12. Ecos Distantes

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Totalmente exausto, Hans afundou na confortável cadeira e entregou-se ao sono. Subitamente, foi despertado pela suave voz de Jane, clamando desesperadamente por sua ajuda. Vasculhou cada canto da sala em busca dela, mas não encontrou nenhum sinal da jovem. Uma onda de tremor percorreu seu corpo quando a voz de Jane repetiu as mesmas palavras, intensificando sua ansiedade.

Relutantemente, tentou escapar da situação, mas seus pés pareciam estar firmemente ancorados ao chão, como se presos por forças invisíveis. A voz de Jane ecoou uma última vez, seguida por um trovão ensurdecedor que fez a mesa de ferro ao seu lado tremer.

Saltando da cadeira, Hans ofegante fechou os olhos e colocou a mão sobre o coração. Graças aos céus, tinha sido apenas um terrível pesadelo. Caminhou apressadamente até seu quarto, determinado a certificar-se de que Jane estivesse a salvo. Ele nunca se perdoaria se algo terrível acontecesse a ela.

Apesar de não ter sentimentos amorosos por Jane, Hans tinha um instinto protetor em relação às pessoas ao seu redor. Subindo as escadas às pressas, quase tropeçou.

Ao abrir a porta do quarto, deparou-se com Jane sentada na cama, abraçando os joelhos e tapando os ouvidos. Ao tocar em seu braço, assustou-se com o grito estridente que ela soltou, fazendo-o recuar.

— Está tudo bem? — perguntou, encarando-a. Jane estava com o rosto vermelho e os olhos marejados, evidenciando que não estava bem. — Você tem medo de trovões? — indagou, tentando não parecer invasivo.

Num instante de profunda melancolia, ela soltou um suspiro carregado de sentimentos conturbados, enquanto seus olhos buscavam refúgio em um canto desolado do quarto.

— Não é da sua conta — respondeu com um tom um tanto ríspido.

— Sim, é da minha conta, somos casados agora, e acho que mereço um pouco de respeito. Até agora tenho sido bom para você, não é? Não quero ser rude, mas...

Decidindo manter uma certa distância, permitiu que ela se adaptasse gradualmente à nova realidade do casamento, respeitando seus limites. Enquanto isso, ela agia como uma fera selvagem ferida, ainda não totalmente pronta para se entregar.

— Está tudo bem por aqui? Ouvi um grito — Charlotte averiguou, parada à porta, para alívio de Jane.

Hans desviou o olhar da tia, deixando-a perplexa, e abandonou o quarto com passos decididos. Charlotte ergueu uma sobrancelha, mergulhada em confusão, e dirigiu seu olhar intrigado para Jane.

— Sim, apenas esses trovões... Tenho pavor desses sons, não consigo dormir em noites de chuva — Jane respondeu chorosa.

— Pobre criança! — Charlotte disse, sentando-se na beirada da cama e gesticulando com as mãos para que Jane se aproximasse. Jane obedeceu e se ajeitou nos braços de Charlotte.

— Também tinha medo de trovões quando era jovem... — Charlotte disse com a voz serena, enquanto Jane a observava. — Mas com o passar dos anos, esse medo vai embora. Hoje posso lhe confessar que até gosto de ouvir o barulho dos trovões.

— Rezo para que isso passe — murmurou Jane com a voz baixa, como num sussurro.

— Passará sim. É uma jovem corajosa, precisa aprender a enfrentar seus medos. E não deveria ter sido tão rude com Hans, pois ele só quer o seu bem. Deveria dar-lhe carta-branca, já que ele está se esforçando para fazê-la se sentir em casa — disse Charlotte, enquanto afagava os cabelos loiros da jovem.

Charlotte persistia em acalentar Jane, dedicada a acalmar seus receios diante do medo dos trovões. Sua mente fervilhava, buscando maneiras de ajudar a jovem a superar sua aflição. Embora pensasse em contar histórias ou cantar uma canção, sabia intimamente que essas tentativas não seriam suficientes. A coragem necessária para enfrentar seus medos deveria brotar do íntimo de Jane. Com gestos delicados, Charlotte continuava a acariciar os cabelos loiros da moça, ansiando que os trovões se tornassem apenas uma lembrança distante.

Pássaros no InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora