42. Resista

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Enquanto se aproximavam furtivamente da entrada do acampamento, o coração dos três batia descompassado, conscientes de que qualquer movimento em falso poderia desencadear uma resposta violenta. Subitamente, uma equipe de cinco soldados emergiu da escuridão, cada um imponente e com semblantes obscurecidos pelas sombras.

Armas apontavam em sua direção, enquanto gritos estridentes cortavam o ar noturno, ecoando ameaças de um destino sombrio.

Artur e Herbert, sentindo a tensão no ar, ergueram as mãos lentamente, clamando por paz em meio ao caos iminente. A troca de olhares nervosos revelava o entendimento tácito de que cada movimento e palavra poderiam selar seu destino de forma irrevogável.

— Sou o cabo Randolph, de Munique — gritou Herbert. — Estamos voltando de uma das vigias e encontramos este oficial ferido.

Ao ouvirem as palavras, o oficial encarregado da guarda do acampamento fez um gesto para que os demais soldados abaixassem as armas e se aproximassem para prestar auxílio.

— Qual é o nome desse oficial? — perguntou o responsável pela guarda.

— Quando o encontramos, já estava inconsciente. Ele tem um ferimento no ombro esquerdo e um corte profundo na perna. Estava sob a mira de um soviético — respondeu Herbert.

— Levem-no para a tenda do médico. Rezemos para que sobreviva. E tragam notícias sobre de onde ele veio e quantos inimigos ele enfrentou. Vamos, rapazes, precisamos terminar a ronda pelo acampamento — ordenou o oficial.

Artur e Herbert conduziram Hans até a tenda do médico, localizada no coração do acampamento. Ao entrarem, depararam-se com uma cena desoladora: mais de quinze soldados deitados em camas improvisadas, parecendo abandonados.

O médico responsável era Hélder Hammersham, um homem de Nuremberg, baixo e rechonchudo, mas exalando sabedoria e experiência. Seus cabelos brancos conferiam-lhe um ar distinto e respeitável.

— Deixem-no naquela cama do canto esquerdo — apontou o médico sem ao menos olhar para os dois homens.

Obedecendo às ordens, posicionaram o corpo de Hans sobre uma superfície áspera coberta com um lençol improvisado. Assim que saíram da tenda, Dr. Hélder se aproximou do recém-chegado, que gemia baixinho. Ajustando os óculos no nariz afiado, examinou atentamente os ferimentos.

— Pobre homem, atingido bem no meio do ombro. Deve estar sentindo uma dor infernal — disse enquanto retirava a tala improvisada. Pressionou o ferimento, fazendo Hans urrar de dor. Sacudiu a cabeça e decidiu — Já sei o que fazer. Aguente firme.

Dirigiu-se à enfermaria e pegou seus instrumentos: um frasco reluzente e um pedaço de ferro afiado. Encheu um balde com água cristalina e trouxe uma toalha macia. Chamou dois soldados para auxiliá-lo. Artur e Herbert, ainda do lado de fora, prontificaram-se.

— Do que precisa, doutor? — perguntou Herbert.

— Preciso que segurem o grandalhão. Vou extrair a bala e fechar o ferimento com ferro quente.

Herbert e Artur se entreolharam, surpresos.

— Vamos, não temos o tempo todo — resmungou o médico.

Hans estava em estado lamentável, com a farda rasgada e suja. O médico limpou a área suja do rosto e colocou uma toalha na boca de Hans para evitar que quebrasse os dentes ou mordesse a língua durante o procedimento.

Com gestos enérgicos, o médico instruiu os rapazes a segurarem firmemente os braços e a cabeça de Hans. Despejou um líquido ardente sobre o ferimento. Hans abriu os olhos e tentou se debater, mas Herbert e Artur o mantiveram imobilizado.

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