10. Ponteiros

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Às cinco da tarde, Jane estava profundamente imersa em um romance, que a transportava para um mundo distante. Enquanto Jane se entregava à trama, sua mãe ao seu lado não compartilhava do mesmo entusiasmo pela leitura, achando tedioso passar tanto tempo lendo e interrompendo frequentemente para pedir ajuda com seus afazeres de crochê.

O som do motor de um veículo parando fez Jane sair da poltrona num sobressalto e dirigir-se à janela. Ao erguer a cortina, viu ele descendo do carro. Jane pegou o livro que havia deixado cair no chão e caminhou até a porta da sala. Ao subir o último degrau, ouviu o barulho da chave abrindo a porta.

Hans entrou na casa, aliviado por estar em um ambiente familiar. Retirou rapidamente o sobretudo e o pendurou no cabide próximo à porta. Ao avistar o casaco cinza ao lado, uma ruga de preocupação apareceu em sua testa, mas logo ele sacudiu os pensamentos incertos. Com passos decididos, dirigiu-se à escadaria central, ansiando por um banho quente para relaxar os músculos tensos.

No quarto, Hans notou a ausência de Jane. Sua cabeça latejava, ecoando a conversa com o Korvettenkapitän Schmidt e alimentando suas preocupações. Decidiu não adiar o banho. A água quente prometia alívio para suas dores e aflições.

Após o banho rápido, Hans envolveu-se na toalha macia, que absorvia o vapor no ar. Diante do espelho embaçado, contemplou seu reflexo por alguns instantes. A palidez de sua pele destacava-se sob a luz suave do banheiro. Esfregou os olhos, tentando dissipar a fadiga acumulada ao longo do dia.

Vestido, Hans dirigiu-se ao escritório no final do corredor. Contudo, algo chamou sua atenção: uma das portas dos quartos vazios estava entreaberta. Hans parou por um momento, contemplando a cena. Bateu duas vezes, sem resposta. A curiosidade dominou-o, levando-o a abrir a porta e espiar dentro do quarto. Para sua surpresa, o cômodo estava vazio, exceto por uma bolsa sobre a cama de solteiro.

Balanceando a cabeça para afastar pensamentos estranhos, Hans fechou a porta do quarto e retomou seu caminho até o escritório. De repente, o som suave do piano ecoou pelo corredor, atraindo sua atenção. Identificou a melodia como sendo tocada por sua tia Charlotte, conhecida por sua paixão pela música. Impelido pela curiosidade, Hans destrancou rapidamente a porta de seu escritório e se dirigiu apressadamente na direção do som.

Ao se aproximar da origem da música, Hans lembrou-se de um detalhe crucial: sua tia Charlotte possuía todas as chaves da casa, como a antiga proprietária. Esse pensamento passou rapidamente por sua mente enquanto ele girava a maçaneta e empurrava a porta, sem o costume de anunciar sua entrada.

Sua tia estava lá, de costas, tocando o piano com delicadeza. Hans ficou surpreso ao vê-la. A música ecoava no ambiente, enchendo-o de emoções desconhecidas. Charlotte parou de tocar e virou-se para ele, sorrindo amplamente como se esperasse sua chegada.

— Que surpresa maravilhosa! — disse ela carinhosamente, levantando-se para abraçá-lo. Ao afastar-se ligeiramente, segurou a face pálida de Hans entre suas mãos e fitou-o intensamente nos olhos.

— Estava com saudades de você, meu querido sobrinho — disse ela com ternura. Hans a abraçou em resposta.

— Vim pessoalmente me desculpar por não ter ido à cerimônia do seu casamento.

O rosto de Hans assumiu uma expressão sombria, e ele prontamente se afastou de sua tia.

— Não precisa se preocupar com esses detalhes insignificantes — retrucou Hans de forma ríspida.

— Parece que você não está tão feliz. Há algo que queira me contar? — Charlotte perguntou, preocupada, enquanto Hans virava-se para encará-la, as mãos nos bolsos da calça.

Pássaros no InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora