Vida por vida

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Me levanto e vou até a pia lavar o rosto. Espero a água descer mas nada vem.

Não tem água.

então apenas fico encostada na pia, não quero que ninguém me veja assim. Eu já aguentei muitas coisas, meu escudo está totalmente rachado, com qualquer toque ele pode quebrar.

Eu não quero que ele quebre.

Eu preciso dele.

- Julie?
Bill coloca a mão em meu ombro, fazendo que eu me vire para ele, e esconda o meu rosto em seu abraço.

É bom sentir alguém cuidando de mim novamente.

Ele faz carinho no meu cabelo, me deixando um pouco mais calma e minhas lágrimas sessão um pouco.

Mas não dura por muito tempo, pois eu me endireito e dou passos para trás, saindo do seu abraço.

- Me conta tudo! Sem enrolação! Agora!
Falo alto, e ele se aproxima tentando me acalmar.
- Você ainda não está preparada para ouvir.

O que? Existe preparação para saber que seus pais foram assassinados?

- Eu preciso saber Bill, se eu não souber a história toda, como vou saber por onde me vingar?
Bill me olha estranho, repreendo minha decisão, logo depois faz que não com a cabeça.

- Eu te disse para agir como se não soubesse! Eu vou te contar! Claro que eu vou! Mas você não vai fazer nada, nada!
Ele pega a minha mão novamente assustado.

- Não foi só você que os perdeu! Eu também os perdi, Julie! E eu não vou perder você também.
Bill segura as lágrimas, pois não é de chorar, e não vai ser agora que isso vai acontecer.

Não... Uma lágrima percorre seu rosto, mas ele a limpa. Acho que algumas coisas mudam.

- Ok... Mas me conta, acho que eu também mereço saber a verdade.
Bill concorda com a cabeça, e voltamos a nós sentar. Mas dessa vez sou eu que olha para os lados.

- Bem, vou continuar de onde parei. Ela nós disse que como sabia dos planos da ScorKing, de conquistar todas as máfias, eles teriam que mata-la para ninguém mais saber.

Todas??

- Eles também estão nos Lorenzo's?
Bill assente e prossegue.
- Nós ficamos desesperados, e único jeito de deixar sua mãe segura... Era ela sendo maior que eles, casada com o rei dos Velasquez, Alejandro.

Então aquele casal perfeito que eu tanto admirava, simplesmente não existia.

- Na hora ela não concordou, pois disse que seu bebê tinha o direito de saber quem era o pai.

Todo mundo merece saber quem é seu pai, no orfanato o que mais tinha era pessoas que não sabiam. Eu achava tinha sorte de ao menos saber, mas estava errada.

- Conversei com ela, e decidimos que te contariamos quando você tivesse 15 anos. Mas infelizmente, isso não aconteceu...

Eu saberia a três anos atrás... Se eu teria uma reação melhor? Não sei.

Mas pelo menos agora tenho certeza que é verdade, pois o jeito que ele fala dela é lindo, sempre com um sorriso no rosto ou uma lágrima prestes a cair.

E se ele estiver mentindo, atua muito bem.

- Anos depois, eles tentaram...
Bill engole em seco e depois continua a frase.
- Conseguiram, te sequestrar.

Sequestrar?

- Compramos um algodão doce no parque, mas você começou a ficar com sono, mas insistiu que ia continuar brincando, até que não te vimos mais. Eles te pegaram, Julie! Tinham vendido o algodão doce para você dormir. E nós ameaçaram com isso, com você!

O parque... Antes deles morrem tínhamos ido ao parque...

- Disseram que se não entregarmos Luna e todos aqueles que soubessem, iam fazer com você o que iriam fazer com ela... Ia te matar, Julie...

Como eu nunca percebi nada de estranho? Histórias que não batiam, lugares onde eu lembrava estar e não estava mais...

Eu poderia até ser só uma criança. Mas eu não era cega, como pude ser tão ingênua?

- Invadimos a Velasquez, e te tiramos de lá. Íamos fugir com você, mas eles começaram a atirar e a polícia chegou, eu estava pegando dinheiro para a fuga...

O dia de suas mortes.

- Mas eles chegaram primeiro, Alejandro me ligou dizendo que eles estavam perto, estavam chegando.
Bill vira seu rosto para a porta. Não para olha-la, mas para esconder as lágrimas.

- Quando eu cheguei lá, estavam mortos e não pude fazer nada para impedir! Então não se culpe, me culpe! Pois, eu me culpei...
Ele olha para mim e posso ver a sua mágoa nas lágrimas, e sua dor em seus olhos.

- Te tirei daquele maldito guarda-roupa, e fiz coisas horríveis, terríveis, para eles me deixarem viver, para te deixarem viver!

ᴀ ғɪʟʜᴀ ᴅᴀ ᴍᴀғɪᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora