04. O Bilhete Rasgado

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Os ventos gelados ganhavam força do lado de fora, soprando flocos de neve contra as janelas enquanto Jane permanecia imóvel na sala de visitas, seus olhos fixos no vitral colorido que filtrava a luz do inverno. Cada matiz e sombra da paisagem gelada parecia cativá-la, absorvendo cada detalhe do espetáculo da natureza.

Suas mãos tremiam levemente sob a tensão do momento, embora ela tentasse disfarçar a emoção. Com astúcia, as escondeu dos olhos atentos de sua mãe, Rose, cujo olhar perspicaz a observava como uma águia espreitando sua presa.

― Está tão pálida, querida ― indagou a velha costureira, Katharine, encarando-a com serenidade.

― Ora, não diga bobagem, Katharine! Jane está ótima. Irá se casar com um homem importante. Amanhã, estará a um passo de se tornar a Sra. Furtzmann ― interveio Rose.

Naquela sala, reinava um silêncio. Rose parecia absorta em algo que acontecia lá fora, enquanto Katharine finalizava os nós delicados do vestido de renda branca, que havia sido usado por ela no dia em que se uniu a Fritz.

Para completar o visual, Jane escolheu uma tiara de flores que harmonizava com o belo buquê de tulipas vermelhas que seguraria. No entanto, estava alheia à agitação ao seu redor, perdida em seus próprios pensamentos.

Seus olhos verdes vagavam sem rumo. Na véspera do casamento, deveria transbordar de felicidade, mas exibia um semblante abatido, uma aparência mais magra e juvenil.

Nos últimos dias, sua alimentação ficou prejudicada pelo nervosismo avassalador de estar noiva de um completo desconhecido. Aos poucos, começava a se acostumar com a ideia, especialmente porque todos ao seu redor não paravam de comentar sobre a elegância de se tornar a esposa de um oficial alemão de alta patente.

― Está tão magnífica quanto uma boneca de porcelana ― elogiou a costureira, mostrando um sorriso amável.

Jane olhou para Katharine, apreciando suas palavras gentis que ecoavam em seu coração. Sentia-se como uma peça em um jogo, manipulada pelas mãos invisíveis dos outros.

A ideia de se casar com um homem praticamente desconhecido a aterrorizava, mas não tinha escolha. Era uma questão de honra e obediência à sua família, uma responsabilidade que pesava sobre seus frágeis ombros.

Enquanto todos ao seu redor discorriam sobre a importância de se tornar a esposa de um oficial alemão, Jane sentia uma angústia profunda consumindo-a por dentro. Não sabia se era o frio cortante do vento gelado ou o medo do desconhecido que tomava conta de sua mente.

Apesar de suas dúvidas e receios, sabia que teria que enfrentar seu destino de frente e seguir em frente. O dia do casamento se aproximava rapidamente e não havia espaço para hesitação.

Com um suspiro profundo, ergueu-se de sua cadeira e se uniu às outras mulheres que se preparavam para o grande dia. Antes que pudesse expressar seus sentimentos, o som das batidas na porta chamou a atenção das três.

Rose girou elegantemente sobre seus calcanhares e dirigiu-se à porta, abrindo-a lentamente. Para sua surpresa, seu marido, Fritz, estava ali, com uma expressão impaciente.

― Katharine, por gentileza, termine logo esses preparativos, irei me ausentar por alguns minutos ― informou Rose com a voz um pouco grave.

A costureira concordou com um aceno e voltou sua atenção para o que estava fazendo, com medo de furar o dedo novamente. No entanto, assim que a porta se fechou, a jovem soltou um gemido que atraiu a atenção de Katharine, que parou de costurar a borda do vestido de renda deslumbrante.

Pássaros no InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora