03. Único Destino

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Jane observava do lado de fora enquanto o pequeno Engler brincava freneticamente, empunhando uma vareta como se fosse uma espada valente. A alegria dele irradiava pelo ar, enchendo o ambiente com uma energia contagiante.

A tranquilidade foi abruptamente interrompida pelo som inoportuno de batidas na porta. Jane endireitou-se imediatamente e virou na direção do ruído, seu coração pulsando acelerado ao encontrar o olhar nada amistoso da mãe. O rosto de Rose estava crispado em uma expressão de desaprovação clara, os lábios apertados e os olhos faiscando de irritação.

— Meu Deus! Você ainda não está pronta? — alarmou-se Rose, lançando um olhar furioso.

Jane examinou suas roupas rapidamente.

— Há algo errado com meu traje? — arriscou perguntar.

— Isso foi uma pergunta? Está me desafiando, Jane Anne Schoreder? Troque de roupa antes que eu perca a paciência — ameaçou Rose.

Lutando contra as lágrimas, Jane dirigiu-se ao guarda-roupa e agarrou um vestido novo que seu pai havia dado no verão. A sensação de opressão aumentava, mas ela sabia que precisava se libertar daquela situação.

Sentou-se na cama, descalçou os sapatos e trocou de roupa. Contemplou o teto por um momento, traçando um plano de fuga para Berlim após um casamento indesejado com um estranho chamado Hans Fürtzmann.

Jane fechou os olhos por um instante, permitindo que uma lágrima solitária escapasse. O som de algo batendo na madeira a fez pular, com os nervos à flor da pele.

Vestiu-se às pressas, lutando com os botões, enquanto um corvo grasnava na janela. Com raiva, atirou seu sapato na ave, que escapou por pouco.

— Que diabos! — resmungou, furiosa, correndo para a janela, mas o pássaro já tinha desaparecido.

Engler, observando tudo com medo e fascinação, advertiu Jane brincalhando com o sapato.

— Vou contar para o papai que você tentou me acertar com seu sapato, Jane! — berrou o menino.

— Vou arrancar sua língua — ameaçou Jane, gesticulando para ele, que correu para fora.

Determinada a alcançá-lo, Jane terminou de se vestir às pressas e saiu correndo atrás de Engler antes que ele alcançasse a sala. No topo da escadaria, avistou sua mãe perto da porta, o que a fez paralisar por um momento. Ela cogitou voltar, mas ouviu a voz de sua mãe chamando Engler. Jane segurou firme o tecido do vestido, o coração acelerado.

— Está surda? — vociferou Rose aos pés da escadaria.

— Desculpe, esqueci meu prendedor de cabelo no quarto — justificou-se Jane, virando-se na direção de sua mãe.

— Vá pegar e não demore — ordenou Rose, virando-se para Engler. — Vá trocar de roupa, Engler. Está todo sujo — grunhiu, segurando a gola do menino de apenas um metro e meio de altura. — Vamos!

Jane ficou paralisada no topo da escada, observando a cena com um sorriso sarcástico. Com passos decididos, dirigiu-se ao seu quarto, segurando o riso que ameaçava escapar.

Logo depois, desceu as escadas, sabendo que todos a aguardavam na sala de visitas, localizada no final do estreito corredor. Seu coração batia freneticamente, rezando para que o estranho ainda não tivesse chegado.

Com uma batida firme na porta fechada, aguardou ansiosamente a permissão de seu pai para entrar, segurando com força a maçaneta oval enquanto murmurava uma prece mentalmente. A ansiedade consumia Jane, sabendo que sua mãe não estava satisfeita.

Pássaros no InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora