Essa sou eu...
Algumas pessoas me dizem que eu tenho cara de anjo, mas como elas também dizem, só a cara.
Hoje completo 18 anos e finalmente sair desse orfanato, mas não foi por causa de falta de opção que fiquei. Há um tempo atrás decidi esperar a idade, para quando eu saísse podesse seguir com a minha vida.
Agora vou poder sair desse inferno, com essas crianças melosas que ficam esperando uma família cair do céu.
Porém, quando estou prestes a sair, o dono do orfanato me segue.
— Você não quer se despedir?
Como se eu tivesse alguém para me despedir. Perdi todos aqueles que amei, e não fiz laços com ninguém daqui. E ele sabe.
— Não.O homem de cabelo grisalho me dá uma boa, mas pequena quantia de dinheiro para me ajudar. E um brinde infortúnio, uma lição de moral sobre a vida, o que não gostei nem um pouco.
Depois que acaba sigo sem nem olhar para trás. Já perdi tempo demais aqui, tenho que voltar para onde tudo isso começou.
Vou até a parada mais próxima, pegando o ônibus para a minha nova vida.
Me sento em uma cadeira ao lado da janela, apreciando a vista dos altos prédios, iluminados com a luz do sol que acabou de nascer, deixando o céu um pouco alaranjado, que reflete na sua tintura branca.
Mas como tudo na vida, não tem apenas um lado bom, o ônibus vira em uma avenida, com algumas casas de tijolos em morros que conheço bem.
Na verdade, acho que aqueles lugares requintados não é o lado bom, aqui é. A minha casa.
Me levanto, porém quando vou descer, o cobrador me para.
— Tem certeza que quer descer aqui? É uma área controlado pela a milícia!
O homem aparenta preocupado, e logo em seguida murmura para que só eu ouça.
— Traficantes, ladrões...Não é nada que eu não saiba, então não me importo muito com o que ele diz.
— Sim, eu sei.
Digo querendo sair logo, mas o motorista grita de seu acento.
— Então desce!Era exatamente isso que eu ia fazer! É o que tenho vontade de gritar, mas para não arranjar confusão, ainda, desço a passos rápidos.
— Voltei!
Digo para mim mesma, feliz e aliviada. Mas para a minha infelicidade, um mendigo ao meu lado escuta.— Tá falando comigo... Gatinha?
Ele diz nitidamente embriagado, olho ao seu redor e vejo uma latinha de cerveja do seu lado, que logo bebe quando vê que estou olhando.Tento o ignorar por causa da minha falta de paciência, pois se eu fizer alguma coisa ele vai parar no hospital.
Ando em direção da casa que eu costumava morar, e no caminho encontro algumas casas que me recordo, seus donos já não devem mais morar aqui.
Quando chego perto do meu distinto, encontro um homem com um fuzil no caminho, prestes a apontar para mim. Previsível.
— Calma aí.
Digo tão calmamente que até ele se surpreende.
— Tá perdida, princesa?
Faço que não com a cabeça e inspiro lentamente.
— Não, é exatamente aqui onde eu queria estar.— É uma das putinhas do chefe?
Isso só pode ser brincadeira. Respiro mais uma vez para me acalmar e não dá um murro na cara dele.— Claro que não!
Não foi a resposta mais calma, mas foi o que eu consegui dizer sem levar um tiro na testa.— Então o que cê veio fazer aqui?
Já sabia que isso ia acontecer, e como ainda estou com raiva demais para falar, apenas mostro o colar.
— Onde você achou isso?
O homem diz meio confuso, mas já abaixando o fuzil.— Em lugar nenhum, é só uma herança de família, mas acho que você já sabe.
O encaro enquanto ele me observa começando a entender.— Velasquez Fernandes D'Lafruent...
O mesmo sussurra. Esse é o nome da minha família, Valasquez.— Acho que o chefe vai gostar de saber disso... Vamos.
O homem ruivo aponta com a cabeça para que eu o sigam.Como se eu pudesse confiar em qualquer um.— Como vou saber se posso confiar em você?
Questiono o encarando, e logo o homem abre um sorriso.— Você já sabe.
Ele afirma olhando para a tatuagem enorme em seu braço.Sim, ele está certo, eu já sabia. Nela há o V invertido, em meio de outra tatuagem para disfarçar.
O V significa "Velasquez", para ser mais exata, traficante Valasquez. Ele provavelmente trabalha para o novo dono do esquema.
A coisa mais estranha é que durante esse tempo todo não mudou o nome da família, talvez seja algum amigo de meu pai no poder.
— Vem ou não, princesa?
O traficante me chama, mesmo eu não sendo uma princesa, e nem parecida com uma.
— Vamos.Vamos direto para a Toca do Leão, que é como chamamos onde ficam os chefes, no caso "o rei da selva".
— Porque cê voltou?
O homem pergunta curioso, e respondo sem olha-lo.
— Para investigar a morte de meus pais e de Bill... Fazer vingança.Bill... O amigo mais próximo de meus pais, cuidou de mim como se fosse sua filha, ele é como um segundo pai para mim, ou pelo menos era...
— Acho que cê tá com sorte, porque vai ter um a menos para fazer vingança.
Um a menos? Como assim?— O que?
Pestanejo com a hipótese. Não pode ser verdade. É impossível ser verdade. Tento não parecer perplexa, o que falho miseravelmente. É como se eu estivesse sonhando acordada, porém com medo que isso seja apenas um pesadelo.Escuto ele falando algumas coisas, mas não consigo prestar atenção. Alguém está vivo!
— Chegamos!
Essa é a única palavra que consigo ouvir, me trazendo de volta para a realidade.Quem está vivo?
Minha mãe? Meu pai?
Bill?... Bill??...
E aqui está ele, parado em minha frente.
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ᴀ ғɪʟʜᴀ ᴅᴀ ᴍᴀғɪᴀ
AcakJulie Velasquez, a filha de uma máfia. Seus pais eram chefes de um grande esquema, mas foram mortos quando ela tinha apenas 7 anos. A garota acreditou por toda a sua vida que eles foram mortos em um confronto com outros traficantes, e os fatos compr...