, já me ensinaram o bastante quando era mais nova.

— O próximo é facas.
O meu novo treinador diz, o que sinceramente me dá uma leve animada.

Depois de um bom tempo dele me ensinando a mexer, botamos em prática, usei um pedaço de madeira, para que nem eu, nem ele, se machuque.

— Pronta?
O treinador pergunta com seu sorriso no rosto, e seu olhar preso no meu.
— Sempre.

Avanço com tudo, tentando acertar sua barriga, mas Robin desvia facilmente, e logo começo a sentir gotas de suor percorrer meu rosto, devido ao sol exageradamente quente.

Tento acertar seu braço, mas ele dá volta e me agarra por trás, me puxando para ele e  segurando em minha cintura.

Dou um chute ainda de costas em seu joelho, o que faz ele cair, mas ao envés de eu ficar de pé, ele me leva junto, agarrado a minha cintura.

Me fazendo cair em algo não muito confortável, mas melhor que o chão, de cima dele.

Ouço sua risada e me deito ao seu lado, começo a rir com a certeza que se eu parasse, o mundo acabaria.

Tento recuperar o fôlego, o olhando e percebendo que ele já me olhava. Meu riso se vai e abre espaço para um sorriso, porém ao envés do mundo acabar, sinto como se ele estivesse acabado de começar.

Nós encaramos por um bom tempo, e aproveito para perceber cada detalhe em seu rosto, de como seus olhos amarronzadoz brilham e refletem o céu, dando uma nova cor ao azul.

Seus lábios levemente rosados, que ele usa 90% das vezes só para sorrir, é mais puxado para o lado direito, fazendo que sempre quando sorrir fique involuntariamente mais em um lado.

Quando volto a olha-lo nós olhos, vejo que ele fazia o mesmo, me encarando como se quisesse descobrir algum segredo. Engulo em seco e me levanto rapidamente, pegando a espada ao meu lado, e acertando nele sem ao menos ter como escapar.

— Touché.
Ele se assusta, mas seu sorriso se aumenta. Porque ele só sabe sorrir? E como sempre, retribui.

Quando acabamos com as facas, ele arrumou tudo de novo. Dessa vez havia vários modelos de armas, e suas respectivas balas na mesa.

— Pode escolher.
Ele diz como se fosse um teste. E eu nada boba, pego a arma que sua bala parece ser mais mortal.
— Boa escolha.
Dou um sorriso quase invisível, e vou para o canto que ele disse.

Aponto a arma para o alvo, e Robin me olha torto, segurando uma risada.
— Você está segurando errado...
O mesmo diz vindo até mim calmamente. Mas ao envés de ir á minha frente, ele vai para trás.

Gentilmente coloca sua mão perto a minha, mexendo os lábios lentamente para fazer uma pergunta.
— Posso?
Assinto com a cabeça sem ao menos olha-lo, pois meu olhar já está fixo no alvo.

— Você tem que segura-la assim.
Ele corrige com a boca próxima ao meu ouvido, acho que se estivesse alguns centímetros mais perto, poderia sentir seus lábios se mexerem.

Porém, ao envés de sentir seus lábios, sinto sua mão mexer a minha. Fecho os olhos e tento lembrar do que aprendi com meu pai, quando consigo atiro com os olhos ainda fechados.

Os abro devagar e vejo que acertei no exato meio do alvo. Viro a cabeça para Robin e nós dois sorrimos, abaixo a arma devagar, e observo que ele ainda está com a mão na minha.

Ao Hood perceber, a solta com tudo, como se estivesse com medo do que havia feito.

Quando nossos olhares se encontram, consigo vê-lo inteiramente, como se eu conhecesse a anos. Seus olhos chegam a brilhar, e seu sorriso reaparece.

— Bill quer te ver.
Uma voz grossa aparece atrás de mim, e me assunto com a mesma. Me viro para ela e vejo Poul.

Deixo a arma com Robin e o homem com estrutura musculosa me leva até Bill.

Ele me deixa em uma sala pequena, mas muito bonito, e logo em seguida vai embora. Me deixando apenas com Bill e um homem loiro dos olhos verdes.
— Esse é o Eric, ele vai fazer o seu vestido.

Depois de um tempo tirando medidas, e vários testes de tecido, vou embora. Decido ir para a casa que morei, mas no caminho escuto a voz de Robin vindo de um beco.

Outra voz está com ele, meio seca e desgasta, que nunca ouvi antes.

Me aproximo lentamente, com cautela para não ser descoberta.
— Então é isso?
A voz misteriosa pergunta com autoridade.
— Sim, é isso.
Enquanto a de Robin, faz parecer que eles se conhecem há muito tempo.

— Volto quando for necessário.
A voz afirma e ouço passos. Saio dali mais rápido que posso, me escondendo em um lugar qualquer.

Robin está escondendo alguma coisa, e eu vou descobrir.

ᴀ ғɪʟʜᴀ ᴅᴀ ᴍᴀғɪᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora