11. Tempestade no Horizonte

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Engler permanecia sentado na varanda da casa dos Schroeder, os olhos fixos na distância, perdido em seus pensamentos enquanto deslizava o caminhão de madeira para frente e para trás. A saudade de sua irmã o consumia como uma névoa densa.

Seus olhos cansados voltaram-se para a árvore próxima, onde passara horas brincando com Jane. As lembranças da infância ressurgiam vivas em sua mente, recordando os momentos em que construíam universos imaginários, erguiam castelos de folhas e se aventuravam em narrativas emocionantes.

A cada recordação, Engler quase sentia a presença de Jane ao seu lado, suas risadas ecoando como uma sinfonia de alegria. No entanto, a varanda agora parecia vazia e silenciosa, sem o calor reconfortante da irmã.

Apesar disso, no coração de Engler brilhava a chama da esperança, alimentada pela certeza de que um dia Jane voltaria e a árvore seria novamente o palco de suas brincadeiras.

— Parece um tanto chateado, poderia me contar o motivo? — perguntou Fritz, encostado no umbral da porta de entrada.

— Posso ir ver a Jane, papai? — perguntou Engler, com frustração na voz.

Fritz sorriu ao se aproximar do garoto, ainda com olhar melancólico.

— Claro que pode, meu pequeno, mas terá que esperar até sábado — respondeu, parando alguns passos de onde o menino estava.

Engler deu um salto entusiasmado e abraçou as pernas do pai. Parecia estar flutuando de felicidade. Uma semana havia se passado desde a última vez que vira sua irmã; a saudade batia forte, apesar de achá-la um pouco mandona.

Fritz não conteve o sorriso e abaixou-se para pegá-lo no colo, vendo-se refletido em seu filho.

— Obrigado, papai — disse o menino, abraçando-o novamente.

Fritz apertou seu filho contra o peito, ciente dos dias sombrios que se aproximavam. Sentiu que aquele poderia ser o último abraço que daria em seu pequeno. Em menos de duas semanas, precisaria voltar para Auschwitz, após uma parada em Horb para discutir táticas contra as linhas inimigas.

Com um sorriso no rosto, colocou seu menino no chão e o viu correr euforicamente para dentro de casa. Coçando o queixo, caminhou até o pilar que sustentava a varanda, apoiando a mão direita enquanto os olhos se perdiam no horizonte cinza.

As memórias da tristeza nos olhos de sua filha ainda ecoavam em seu coração, corroendo-o profundamente. No entanto, sabia que não poderia desobedecer às ordens recebidas; era apenas um peão nesse jogo, obrigado a cumprir as regras.

Movendo a cabeça, tentou afastar as amargas lembranças que o assombravam.

— Novamente tão pensativo, meu querido? — indagou Rose, colocando a mão sobre o ombro de Fritz.

— Os dias estão ficando mais sombrios. Ontem recebi uma carta solicitando minha presença e a de meus homens em Auschwitz — respondeu, com a voz vaga e os olhos no horizonte. — Um velho amigo morreu em confronto com os dinamarqueses, e nossa linha de frente precisa de apoio e mais homens. Albrecht partiu para Darmstadt e Anton foi enviado para Berlim. Estou ficando velho e temo não voltar dessa vez.

— Não diga bobagens, claro que irá voltar, você sempre volta — afirmou Rose, tentando conter o nó na garganta. — Olhe para mim. — Fritz virou-se para encará-la. — Não pense besteiras, está bem? — avisou, segurando o rosto de seu esposo entre as mãos.

— Tentarei — respondeu Fritz, com um pequeno sorriso.

Ela o abraçou apertado, buscando conforto e segurança.

Pássaros no InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora