01. A Rosa Entre os Espinhos

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Naquela tarde de quinta-feira, sob o sol frio que se despedia lentamente no céu azul de Amöneburg, o Leutnant August Fritz Schroeder acomodou-se na varanda. Seus olhos atentos e preocupados seguiam cada movimento de sua filha Jane, que brincava animada com uma bola, enquanto seu irmão, Engler, era alvo de suas travessuras.

Uma sombra de inquietação delineava-se no rosto de Fritz, com sobrancelhas franzidas e lábios apertados. Silenciosamente, ele observava a cena, soltando ocasionalmente um resmungo de descontentamento, enquanto seus pensamentos tumultuados ecoavam na tranquilidade da tarde.

— Não percebi o quanto Jane cresceu.

— É verdade, querido. Você anda ocupado demais com as tropas do Führer — desdenhou Rose, sem desviar a atenção do crochê. — Ela completou vinte anos na última segunda-feira.

Fritz surgiu, segurando uma carta amassada. Rose, com um olhar de esguelha, notou as mãos trêmulas do marido. Um vento gelado soprou suavemente no rosto de Rose, que abandonou o crochê e fixou seu olhar em Fritz.

August Fritz sempre fora bom em esconder suas emoções, mas o nervosismo evidente lhe causava preocupação.

— Há algo que queira compartilhar? — perguntou, pegando-o de surpresa. Fritz acenou levemente com a cabeça e levantou-se.

Antes de entrar, lançou um último olhar para seus filhos se divertindo no quintal. Fritz estava cansado de ser apenas um soldado obediente e de não desfrutar da vida ao lado da família.

— Vamos! Entrem logo, está ficando tarde! — berrou Fritz, mas seu tom era diferente.

Rose, imóvel, contemplava os resmungos do marido enquanto seguia até a entrada. A velha serviçal da família já finalizava o jantar. Os filhos aproximaram-se da entrada, sob o olhar vigilante de Fritz, que segurou o braço gracioso de Jane, fazendo-a parar. A jovem sorriu largo, e ele sentiu como se um soco lhe roubasse o ar. Rapidamente, soltou-a para ela continuar seu trajeto.

Sua esposa o encarou estupefata. Ele vinha se transformando e agindo de maneira peculiar desde que retornara de sua última reunião em Berlim. Fritz permaneceu imóvel junto à porta, com uma expressão abatida. Rose passou por ele e pousou a mão no ombro dele.

— Não gosto de te ver assim, meu querido — disse ela calmamente, fazendo com que ele a encarasse. — Te conheço muito bem para saber que algo está perturbando sua paz. Se quiser, podemos conversar antes do jantar.

— Não é nada, apenas estou cansado da viagem.

Indignado e sem conseguir encarar sua esposa por mais um segundo, Fritz afastou-se com passos firmes e rápidos. Ele marchou em direção à escadaria central. Cada degrau que subia refletia sua irritação crescente. Ao alcançar o topo, seguiu pelo corredor estreito, como se estivesse em uma missão.

Finalmente, Fritz chegou ao quarto e, num gesto de puro descontentamento, fechou a porta com força. Apoiando-se nela, sentiu uma onda de frustração invadir seu corpo. Deixando a carta cair no chão, não conseguiu conter a angústia que tomava conta de sua mente. Cobrindo o rosto com as mãos, tentou abafar a avalanche de sentimentos que o sufocava.

A situação era tensa e a raiva de Fritz estava à flor da pele. Seu quarto, que costumava ser um refúgio, agora parecia um cenário desolado e cheio de desentendimentos. Aquele momento marcava um ponto de ruptura em sua relação, um ponto que ele não sabia se conseguiria superar.

— Não pode ser! — resmungou incrédulo, com os olhos cheios de lágrimas. Sentou-se no chão, pegou novamente a carta com o selo nazista e releu cada linha atentamente.

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