35. Lembranças

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À medida que caminhavam juntas, Adeline compartilhava com Jane os acontecimentos do dia e um pedaço de sua própria história. Contou como por acaso se inseriu na rotina dos Furtzmanns, sendo recebida com constante respeito e afeto, algo incomum para muitas mulheres que desempenhavam o papel de empregadas domésticas.

Ao dobrarem a esquina em direção à lanchonete, foram surpreendidas por Edite Schneider saindo do local, acompanhada por uma jovem de aparência marcante. Seus cabelos negros, longos e sedosos estavam presos com uma fita vermelha, adicionando um toque de mistério ao seu olhar penetrante, que brilhava em um tom de azul-turquesa.

― Que boa surpresa! ― cumprimentou Edite, agarrando Jane.

― Como está? ― disse a jovem, ainda presa nos braços de Edite.

Edite soltou um suspiro profundo, seus lábios curvando-se em um sorriso constrangido. Ainda ecoavam em sua mente as palavras fervorosas que gritara contra seu marido na última festa na casa de Schmidt.

― Pois é, estive muito ocupada e, com a partida de Marek para Munique, fiquei atarefada... Aliás, esta é minha filha, Agatha ― disse, segurando o braço da jovem e a puxando para apresentá-la a Jane. ― Vamos, não seja tímida.

Agatha levantou os olhos e encarou Jane, um sorriso tímido se formando em seus lábios. Naquele instante, Jane sentiu como se voltasse à sua adolescência, quando também era insegura e cheia de timidez. Com um gesto decidido, estendeu a mão em direção à jovem à sua frente, que prontamente aceitou o convite e retribuiu o gesto com entusiasmo.

― Muito prazer, sou Jane Fürtzmann ― apresentou-se.

A jovem sorriu encantada, tendo sido apresentada por sua mãe. Edite virou o rosto e seus olhos se fixaram em Stephan, que estava em cima do muro, com o rosto colado no vidro, espiando curiosamente para dentro da lanchonete.

― Quem é essa linda criança? ― perguntou Edite, curiosa.

Ao voltar-se para Stephan, Jane o encontrou imóvel, como se tivesse sido hipnotizado pelo vidro, seu rosto tão próximo que parecia tentar desvendar os segredos ali contidos.

― Este é um primo de passagem ― respondeu, voltando seu olhar para Edite.

― Entendo! Bela criança ― disse Edite, mostrando um sorriso singelo. ― Aliás, Bertilda me contou que você está grávida, meus parabéns, querida ― acrescentou, abraçando novamente Jane, que se sentiu esmagada pelos braços de Edite.

Ao se afastar, Edite lançou um olhar furtivo para sua filha, que se mantinha imóvel logo atrás dela, segurando um livro de capa vermelha com delicadeza.

― Claro, será um prazer ― respondeu.

Eles caminharam animados até a confeitaria, que se mostrava tentadora apenas duas lojas depois da lanchonete. Ao chegarem, escolheram uma das mesas próximas às grandes janelas abertas, permitindo que a brisa da tarde acariciasse seus rostos. O lugar era um verdadeiro refúgio aconchegante, com uma mesa ocupada por um grupo animado de senhoras compartilhando risadas em outra.

Enquanto Stephan aguardava ansioso pelos seus pedidos, ele não resistiu e começou a brincar com os porta-guardanapos da mesa ao lado, criando pequenas esculturas divertidas. Adeline, por sua vez, se encantava com a beleza das flores nos vasos pendurados próximos à porta lateral, observando cada pétala delicada e imaginando a história por trás de cada uma delas.

Nesse momento, uma moça loira de cabelos soltos se aproximou da mesa, trazendo consigo um sorriso largo e contagiante. Com muita simpatia, ela anotou os pedidos de cada um.

Pássaros no InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora