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Naquela tarde, o casaco de lã abraçava Jane, envolvendo-a em calor reconfortante sobre seu simples vestido cor-de-rosa. Seus olhos fixavam-se no jardim coberto por espessa camada de neve, enquanto Stephan se movimentava freneticamente.
Um sorriso tímido brincava nos lábios de Jane ao tocar delicadamente seu ventre, embora nenhum sinal visível de gravidez estivesse presente.
Num piscar de olhos, a vida de Jane mudou: casamento arranjado com um desconhecido e a angustiante notícia do desaparecimento de seu pai. Mergulhada numa espiral de tristeza, seu coração apertava-se ao pensar em seu pequeno irmão, Engler. Sua mãe, após ofensas cruéis por Fritz ter desaparecido atrás das linhas inimigas, proibiu-a de visitar sua família.
O espetáculo das árvores dançando ao sopro do vento contrastava com o céu cinza-escuro, como se estivesse prestes a desvendar um enigma. O vento sussurrava suavemente, como se ansiasse por contar algo.
— Oh, Jane, Jane... — exclamou Stephan com entusiasmo, sua voz ecoando pelo jardim.
Surpreendida, Jane correu ao jardim, sentindo seu coração disparar como se quisesse escapar do peito. Ao avistá-lo sentado perto do arbusto sem expressão de tristeza, a tranquilidade tomou conta de seu corpo.
— Olha só — disse ele, cheio de entusiasmo, apontando para um pequeno casulo marrom pendurado em um galho congelado. — Olha o que descobri.
Um sorriso encantador abriu-se no rosto de Jane ao colocar a mão sobre o peito emocionado. Aproximou-se de Stephan, curvando-se com admiração genuína para contemplar o magnífico casulo de borboleta.
— Que descoberta incrível! — exclamou, arrancando um sorriso do menino.
— Prima Jane, que é esse bicho? — indagou, franzindo o cenho e sentindo o rubor invadir suas bochechas.
— Olhem só o que temos aqui! É uma pequena lagarta prestes a se tornar uma linda borboleta — exclamou o observador, um sorriso iluminando seu rosto.
— O que é uma lagarta? E por que ela se tornará uma borboleta? — disparou Stephan, demonstrando curiosidade incessante.
Jane arqueou as sobrancelhas, enquanto Stephan mantinha expressão intrigante e divertida em seu rosto redondo. A curiosidade estampada nos olhos de Stephan era tão cativante que Jane não conseguiu conter um sorriso.
— Que tal irmos para a sala de visitas e, enquanto tomamos um chocolate quente, eu te conto como isso é possível, o que acha?
— Com biscoitos de avelã? — perguntou o menino, entusiasmado.
― Claro! Mas precisamos nos apressar antes que esfriem — respondeu com um sorriso.
Stephan se ergueu em um pulo e partiu em disparada em direção às portas dos fundos. Jane o seguiu de perto. Ao alcançar a entrada dos fundos, viu Adeline meticulosamente organizando as louças no armário da cozinha.
― Adeline, você poderia nos providenciar chocolates quentes e alguns biscoitos de avelã?
Adeline interrompeu sua atividade e voltou-se para Jane, que estava parada na porta com um sorriso radiante, algo que não presenciava há um bom tempo. A empregada enxugou as mãos no avental preso à sua cintura, concordando com um aceno de cabeça.
― Claro, com muito carinho! — respondeu, retribuindo o sorriso.
― Estaremos na sala de visitas.
― Está bem, vou levar alguns minutos — disse Adeline.
Jane agradeceu e adentrou o corredor estreito que levava ao hall de entrada da casa. Com cautela, girou a maçaneta da porta. Stephan, ansioso, estava sentado no sofá. Seus olhos brilhavam de curiosidade, ansiando por descobrir como a lagarta se transformaria em uma linda borboleta. O coração de Jane começou a bater descompassado; seus joelhos fraquejaram levemente e ela se viu paralisada por alguns instantes, segurando a porta.
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Pássaros no Inverno
RomanceDurante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha nazista e o mundo são envoltos em uma tormenta de trevas, sofrimento e fúria. Em meio ao caos, a vida de Jane Anne Schoreder sofre uma reviravolta surpreendente e todos os seus sonhos desmoronam. Jamais p...