43. Sem Retorno

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TRÊS MESES DEPOIS...

Naquela quinta-feira, o sol se recusou a aparecer, deixando o céu cinzento e as folhas encharcadas de orvalho. Quase três semanas haviam se passado desde a rendição da Alemanha, um marco histórico que sinalizava o fim da guerra. Enquanto alguns viam isso como uma luz de esperança, para outros, que carregavam o peso da perda de entes queridos, era como uma ferida aberta no peito.

Jane, com os cabelos loiros presos por uma fita vermelha, observava intensamente o céu. Suas roupas ainda eram de luto, mas sua postura firme e determinada denotava uma força interior. Segurava as barras de ferro da sacada com mãos delicadas, tendo uma visão privilegiada dos fundos da propriedade e do jardim.

Um corvo solitário grasnou, chamando sua atenção, e seus olhos azuis rapidamente se fixaram na ave moribunda que voava sobre o local.

Era como se a natureza, em sua melancolia, se unisse ao luto de Jane. A tempestade que se aproximava estava prestes a desabar, e o corvo agonizante parecia ecoar a dor que ainda permeava o mundo.

Mas, em meio a tanta tristeza, havia uma chama de criatividade que ardia dentro dela. Jane sabia que, mesmo nas piores circunstâncias, era possível encontrar beleza e esperança.

Lembrando as palavras sábias de seu pai sobre essas misteriosas aves, Jane rapidamente se afastou das sinistras barras de ferro, fechando os punhos com determinação, como se estivesse se preparando para enfrentar algum perigo iminente. Em um gesto de proteção, sussurrou uma pequena oração que havia aprendido na infância antes de adentrar o recinto.

Jane sentia uma urgência crescente e, apressadamente, dirigiu-se ao seu quarto, fechando as portas atrás de si como precaução contra qualquer mau presságio. Fazendo o sinal da cruz, sentiu uma inexplicável fadiga invadir seu corpo, mas isso não a deteve.

Determinada, caminhou até a elegante cadeira da penteadeira. Com todo o cuidado, pegou um frasco de perfume e admirou os intrincados detalhes do vidro vermelho, sem perceber a presença de Charlotte, que estava próxima à porta, observando cada movimento com um olhar curioso.

— Querida, você precisa comer algo. Ficar de estômago vazio não fará bem — disse Charlotte, preocupada.

Jane, com a mente inquieta ansiando por notícias de Hans, seu amado que havia partido há quase quatro meses, respondeu:

— Ela está bem, só precisa de um tempo.

Os olhos de Jane se encheram de lágrimas, como se estivessem prestes a formar um rio de tristeza. O medo invadiu seu coração enquanto sua garganta se transformava em um deserto árido e implacável.

— Se você continuar recusando comida, querida, não poderemos viajar até Amöneburg. Você está carregando uma criança que precisa de cuidados. Você sabe que Hans não aprovaria... — disse Charlotte, com um tom preocupado.

Jane sentiu seu coração apertar ao ouvir o nome dele.

— Já se passaram quatro meses e não temos notícias dele, tia, Charlotte. Receio que ele não esteja mais vivo — disse, lutando contra as lágrimas.

Charlotte tentou disfarçar sua tristeza de Jane virando o rosto, mas era quase como se estivesse escondendo o sol com a peneira, um desafio quase impossível.

— É melhor terminarmos de arrumar sua mala para partirmos. Logo vai anoitecer e não queremos pegar chuva no caminho — mudou de assunto.

— Você está certa — assentiu Jane, com semblante entristecido. Observando sua expressão, Charlotte apertava as mãos com força contra o tecido delicado do vestido.

Pássaros no InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora