24. Frente ao Abismo

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Hans observava atentamente os prisioneiros trabalhando na pedreira, destroçando as rochas com suas picaretas em uma coreografia ritmada. O vento gelado soprava, trazendo consigo pequenos flocos de neve que dançavam pelo ar. Com a exaustão estampada em seu rosto, Hans colocou o cigarro entre os lábios e deu uma longa tragada. A insônia corroía seus ossos há quase três noites, privando-o até mesmo do descanso mais básico.

Soltando a fumaça, ele se apoiou no corrimão de ferro enquanto coçava o queixo, tentando se manter acordado. Por sorte, a pequena dose de cafeína que ingerira minutos antes começava a fazer efeito, trazendo um pouco de alívio.

Subitamente, o som de passos ressoando contra as pedras fez Hans parar no lugar. Ele aproveitou a última tragada em seu cigarro e virou o rosto, curioso para descobrir quem se aproximava. No entanto, para sua desgraça, era Lars. Com seu olhar gélido e sua postura intimidadora, era o último encontro que Hans desejava ter naquele instante.

A mente de Hans se esforçava para inventar qualquer desculpa mirabolante que o livrasse de ter que interagir com Lars, mas ele sabia que seria em vão. O destino parecia brincar com ele, trazendo de volta pessoas que só traziam desconforto e insegurança. Com um suspiro resignado, Hans se preparou para encarar mais um encontro indesejado.

— Vejo que veio conferir a mão de obra do nosso campo — cumprimentou Lars com um sorriso no rosto, demonstrando seu interesse. — Mas me diga, o que o traz aqui hoje?

Hans, com um olhar desviado e um certo desconcerto, respondeu:

— Na verdade, estou apenas tentando distrair um pouco a minha cabeça.

Com interesse palpável, Lars focou seus olhos penetrantes em Hans e formulou a pergunta:

— Estará sentindo falta do seu lar? Hanke Schmidt me informou que você se casou recentemente.

Curioso e ansioso por desvendar os segredos que cercavam a vida de Hans, Lars estava ávido por mais informações.

Hans respondeu com determinação inabalável:

— Um soldado jamais pode ceder aos caprichos da nostalgia pelo lar, pois ele entregou sua existência à proteção de sua nação e à preservação de seu legado. E, sim, acabei de me casar!

Lars assentiu com a cabeça, completamente impressionado com a resposta de seu companheiro.

— Palavras sábias, meu caro. Mas todo homem sábio sabe controlar esses meros sentimentos. Você se casou com a única filha de Leutnant August Fritz Schroeder, um grande homem na frente de batalha, e deve conhecer a fama, não tão aclamada, de seu irmão mais jovem, Anton, que está sob muitos olhares nada satisfeitos. — comentou Lars, demonstrando estar bem informado sobre os acontecimentos familiares de Hans.

Hans ficou surpreso com a quantidade de informações que Lars possuía sobre sua esposa e sua família.

— Presumo que sua jovem esposa deva ser realmente especial para você se submeter a esconder o amado tio dela de seus superiores. — concluiu Lars, fazendo uma sutil referência à situação delicada que Hans estava enfrentando.

Hans mergulhou em um profundo silêncio, como se o tempo tivesse parado. As palavras de Lars ecoavam em sua mente, fazendo-o refletir sobre a complexidade de sua situação. Sabia, sem sombra de dúvidas, que sua amada esposa era uma preciosidade que valia a pena proteger a todo custo. No entanto, sentia o peso imenso da responsabilidade que recaía sobre seus ombros, o dever de salvaguardar o tio de Jane, mesmo que isso implicasse em ocultar a verdade dos seus superiores. Era como estar em uma encruzilhada, onde cada caminho a seguir poderia ter consequências imprevisíveis.

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