17. Lágrima Solitária

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Jane embarcou numa viagem noturna, deixando Hans em Horb devido aos compromissos na base local. Optou por esticar as pernas e inspirar o ar fresco da manhã gelada, aproveitando que a estação de trem ficava apenas a cinco quadras da casa dos pais.

Ao chegar à pequena varanda, Jane ficou paralisada por alguns segundos, observando o jardim repleto de memórias da infância. Mesmo na escuridão, distinguia claramente como aquele local evocava tantas emoções.

A porta rangeu ao abrir. Virou-se e deparou-se com a empregada, que a recebeu cordialmente. Minutos depois, massageava as têmporas, tentando aliviar a terrível dor de cabeça.

Enquanto os primeiros raios de sol surgiam no horizonte de forma graciosa, ela permanecia alheia, sentada no sofá da sala de visitas. O aroma do café recém-coado de Zélie espalhava-se pela casa como uma brisa suave, enchendo o ambiente de um delicioso cheiro.

Jane curvou-se para frente, segurando a cabeça entre as mãos por um instante para tentar esquecer a dor incômoda. Um estalo a fez saltar do sofá ao ouvir o som do motor de um carro se aproximando. Sabia que era sua mãe e tia Olga. Com o coração apertado, caminhou até a porta. Controlando a respiração, abriu-a e finalmente posicionou-se na varanda.

Rose estava ao lado de Olga, ambas seguidas por um oficial alto de expressão fechada e ríspida. As duas passaram por Jane como se ela fosse um fantasma; apenas o oficial parou e a encarou. A tensão no ar era palpável, e Jane mal podia esperar para descobrir o motivo da visita inesperada.

— Apresento-me como o oficial Karl Joachim, disse ele, estendendo a mão em direção à jovem, que prontamente a aceitou.

— É um prazer conhecê-lo, sou Jane.

— Os meus sinceros sentimentos à sua família, senhorita Schroeder, disse ele, abaixando os olhos azuis.

As palavras do oficial enviaram um arrepio pela espinha de Jane. Sua mãe tinha uma tendência a dramatizar notícias, mas ela preocupava-se profundamente com a situação de seu tio. Controlando a respiração trêmula, Jane finalmente voltou para dentro da casa e dirigiu-se à cozinha, onde as mulheres estavam reunidas.

Olga chorava desesperadamente, com o rosto apoiado nos braços entre soluços. Jane tentou se aproximar, mas sentiu a mão de Rose a impedindo. Virando-se para encarar sua mãe, recebeu um gesto negativo e foi arrastada até o corredor.

— Pelo amor de Deus, me diga como está o tio Albrecht?, perguntou ela, com medo em seus olhos. Por que aquele oficial me expressou seus sentimentos, mamãe?

Rose virou o rosto cautelosamente, segurando sua ansiedade. Com passos furtivos, aproximou-se mais de sua filha.

— O estado de seu tio... — interrompeu Jane, impaciente.

— A situação dele é muito delicada — anunciou Rose de forma brusca. — Ele levou um tiro certeiro no lado esquerdo, centímetros abaixo do coração. Seu pulmão foi atingido e o pior de tudo é que sua coluna também sofreu o impacto. Ele foi encontrado inconsciente e levado para os médicos do campo, que confirmaram que, caso ele sobreviva, ficará confinado à cama e dependerá de cuidados constantes. Estamos no meio de uma guerra e não há muito que possam fazer.

— Pelo menos a tia Olga está ciente disso? — perguntou Jane, com os olhos marejados.

Rose desviou o olhar para o canto da sala.

— Não é que ele esteja arriscado a morrer e, caso sobreviva, ficará paralisado da cintura para baixo.

— Meu Deus, por que não, mãe? Ela precisa saber a verdade — disse Jane, encarando a mãe.

Pássaros no InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora