23. Dores da Alma

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Os ventos gelados dançavam com as árvores, criando uma cena mágica. Jane permanecia imóvel, hipnotizada pelo espetáculo do pôr do sol. Uma brisa leve e fria acariciava seu rosto, arrepiando todos os pelos do seu corpo.

Seus olhos se perdiam na infinita variedade de cores que preenchiam o bosque, enquanto um sentimento de inquietação tomava conta dela, fazendo quase duas semanas desde a última vez que recebeu notícias de Hans.

Ela suspirou lentamente, desviando seu olhar para o livro que repousava em seu colo, tentando mergulhar na história de amor contida nas páginas. Mas foi novamente distraída pelo som do vento sussurrando nas folhas das árvores. Jane apertou com força seu amuleto sagrado, pendurado delicadamente em seu pescoço.

De repente, Adeline apareceu na sala com uma bandeja decorada, trazendo uma xícara fumegante de café e alguns biscoitos. A jovem patroa havia se recusado a almoçar, preocupando a criada com sua saúde.

― Senhorita, vim lhe trazer um pouco de café e alguns biscoitos, pois notei que nem sequer mexeu no prato na hora do almoço.

A suave voz de Adeline cortou o silêncio. Jane virou-se para trás e agradeceu com um leve sorriso.

― Obrigada, Adeline, mas estou sem fome.

Adeline caminhou até a mesa, depositando a bandeja com delicadeza. Em seguida, afastou-se lentamente até chegar à porta, deixando Jane imersa em seus pensamentos e naquele silêncio gélido do pôr do sol de inverno. Com um movimento hesitante, Jane inclinou a cabeça para o lado e, com relutância, pegou a xícara, soprando suavemente algumas vezes antes de saborear o café.

Seus olhos se fixaram no céu alaranjado e um sorriso desabrochou em seus lábios. Enquanto bebericava o café, uma onda de náusea repentina se apoderou de seu estômago, embrulhando-o de forma desconfortável. Ela fez uma careta e tampou rapidamente a boca ao colocar a xícara de volta na mesa. Jane contemplou o céu, agora escuro e repleto de estrelas.

Os dias de inverno sempre pareciam tão curtos, e os ventos aumentavam sua intensidade rapidamente. Ela segurou o livro com firmeza, ansiosa para mergulhar em suas páginas.

A escuridão da noite envolvia seu quarto e os sons que ecoavam pela janela a deixavam animada, uma sensação que há tempos não experimentava. Um arrepio percorreu sua espinha quando percebeu que, no fundo, sentia falta de Hans, o homem por quem jurara nunca entregar seu coração.

Uma risada nervosa escapou de seus lábios enquanto desviava o olhar do livro e suspirava profundamente, sentindo o peso da saudade.

O eco das batidas na porta interrompeu bruscamente seus devaneios, fazendo-a voltar à realidade. Seu coração chegou a palpitar, alimentando a esperança de que pudesse ser Hans, mas não era ele. Era apenas Adeline, trazendo consigo uma pitada de decepção e frustração.

― Senhorita, tem visitas — informou ela.

Jane lançou um olhar confuso para a empregada. Mas quem seria a visita? Afinal, já passava das sete e meia da noite; não era hora para receber convidados. Agradecendo a Adeline, a empregada apenas moveu a cabeça e se afastou lentamente, desaparecendo pelo corredor como uma sombra.

O coração de Jane quase parou, lembrando-se das palavras de sua mãe sobre visitas noturnas serem presságios de problemas, principalmente em tempos de guerra. Com pressa, a jovem caminhou até a sala de visitas, suas mãos tremiam de impaciência. Respirou fundo e finalmente adentrou o cômodo.

Ao ver sua tia Andrea sentada no pequeno divã e o pequeno Stephan brincando próximo à lareira, Jane sentiu seu coração se acalmar. Andrea se levantou ao notar Jane ainda parada junto à porta, segurando a maçaneta. Caminhando em direção à jovem, a tia a envolveu em um abraço caloroso, como se quisesse afastar todos os temores e incertezas que a noite trouxera.

Pássaros no InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora