Pai

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* Imagem de Cardan.

A porta se abre e Cardan atende, ele está com o braço enfaixado por causa do tiro.

Então foi daí que veio a segunda bala.

Atrás dele vem a mulher que me ajudou, que acho que deve ser apenas um pouco mais nova que Bill.
— Entre.

Ela me chama para entrar, enquanto Bill e Cardan se encaram como dois estranhos. Mas nem por isso, Cardan não deixa de me olhar desconfiado.

Assim que entramos começo a falar.
— Eu sei que já está tarde, mas você disse que "sempre que precisar". Então achei que poderia vim, mas se quiser a gente pode ir embora.

A mulher que suspeito ser mãe de Cardan abre um sorriso simpático.
— Do que precisa?
Bill se vira para ela e respondo.
— Podemos ficar aqui, apenas essa noite?
Ela assente com a cabeça e Cardan me fuzila com olhar.

— Obrigada, ah...
Quando ela ia responder, seu filho diz primeiro.
— Nancy.

Sem mesmo olha-lo reviro os olhos.
— Vocês se conhecem?
Nancy me pergunta, mas o mal educado Cardan responde.

— Não.
Diz frio, mas eu o contradigo.
— Sim.

Bill se intromete mudando de assunto.
— Longa história. Onde iremos ficar?
Cardan já ia falar mais uma vez no lugar da mãe, o que provavelmente não seria algo muito educado.

Porém ela diz primeiro.
— Naquele quarto.
A mesma aponta perto dos armários. Logo em seguida agradeço e vou em direção ao quarto, levando Bill comigo.

Assim que ele passa pela porta a fecho e começo o interrogatório.
— Estamos seguros, agora fala.
O mistério em pessoa analisa o ambiente, fingindo não ter escutado.

— Bill!
Tento chamar sua atenção, mas ele apenas tenta não me encarar e responde olhando para o nada.
— Eu sei, mas não é uma coisa fácil de se dizer.

Não é fácil de se dizer?

Quantas coisas que não eram fáceis de se dizer não foram ditas?

Cada desconfiança, dor, medo e angústia valeu a pena?

Só por causa de algo, que por hesitação ou puro egoísmo não foi dito.

— Ah, claro. Também não é fácil não saber.
Digo e ele se vira para mim, depois prossigo irritada.
— Especialmente com a hipótese de você ter os matados.

— OS MATADO?
Sua voz soa no lugar devido ao seu grito, porém quando lembra que há pessoas que podem ouvir, fala mais baixo.

— Eu nunca a mataria, filha. Nunca.
Bill diz com uma voz melancólica, prestes a cair lágrimas de seu rosto.
— Não me chame assim!
Aumento minha voz, sem me importar com quem ouça.

— Mas é isso que você é Julie! A MINHA FILHA!
Sinto uma pontada em meu peito, mais dolorosa que qualquer tiro, e mais surpresa que uma festa de aniversário.

Não, não pode ser. Alejandro Velasquez é o meu pai!

Com tudo que está acontecendo, nem consigo distinguir se isso é só mais um modo de falar, ou uma verdade oculta...

— Sou seu pai, Julie! Não o Alejandro! Eu!
Lágrimas percorrem meu rosto, como se cada uma rasgasse minha pele, até não sobrar mais nada.

— Estive com isso engasgado na minha garganta, durante todos esses anos!
Bill faz gestos exagerados com as mãos, sem saber se controlar diante de tal situação.

Nem eu sei.

Sou mesmo uma tola! Tudo aquilo que eu achava real na minha vida, simplesmente não existia, era apenas uma grande mentira.

Como aquele que se dizia ser melhor amigo de meu pai, poderia ter amado minha mãe e me tido como filha?

Ao finalmente notar a tempestade em meu rosto, o mesmo se aproxima.
— Já passou da hora de você saber toda a verdade... E eu lhe contar.

ᴀ ғɪʟʜᴀ ᴅᴀ ᴍᴀғɪᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora