09. Cetim Vermelho

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Hans permanecia imóvel junto à imponente lareira, sua figura destacando-se no ambiente vasto e ricamente decorado. Nas mãos, segurava com reverência um convite deslumbrante, suas bordas de seda azul reluzindo à luz das chamas dançantes.

Vestido em seu uniforme impecável, com um casaco preto destacando a elegância de seu porte, um colete cinza complementando a aparência sóbria, uma camisa branca como a neve e calças largas conferindo um ar de solenidade, ele exibia uma expressão serena, como se mergulhasse profundamente nas intricadas linhas douradas do convite.

A sala estava adornada com móveis luxuosos e detalhes finamente trabalhados, exalando uma aura de prestígio e tradição. A lareira, majestosa em sua magnitude, emanava calor e conforto, contrastando com o rigor do inverno lá fora. Enquanto as labaredas dançavam, iluminando o ambiente com uma luz dourada, Hans permanecia como uma estátua, imerso na contemplação do convite que segurava com cuidado.

Sua postura era digna, os ombros eretos denotando confiança e determinação. Seus olhos, fixos no papel precioso, refletiam uma mistura de antecipação e ponderação. Parecia estar traçando mentalmente os passos que seguiria naquela jornada social iminente.

Enquanto o fogo crepitava, lançando sombras dançantes pelas paredes adornadas, o silêncio solene da sala era interrompido apenas pelo suave farfalhar das chamas e pela respiração calma de Hans, que parecia imerso em seus pensamentos mais profundos.

O convite, símbolo tangível da honra e do prestígio que lhe eram conferidos, permanecia entre seus dedos, um lembrete constante da responsabilidade que recaía sobre seus ombros.

― Pode avisar a Sra. Furtzmann sobre essa festa ― Hans ordenou a Adeline, estendendo o convite para ela.

Após pegar o convite, Adeline assentiu com prontidão e se encaminhou em direção à escadaria central. O inverno castigava especialmente naquele ano, e naquela manhã, o frio era mais intenso do que nunca. Com passos determinados, alcançou a porta do quarto e bateu duas vezes, aguardando autorização para entrar. Após receber permissão, adentrou o aposento, onde sua jovem patroa, com expressão entediada, fitava fixamente pela janela.

― Senhora Furtzmann, o patrão pediu para que eu lhe avisasse sobre a festa na residência dos Schmidt, na próxima sexta-feira ― informou Adeline em voz baixa, enquanto retorcia as mãos.

A jovem soltou um longo suspiro e finalmente virou-se para olhar a empregada. Adeline aproximou-se e estendeu o convite. Quando Jane o recebeu, um brilho surgiu em seus olhos verdes, finalmente tendo a chance de sair daquele lugar.

― Obrigada, Adeline ― Jane agradeceu, erguendo seus belos olhos até os da empregada.

Após mostrar um sorriso pálido, Adeline se retirou com um aceno discreto, deixando Jane completamente imersa em seus próprios pensamentos, envolta por um silêncio que parecia carregar consigo uma atmosfera densa de reflexões não compartilhadas.

Enquanto isso, Hans observou o relógio de ouro sobre a lareira e notou que já passava das duas da tarde. Seu olhar rápido em direção à porta refletia a tensão dos últimos dias. Havia tentado manter distância de sua esposa, aguardando pacientemente que ela adormecesse antes de ir para o quarto, na esperança de proporcionar-lhe algum conforto. Enquanto refletia sobre isso, uma pontada aguda lhe atingiu a cabeça. Maldição! Odiava essas dores de cabeça persistentes, além dos pesadelos que o assombravam nas poucas horas de sono que conseguia obter.

Ele massageou as têmporas e caminhou até a porta, pegou seu quepe e dirigiu-se ao seu veículo estacionado bem em frente à casa.

Enquanto isso, Jane observava em silêncio através do vidro da janela e, assim que ouviu o som do motor do carro ligando, arfou. Por mais que Hans se mostrasse um cavalheiro, ela sentia que precisava se manter afastada dele, pois seu coração ainda não o aceitava, já que havia sido forçada a se casar com um estranho. Ao vê-lo se afastando pela rua coberta com uma espessa camada de neve, ela finalmente se afastou da janela e fechou as cortinas brancas. Era hora de começar a ocupar seu tempo.

Pássaros no InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora