08. Não Chores

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Jane estava deitada, coberta por um macio lençol que a envolvia completamente, deixando apenas seu rosto visível. Seus olhos verdes permaneciam fixos nas cortinas, seu corpo ainda sentindo os resquícios da noite anterior. Sua respiração era lenta e pesada, como se estivesse à beira do esgotamento. "Santo Deus, dê-me forças", murmurou ela. Uma solitária lágrima escorreu por sua face direita enquanto afastava as cobertas, bocejando e esfregando os olhos.

Decidiu que não podia mais ficar ali, lamentando-se. Na noite anterior, Jane havia feito uma promessa a si mesma: não permitiria que ninguém a humilhasse novamente. Mesmo sem compreender completamente o motivo, aceitara o casamento com Hans por uma obrigação familiar.

Dirigiu-se a um grande guarda-roupa de madeira e abriu as portas, voltando-se para pegar suas roupas que ainda estavam na mala. Ajoelhou-se e retirou peça por peça, pendurando os vestidos e guardando suas peças íntimas na primeira gaveta disponível.

Ao terminar, escolheu um vestido florido e vestiu-o, em seguida pegou um casaco de lã, passou a mão pelos cabelos e os trançou, amarrando a ponta com uma fita vermelha. Seu estômago roncou; ela precisava comer algo. Respirou profundamente para organizar seus pensamentos.

Ao se aproximar da porta, avistou o vestido de noiva sobre uma poltrona. Segurou a maçaneta e balançou a cabeça, precisava ser forte. Não era mais aquela doce e inocente garotinha; agora era uma mulher.

Seguiu pelo longo corredor decorado com quadros, sem parar para admirar as fotografias. Ao chegar ao topo da escadaria, alisou seu vestido com as mãos e prosseguiu. Um silêncio dominava cada cômodo daquela vasta casa. Do lado de fora, o céu estava magnífico naquela manhã de inverno, com um tom de azul-escuro, enquanto os pássaros cantavam nas árvores.

Caminhou lentamente até a cozinha, onde encontrou Adeline perto da pia, terminando de organizar os pratos no armário. Jane soltou um suspiro tão profundo que esticou os botões do casaco de lã.

— Bom dia, senhorita Furtzmann! — cumprimentou Adeline, interrompendo sua tarefa.

— Bom dia, Adeline — respondeu Jane com voz suave.

Adeline se aproximou da mesa já posta e retirou prontamente a xícara suja.

Jane notou que Hans já havia tomado seu café da manhã e, para sua sorte, não precisaria fazer-lhe companhia. Sentiu alívio ao perceber que ele havia acordado cedo.

A jovem puxou a cadeira e estendeu a mão em direção ao apetitoso bolo à sua frente, enquanto Adeline servia o café em sua xícara. Jane expressou um sorriso amigável como agradecimento, saboreando seu desjejum em completo silêncio.

BASE MILITAR DE HORB

Hans permanecia imóvel ao lado do imponente pilar que marcava a entrada da base, soltando uma fumaça distraída de seu cigarro. Seus olhos fixavam-se no campo vazio diante dele, coberto por um manto espesso de neve intocada, cercado por um alambrado alto cujos arames farpados reluziam sob a luz do sol.

Acima da porta de entrada, um relógio na parede de pedra marcava inexoravelmente o tempo, mostrando que faltavam apenas dez minutos para as nove da manhã. O som distante das rodas de um veículo se aproximando quebrou o silêncio da paisagem gélida.

Sem perder tempo, Hans deu uma última tragada em seu cigarro, deixou-o cair no chão e apagou-o com a ponta de seu sapato preto, cuidadosamente lustrado.

O Korvettenkapitän Schmidt exibia um largo sorriso. O oficial subordinado estacionou o veículo em frente à base, e o superior foi o primeiro a descer. Ele fez a saudação cordial dos membros da SS para Hans.

Pássaros no InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora