06. Breu sem Fim

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Os primeiros raios de sol romperam a quietude da manhã gelada de domingo, acompanhados pelo suave canto dos passarinhos. Era um momento aguardado com expectativa: o dia em que Jane, se uniria em matrimônio ao respeitável oficial Hans Furtzmann.

Sentada no acolhedor divã azul, Rose mal conseguia conter a ansiedade enquanto aguardava a costureira entrar com o deslumbrante vestido de casamento de sua filha amada. Enquanto isso, Jane permanecia imóvel junto à janela, lutando contra um desejo avassalador de fugir, que parecia dilacerar sua alma.

Por um breve instante, até respirar se tornou difícil. Ela moveu a cabeça numa tentativa de clarear seus pensamentos, mas logo outro sentimento, lembrando seu verdadeiro propósito, a atingiu. O som da porta se abrindo bruscamente a trouxe de volta à realidade. Ela se virou rapidamente para ver quem entrava; para sua surpresa, era Katharine, a experiente costureira, acompanhada de sua ajudante.

— Meu Deus, por que está demorando tanto? — exclamou Rose, ansiosa, levantando-se do divã e indo ajudar as recém-chegadas. A costureira, com sua bolsa cheia de agulhas, pediu à empregada da casa dos Schroeder que auxiliasse sua ajudante a segurar o enorme pacote que continha o vestido de Jane.

— Senhora, peço desculpas pela demora, tive motivos muito pessoais — disse a costureira, encarando-a. Rose esboçou um sorriso irônico, abrindo caminho para que Katharine entrasse na sala. A costureira solicitou que sua ajudante e Zélie pendurassem o vestido próximo à janela.

Rose respirou fundo, decidida a terminar sua tarefa rapidamente e dedicar-se a assuntos mais importantes. Jane se aproximou da mãe e da costureira com um sorriso no rosto.

— Vamos fazer alguns ajustes finais na fita da cintura — disse ela animada. Rose ficou surpresa com a declaração da filha. Seria possível que Jane tivesse emagrecido tanto em um só dia? Ela se virou para a costureira, que continuava trabalhando nos tecidos da fita, e finalmente conseguiu relaxar.

De repente, a ajudante ruiva de cabelos revoltos se aproximou com as três fitas em mãos, rompendo o silêncio. A experiente costureira começou a medir as faixas na cintura de Jane, enquanto esta observava com os olhos arregalados.

— Não se preocupe, minha querida, isso não vai demorar — tranquilizou a costureira, começando a apertar um espartilho em Jane, comprimindo sua barriga e realçando suas curvas. Jane apertava os olhos de dor, mas com a ajuda da ajudante, a costureira continuou a colocar os tecidos de seda na parte de baixo do vestido. Rose observava tudo atentamente, percebendo a angústia no rosto da filha.

Finalmente, Jane estava vestida como uma noiva, parecendo um anjo com seu adorno imaculado. A costureira terminou de ajustar o laço, e Katharine apressou-se em arrumar os longos cabelos loiros de Jane dentro da coroa de flores suaves. A jovem estava pronta e radiante.

Rose sentiu os olhos se encherem de lágrimas de orgulho ao ver sua filha prestes a se tornar mulher. Secou rapidamente as lágrimas com um lenço, não querendo mostrar a Jane o quanto estava emocionada, para não deixá-la mais nervosa.

— Minha nossa, minha filha, você está deslumbrante! — elogiou, abraçando Jane com cuidado para não desarrumar seu penteado.

As duas mulheres se dirigiram ao carro que as levaria à igreja para a cerimônia. Fritz, impecavelmente uniformizado conforme os padrões da SS, aguardava do lado de fora do Volks, andando de um lado para o outro, ansioso. Ao vê-las, abriu os braços, exibindo sua felicidade.

— Você está magnífica — disse, orgulhoso de sua única filha.

Jane ergueu os olhos por um instante e o encarou, mas logo desviou o olhar para o chão. Fritz sentiu uma pontada no peito, também contra o casamento de sua filha com um oficial, mas sem outra opção.

Pássaros no InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora