Estátua

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Escuto uma voz baixa ao meu lado e tento descobrir de quem é, sendo que a única coisa que consigo ouvir é um "eu sei que existe". Foco na voz e percebo que é de Robin.

Tento me mexer mas é impossível. Sinto como se eu fosse uma estátua viva, ainda frágil, lutando para destruir sua camada grossa de pedra.

Faço força para quebrar essa camada, mas não dá em nada.

Até que percebo algo em minha mão, e tento mexe-la para analisar o que seguro.

Faço mais força ainda, e quando me dou conta, consigo mexer meu dedo. Sem soltar a minha mão, escuto a voz dele perto de mim.

- Julie, você está me ouvindo?
Tento dizer que sim, mas não saí nada, porém a minha boca faz um leve movimento. Tento focar em sua mão na minha, e movo mais três dedos.

Percebo que Robin vai embora e tento abrir os olhos para ver o que está acontecendo. Mas sinto eles pesados, e não abrem.

Ouço gente entrar e sair em passos apressado, quando escuto uma voz rouca, me chamando pelo nome. Tento focar naquela voz, lutando para abrir meus olhos.

- Filha?
Sinto algo em meu rosto e percebo que é a toque delicado de uma mão, e que a voz que me chamava de filha várias e várias vezes, era Bill.

Faço a maior força que já fiz na vida, abrindo os meus olhos devagar, a luz os machuca, e pisco algumas vezes pesadamente, tentando não fechar mais os olhos, que temem em querer pesar.

- Com licença, senhor.
Uma voz que não conheço vem até mim, e seu rosto bloqueia a luz, que faz que eu consiga abrir mais os olhos, e piscar lentamente.

O homem de jaleco branco, começa a checar minha mão, sem ao menos avisar.

Quando ele vai colocar ela em meu rosto, aviso em sussurro para que não faça.
- Se en-encostar, um de... Dedo... Em mim. Eu juro. Que e-eu te...

Ele me interrompe chocado por eu ter falado. Mas falar não é normal? Ou será que ele achava que eu era muda?

- Vá na recepção, e diga para chamarem Hiley.
O homem fala,m ao cara de terno em pé que me observa, percebo pelo a gravata e sua postura perfeita, que é Jean.

Ele me dá um sorriso que eu nunca havia visto antes, e vai chamar a moça. Obedecendo alguém pela primeira vez.

Tento me sentar, mas meu corpo é pesado demais, então só faço um pequeno movimento com as costas.

O médico, enfermeiro, ou sei lá, tenta me ajudar a levantar, ignorando totalmente o que eu disse sobre tocar em mim.

Meu corpo reluta para continuar sentada, e quando consigo, olho ao redor. Bill não está mais no quarto, Robin também, e Jean não voltou.

Continuo olhando e vejo flores em uma bancada, junto com o colar que eu devolvi a Jean.

Ele está louco de deixar isso aqui?

E se roubarem?

Por que eu estou aqui?

Olho para a cama onde eu estava deitada e vejo meu ursinho, Teddy. Na hora fico sem acreditar, e lágrimas ameaçam cair, ao perceber que está exatamente como eu lembrava.

Vou pega-lo e acabo me desequilibrando um pouco, o seguro como se eu tivesse carregado um saco de tijolos, e coloco em meu colo.

O médico olha meus movimentos espantado, mas o ignoro.

Volto a ver o quarto e vejo uma fita vermelha, Cardan. Acho que só agora eu me dei conta, o quanto eu não estou mais sozinha.

Quando vou olhar outro objeto na mesinha, uma moça de cabelos castanhos, em rabo de cavalo, entra no quarto.

- Ela despertou?
O homem faz que sim, ainda me olhando como se eu fosse um novo universo, como algo impressionante, um milagre.

Olho para a moça, e cansada disso tudo, decido falar, é meio difícil, mas sai perfeito.
- Eu tenho nome, é Julie. E agora alguém pode me dizer... O que está acontecendo?
Mesmo com uma a minha pequena pausa, continuo firme.

- Jonas, pegue uma água para a pacien-... Julie.
Ele fica irritado, mas sai a obedecendo, e me deixando sozinha com a moça.

- Você lembra porque veio parar aqui?
Hiley fica em pé em minha frente, e me analisa delicadamente.

Tento me lembrar, e vem flashes em minha mente.

O beco... O carro...

A mão de Robin na minha...

Lorenzo...

- ScorKing.
Simplesmente saí da minha boca quando me lembro. Hiley franze a testa, ficando nervosa, e engole em seco, me fazendo outra pergunta.

- O que é isso?
Invento uma desculpa, dizendo que era o nome do meu hamster de estimação, e que estava com saudade dele, o que é ridículo.

Fico atenta a reação dela, e olha me olha sabendo que é mentira, como se soubesse a verdade.

Depois de longos exames, a médica me deixa fazer o que eu mais queria. Vê-los.
Mas antes de sair mexe em um quadro torto.

- Filha?
Bill entra no quarto assim que ela saí, vindo rápido até mim, tentando esconder as lágrimas me abraça.

Tento retribuir, mas a força que ele me abraça é forte de mais, como se estivesse com medo de me deixar ir.

- Bill...
Ele se afasta me deixando respirar, e percebo seus olhos cheios de lágrimas.

Ao me ouvir chamando seu nome, seus olhos encontram com os meus, e as lágrimas não param de descer.

Levanto meu braço lentamente e levo minha mão ao seu rosto, enxugando a água que escorre em seus olhos.

- Eu estou bem.
Um sorriso largo se abre em seu rosto e me abraça mais uma vez, e nessa consigo retribuir.

Bill se senta na poltrona e me olha sentada na cama, segurando minha mão, dou um sorriso sincero, que nunca mais havia dado para ele, e afirmo.
- Vai ficar tudo bem.

Respiro fundo, tirando o foco do assunto melodico, e pergunto o que me deixa curiosa.

- Por que Robin, e Jean, foram, embora? Eles estão bem?
Se não fosse eu me sentir como uma estátua, falaria rápido, mas soa devagar.

Antes que Bill responda, vejo um pontinho preto em um quadro na parede.

Só pode está de brincadeira.

- Bill, precisarmos sair daqui. Hiley é da ScorKing.
Digo baixo e convicta, mesmo que se ela não seja, ela sabe, e a escuta naquele quadro é prova.

ᴀ ғɪʟʜᴀ ᴅᴀ ᴍᴀғɪᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora