30. Jornada sem Fim

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O percurso até sua residência se assemelhava a uma jornada épica, com as ruas cobertas por uma espessa camada de gelo desafiando cada passo de Hans. Com determinação, finalmente estacionou o veículo em frente à casa e notou, com surpresa, a presença de outro carro ali.

Sem hesitar, abriu a porta e avançou em direção à entrada, impulsionado por uma mistura de urgência e curiosidade.

Ao cruzar o limiar, foi recebido por um velho conhecido, cuja presença na penumbra da sala de estar criava uma aura pesada. A luz fraca delineava os contornos do ambiente, enquanto o calor aconchegante contrastava com o frio cortante lá fora, envolvendo a cena em uma sensação de conforto e desconforto simultâneos.

Hans e o visitante trocaram olhares de reconhecimento mútuo, ambos carregados de tensão contida, como se segredos não ditos pairassem no ar, aguardando o momento certo para serem revelados.

— Hauptmann Furtzmann — saudou o oficial, segurando um papel entre as mãos.

Hans entrou na sala com uma postura impecável, cumprimentando o rapaz com um gesto firme. O papel foi entregue a ele, e com uma caneta elegante em mãos, assinou o documento com confiança. Expressando sua gratidão ao jovem, este fez uma cortesia ao sair.

Enquanto isso, Adeline permanecia à beira da porta da sala de visitas, abaixando a cabeça e afastando-se em direção à cozinha assim que avistou o patrão.

Infelizmente, Jane já tinha conhecimento da situação, mas respirou fundo, reunindo coragem para enfrentar o momento. Ao adentrar a sala, deparou-se com a cena de uma jovem desolada, sentada em uma poltrona, com as mãos cobrindo o rosto e derramando lágrimas silenciosas.

— Não pode ser verdade, pelo amor de Deus, me diz que é tudo mentira, que não passa de um maldito pesadelo — suplicou Jane, sua voz carregada de desespero.

Hans parou por um segundo, desejando que fosse verdade.

— Querida, estamos em guerra e...

— Pro inferno com essa maldita guerra, Hans! — interrompeu Jane, virando-se para encará-lo. — Meu pai está morto, vai me dizer o quê? Vamos, me diga, agora — explodiu entre lágrimas.

— Não sabemos se seu pai está morto. É cedo para tirarmos conclusões precipitadas — respondeu Hans, buscando acalmar os ânimos.

Jane soltou uma risada nervosa e se levantou, submersa numa mistura intensa de euforia e desespero.

— Aqueles malditos o pegaram e vão matá-lo. Pelo amor de Deus, se já não estiver morto. Então, não me venha com essas suas malditas regras — desabafou ela, incapaz de conter a torrente de emoções que a invadia.

Hans tentou acalmá-la em vão, sugerindo que ela se tranquilizasse diante da situação caótica.

— Me acalmar? Por Deus! Não me peça isso. Não agora. O que será de minha mãe e de meu pobre irmão de sete anos e de tia Olga, que está grávida? Esta guerra destruiu milhares de famílias, inclusive a minha — desabafou Jane, soltando uma risada histérica enquanto enxugava as lágrimas.

Ele se aproximou dela, mas Jane recuou alguns passos, demonstrando sua angústia.

— Precisa ser forte nesse momento e agarrar-se à única esperança que ainda resta — ele disse, desviando os olhos para a lareira.

— Pois a qualquer momento posso partir para o campo de batalha. Os inimigos estão se aproximando. E esta manhã recebemos a visita de um oficial de Berlim para tratar sobre a pasta de seu tio Anton, que sumiu; e, se não a devolver ao meu superior, serei preso por traição, por acobertar um traidor do Reich. Não gosto nem um pouco do rumo que toda essa guerra tomou. Antes achava que era apenas para o bem maior de nossa Alemanha, mas hoje vejo que nos tornamos monstros. Estou cansado de tudo isso, muito cansado.

Pássaros no InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora