46. Enfim, em Casa

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Jane estava junto à janela, perdida nos tons alaranjados das nuvens. O vento começou a soprar, balançando os galhos das árvores enquanto trovões ecoavam, prenunciando uma tempestade iminente. Fisgadas fortes nas costas, resultado das ordens médicas para repouso devido ao iminente trabalho de parto, a tiraram da contemplação. Repentinamente, uma dor aguda abaixo da barriga a fez caretar, e cambaleou até a cama.

A luz das velas projetava sombras sinistras pelas paredes. Cada passo era uma tortura para seus pés, mas Jane respirou fundo, tentando controlar a respiração, apesar da dor lancinante. Apoiando-se no pilar da cama, outra contração a atingiu, e ela colocou a mão sob a barriga, gemendo ao sentir um líquido quente escorrendo pelas pernas: sua bolsa havia estourado.

"Nunca senti dor tão intensa", pensou, sentando-se na beirada da cama e chamando por Charlotte. Deitou-se depois, seu rosto pálido como a neve, os olhos cheios de medo diante daquela agonia.

Charlotte apareceu rapidamente na porta, acompanhada por Adeline.

― Meu Deus! ― exclamou Charlotte ao aproximar-se da cama de Jane. Ela fez um gesto para Adeline ajudar, e ambas ajeitaram Jane nos lençóis macios.

― Adeline, vá até a cozinha buscar uma bacia com água quente e algumas toalhas. E mande um criado buscar o Dr. Braun ― instruiu Charlotte.

― Sim, senhora, providenciarei imediatamente ― respondeu Adeline, levantando-se e saindo do quarto. Os ventos fortes continuavam a soprar lá fora, fazendo Charlotte pular assustada quando a janela bateu violentamente.

― Tranquilize-se, querida, isso logo passará ― disse ela, acariciando a testa de Jane antes de fechar a janela.

Deitada na cama, sentindo as dores se intensificarem, Jane lembrou-se de Hans e desejou tê-lo ao seu lado naquele momento especial em que finalmente seguraria seu bebê nos braços. Adeline retornou com a bacia de água quente e a colocou sobre uma pequena cômoda.

― Já mandei chamar o Dr. Braun, e não se preocupe, o primeiro filho costuma demorar mais ― tranquilizou-a a criada de confiança.

As horas se arrastavam e as dores de Jane se tornavam mais frequentes e intensas. Mas o médico ainda não tinha chegado.

Quando Adeline foi chamada pelo criado e voltou com a notícia de que o médico não havia sido encontrado, o medo se apoderou da moça em trabalho de parto.

― E agora, o que faremos? ― perguntou Charlotte.

― Não teremos escolha, teremos que ajudá-la a dar à luz ― explicou Adeline enquanto arrumava Jane na cama. ― Eu sei que você é forte, você consegue. Só precisa fazer força para ajudar esse bebê a vir ao mundo. Segure esse pano com força e empurre o máximo que puder ― incentivou-a.

Jane empurrou com todas as suas forças. Já tinha ouvido falar da intensidade do trabalho de parto, mas agora estava experimentando a agonia em primeira mão. Queria que tudo acabasse logo, queria ver seu bebê e descobrir se era menino ou menina.

― Com quem o bebê se pareceria? ― perguntava-se. ― Teria o rosto de Hans ou o meu?

― Está indo muito bem, a dilatação está perfeita ― elogiou Adeline. ― Você só precisa continuar!

― Não aguento mais! ― ela gritou, desesperada. Nunca imaginou que o parto seria tão angustiante.

― É assim mesmo, mas ele já está vindo, eu consigo ver, continue! ― insistiu Adeline.

Reunindo todas as suas forças, Jane empurrou com toda a sua energia, sabendo que era a única maneira de acabar com aquela agonia. Finalmente, sentiu o recém-nascido sair de seu corpo.

Pássaros no InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora