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FAZENDA DE GRETE EINSSFELD...
Enquanto os trovões ressoavam ao longe, anunciando a iminência da temporada das chuvas, várias semanas haviam se passado desde a conversa de Grete sobre sua filha Jane. Todos aguardavam ansiosamente o retorno de Klaus com informações cruciais sobre os movimentos soviéticos, naquele meio de junho de 1945.
Mayer, com seu porte sólido e expressão pensativa, escolheu um lugar ao lado de Gordon no modesto ambiente da sala. Enquanto isso, Hans permanecia de pé junto à entrada, seu olhar perscrutando o horizonte com uma seriedade marcante, como se esperasse avistar algo além da paisagem habitual.
Grete, calma e metódica, estava sentada próxima à porta do corredor, onde balançava suavemente em sua cadeira de balanço. Seus dedos habilidosos trabalhavam com o crochê, cada ponto um reflexo de sua concentração enquanto ouvia os sons distantes da tempestade se aproximando.
― Não consigo entender ― resmungou Joseph, com receio na voz.
Gordon meneou a cabeça, curioso sobre as palavras de Joseph, incrédulo e revoltado.
― Tudo foi uma mentira ― respondeu prontamente, chamando a atenção de todos.
Mayer soltou uma risada debochada.
― A vida não é um conto de fadas. Aceitem, será melhor.
― Aceitar a derrota? Mayer, estamos presos aqui, esperando por uma notícia que nos liberte ― desdenhou Joseph.
Um breve silêncio caiu sobre eles, apenas o ruído da cadeira de balanço de Grete ecoava. Hans estava distraído, arfando em seus pensamentos.
― Pelo menos estamos vivos. Devíamos ser gratos por isso ― a voz rouca de Hans quebrou o silêncio. ― Se tivéssemos ficado no campo, talvez não sobrasse nada de nós.
― Hans tem razão ― concordou Mayer.
Joseph, cheio de energia e um toque de rebeldia, estava prestes a entender as proporções épicas daquela guerra. Ele resmungou baixo, absorvendo cada pensamento e sentimento.
― Lutamos com toda nossa alma pelo Führer, vivemos seus ideais por anos. Agora é hora de voltarmos cabisbaixos para nossos lugares e continuar de onde paramos ― disse Gordon.
― Não podem estar falando a verdade! ― rebateu Joseph, inflamado. ― Então é assim, vamos nos render tão facilmente?
― Ainda é jovem, Joseph ― respondeu Mayer, encarando-o. ― Mas precisa entender que perdemos a guerra. Acabou. Entenda isso.
― Covardes ― acusou.
Joseph despertou, seus olhos faiscando com uma ira incontrolável. A vontade de despejar palavras afiadas pairava no ar, mas ele se conteve e saiu da sala de jantar com intensidade avassaladora. Mayer tentou acompanhá-lo, mas Gordon segurou seu braço firme, impedindo-o.
― Deixe-o, ele precisa ficar sozinho um pouco ― disse Gordon.
― Não entendo essa revolta agora. Há algumas semanas ele estava conformado, até disse que voltaria para Berlim para reencontrar sua namorada... ― disse Mayer.
― Confuso ― interrompeu Hans, voltando-se para Mayer. ― Joseph é jovem. Está inconformado, mas logo passará.
Hans sabia que nervosismo e ansiedade eram inimigos de um homem sensato. Ele esperaria a carta de Klaus antes de planejar sua partida para Augsburg.
― Homens ― resmungou Grete, desviando o olhar do crochê. ― Sempre tão impulsivos.
Gordon e Mayer, observando a prontidão de Hans, levantaram-se rapidamente, prontos para se unir a ele na batalha que se aproximava. No entanto, Hans fez um gesto enérgico para que ficassem onde estavam, confiando em sua própria valentia.

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Pássaros no Inverno
Storie d'amoreDurante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha nazista e o mundo são envoltos em uma tormenta de trevas, sofrimento e fúria. Em meio ao caos, a vida de Jane Anne Schoreder sofre uma reviravolta surpreendente e todos os seus sonhos desmoronam. Jamais p...