O carro

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Não pode ser um carro qualquer, pois toda rua que viramos ele entrava, e até quando entravamos em um beco, ele aparecia do outro lado.

Paramos em uma rua e também ele parou, quando saímos dela, o carro também saiu.

Com certeza isso não é coincidência.

— Me siga...
Robin sussurra, com medo que eles também possam nós ouvir.
— Se tiver algo haver com a polícia, eu juro que eu te...

Ele me interrompe, completando a frase.
— Me mata?
Mesmo com a situação ele dá um sorriso, totalmente convencido.

— Mando Bill te matar.
Hood revira os olhos e pega em minha mão, me puxando com ele em direção para um beco estreito.

Sem soltar a minha mão em nenhum momento, me leva para outro e depois mais três. Paramos e não vejo mais o carro.

— Robin...
Ele olha em meus olhos, me deixando sem reação.
— Acho que você já pode soltar a minha mão....

Ele olha para a sua que está entrelaçada a minha, e solta rápido envergonhado.

É estranho vê-lo assim.

Olho suas bochechas quase coradas e seguro a vontade de rir. Estaríamos em silêncio absoluto, se não fosse o som do carro chegando perto.

Novamente Hood me puxa para um beco, mas ficamos parados esperando o carro se aproximar.

Eu poderia até dizer que é como aquele dia no baile, mas dessa vez é diferente. Eu que fico em sua frente.

Estamos tão perto que consigo ver a íris de seus olhos azuis, e até ouvir a sua respiração ofegante depois de tanta correria.

Sem deixar de me olhar, ele leva a sua mão lentamente ao meu cabelo, tirando uma mecha.

E nesse momento lembro de...

Jean?

Mas quando sua mão toca em minha pele, sinto algo diferente da reunião com o Lorenzo.

E diferente do que acabou de acontecer, Robin não tem vergonha alguma, e sim alguma outra coisa.

Porém, como naquele baile o garçom agora é um carro, que freia bruscamente perto do beco.

Saio da frente de Robin e recomponho a postura, ele se desencosta do murro e se ajeita sorrindo.

Quando vou sair do beco a porta do carro é aberta, pego a minha arma e atiro na direção da porta, que fecha rápido e a bala acaba batendo no retrovisor.

Minhas balas tem um ímã no retrovisor por acaso??

Robin também sai do beco, pega uma arma e aponta para o carro, mas quando vai atirar ele a abaixa.

Olho para ele surpresa e tenho vontade de mata-lo.

Isso não pode está acontecendo de novo...

E o que eu disse de nunca mais confiar em ninguém?

Por que não consigo cumprir?

Tento me manter inabalada, pois mesmo estando em ruínas, não o darei o gosto de me ver destruída.

Quando miro no motorista a porta de trás é aberta, mudo a mira para quem sai mas o mesmo se abaixa, me fazendo ve-lo.

Robin já tinha o visto antes...

— Que merda você tá fazendo aqui, Bill??
Quase grito e vou em sua direção.

Mais uma vez desconfiei de Robin sem motivo algum.

Bill vem até mim e me abraça, me assusto e sinto algo em minhas costas.

Quando ele se afasta vejo que segura o retrato de minha família, eu, minha mãe, e meus pais.

— O que está acontecendo?
Pergunto e aponto para o retrato, com certeza ele não anda com isso para lá e para cá.

— Jackl...
Ele vê o homem de 22 anos em quem confiava, e se corrige ao lembrar do que ele é agora. Ou o que sempre foi.
— Lorenzo... Está aqui.

Que? Jean não sairia da fortaleza para conversar com Bill, no máximo mandaria outra carta.

— Onde?
Questiono e Robin chega um pouco mais perto, mas preservando a nossa privacidade, sabendo que Bill não confia mais nele. Nem eu sei se eu confio.

— Aqui!
Aponta para o assento do motorista, mas não enxergo nada com o vidro totalmente escuro.

— O que? Ele voltou a ser nosso inimigo?
O mesmo faz que não com a cabeça e me manda entrar.
— E ele?

Aponto com a cabeça para Robin.
— O Lorenzo tem que decidir.
Ele sobe e desce os ombros, como se esquecesse que já comandou uma máfia antes, sem Jean.

Bill abre a porta e entra, mas a fecha antes que eu possa entrar.

Robin vem até mim, querendo me dizer alguma coisa, mas o ex chefe Velasquez abre a porta novamente.

— Ele pode entrar. Mas segundo o Lorenzo... Se contar a alguém, você já pode se declarar morto.
Jean corrige Bill, enquanto Robin entra no carro.

— Se contar a alguém, você pode se declarar morto, e todos aqueles que você ama.
Hood olha para mim, não sei o porque e coloca o sinto.

Quando vou entrar, Jean me impede.
— Na frente, Julie.
Bufo e fecho a porta do carro, abro a outra e entro.
— Você tá mandão hoje em.
Coloco o cinto e ele dá a volta com o carro.

— O que tem na cabeça de vocês para nós seguirem? E por que você saiu da fortaleza?
Ele aponta com a cabeça para Bill, que responde.
— A ScorKing.

Novidade.

Bill respira fundo, tentando se acalmar, pelo visto algo grave aconteceu.
— Eles atacaram a casa hoje, logo depois que você saiu...

Eles me viram saindo e não me mataram? Ou não chegaram a me ver?

— Começaram a atirar e invadiram, atirei em alguns, mas não foi o bastante... Alguns tiros me acertaram e desmaiei mais uma vez...

Sinto a dor de Bill por acontecer a mesma coisa de novo. Não quero perder eu pai mais uma vez...

O carro para no trânsito e Jean olha para mim, ele se inclina em minha direção e tira uma lágrima que nem notei descer, por algum motivo é reconfortante.

Olho para ele que sorri na tentativa de me acalmar, concluído com sucesso sua missão.

Tosses falsas ecoam do banco de trás, então Jean se arruma no assento e viro meu rosto para a janela, os ignorando.

Bill prossegue depois de sua vingança.
— Quando acordei eles não estavam mais lá, fui até Nancy e ela tirou as balas, por já ter sido enfermeira.
Então é por isso que ela sabia exatamente o que estava fazendo.

— Os amigos do Lorenzo chegaram lá e Nancy pegou a arma, já ia atirar neles. Ela boa em tudo que faz...
Olho no retrovisor o seu sorriso bobo e dou uma tosse falsa em troco.

— Quando eles apareceram eu disse onde você estava, Jac... Lorenzo, estava no carro esperando, pois soube dos tiros e quis ver você, mas eu disse que era melhor não.
Jean o corrije de novo.
— Você quis vê-la e eu disse que era melhor não.

Dou um sorriso rápido e o ex chefe prossegue.
— Não faz diferença. Você foi até lá para ver como ela estava.

Ele foi?

— Ficamos esperando você, mas vocês começaram a correr e deu no que deu.
Olho para Bill e depois volto a visão para a pista, um carro em alta velocidade vem em nossa direção.

Jean tenta desviar, mas eu fecho os olhos por impulso.

Percebo o impacto dos carros ao se colorirem, e sinto uma dor de cabeça horrível.

Um zumbido ecoa na minha cabeça e dor enorme consome o meu corpo, que faz parecer que minha alma se desprendeu.

Tento abrir os olhos mais é impossível.

Quando percebo já não estou mais aqui...

ᴀ ғɪʟʜᴀ ᴅᴀ ᴍᴀғɪᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora