Pássaros no Inverno

44. Minutos Eternos

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FAZENDA DE GRETE EINSSFELD...

Os primeiros raios do sol penetraram no quarto sem pedir licença. Hans, ainda deitado na cama, sentia seu corpo dolorido devido ao trabalho árduo para a senhora Einssfeld, que o acolhera gentilmente e cuidava de seus ferimentos.

Um aroma delicioso de café fresco pairava no ar, vindo da cozinha. Ele se sentou na beirada da cama, balançando a cabeça para afastar os malditos pesadelos: explosões de granadas, disparos e os gritos de dor dos soldados caídos.

A distância que precisava manter de sua amada Jane o atormentava. Voltar agora poderia resultar em sua prisão. Era necessário aguardar a poeira baixar antes de retomar a vida normal.

O som da porta se abrindo fez Hans pular, ficando de pé, provocando-lhe uma careta de dor, pois sua perna ainda não estava totalmente recuperada. Era apenas Mayer Diefenthale, lançando-lhe um olhar curioso.

― Credo, homem, parece que viu um fantasma ou algo assim — resmungou Mayer, coçando o queixo.

― Me pegou desprevenido, só isso. Deveria saber que não se entra sem ao menos bater.

― Desculpa... Vim avisar que o café da manhã está pronto.

Hans concordou com um sorriso, observando Mayer, um jovem de vinte e seis anos, de família abastada e com um nome de prestígio em Berlim.

Surpreendentemente, Mayer optou por ingressar nas forças armadas, seguindo os passos de seu falecido pai, um major. Essa escolha inusitada demonstrava a coragem e a determinação de Mayer em trilhar seu próprio caminho, apesar das comodidades que sua família poderia lhe oferecer.

― Mayer, me diga, além de sua família, há alguém o esperando? — perguntou Hans, voltando seus olhos para ele.

O rapaz balançou a cabeça lentamente.

― Quer dizer, uma namorada ou noiva?

― Sim.

Mayer desabrochou um sorriso radiante, como se tivesse descoberto um tesouro escondido. Ele trouxe à memória imagens vívidas de Josefine, sua amada, sentindo-se invadido por uma onda de felicidade intensa.

No entanto, seu semblante logo se transformou em tristeza ao encarar a realidade. Um misto de saudade e nostalgia dominou seu coração.

― Uma longa história, mas...

― Desculpa, não quis ser intrometido, não é da minha conta, não sei por que perguntei — interrompeu Hans, gesticulando com a mão.

― Tudo bem, é que fico um pouco desconfortável em responder, mas preciso superar — disse Mayer, encarando Hans. ― Tinha uma noiva chamada Josefine, mas ela me deixou antes de minha partida, pedindo para que não a procurasse nunca mais. Até gostava da companhia dela, mas acredito que nunca daríamos certo, e agora, com o fim da guerra, pretendo retornar aos meus estudos. E você, Hans, tem alguém?

Os lábios de Hans se curvaram num instante, suspirando.

― Tenho, mas faz tanto tempo que estou longe que parece uma eternidade. Ainda assim, posso ouvir o suave som de sua voz e ver seu sorriso.

― Em breve poderá revê-la — disse Mayer, trazendo-o de volta à realidade.

― Por mim partiria hoje mesmo para Augsburg.

Os olhos de Mayer se abriram, num misto de medo e ansiedade. Era um momento delicado para ele abandonar seu refúgio e se expor ao perigo iminente de ser capturado ou, pior ainda, encontrar sua trágica morte.