33. O Comunicado

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Hans estava imóvel em sua cadeira dentro do escritório, concentrado na análise minuciosa das fichas dos soldados que seriam investigados pela cúpula interna da Schutzstaffel. Ele passava horas a fio nessa tarefa exaustiva, sentindo uma pontada insistente nas têmporas e irritação nos olhos devido ao cansaço acumulado.

Sem se deixar abater, Hans anotou rapidamente algumas informações no canto esquerdo de uma folha e a enfiou dentro da pasta, colocando-a na pilha do lado direito. A cada tarde, ele revisava dezenas de fichas, mergulhando profundamente nas histórias e detalhes de cada soldado, ciente da importância de seu trabalho.

O tempo parecia não passar, até que batidas na porta interromperam suas atividades. Hans sentiu-se grato pela interrupção, como se o destino lhe concedesse um breve respiro para recarregar energias.

— Entre — ordenou, jogando-se contra o encosto macio da cadeira.

Hanke abriu a porta com ar distante, mergulhado em seus próprios pensamentos. Hans captou a expressão de assombro estampada no rosto de seu superior, seus olhos cansados não exibiam mais o brilho de esperança de outrora.

A boca de Hanke abriu-se em um murmúrio silencioso, enquanto a expressão de seu rosto desvanecia lentamente.

— Algo o está atormentando? — perguntou Hans.

Ao tentar se levantar, Hans parou ao perceber o gesto de Hanke, indicando para que continuasse sentado.

— Preciso lhe confidenciar algo antes de partir para o campo de batalha — disse Hanke, ajeitando o colarinho de seu uniforme.

Hans arqueou a sobrancelha em sinal de curiosidade e assentiu.

— Diga.

— Esta manhã, recebi um comunicado da base de Berlim. Eles precisam de nossa presença nos bosques ao redor de Varsóvia. Os russos estão apertando o cerco, e nosso exército já sofreu grandes perdas — Hans pôde notar pequenas gotículas de suor na testa de Hanke, evidenciando seu nervosismo.

— Já providenciei a ida de Bertilda para nossa casa em Mering, onde estará protegida caso o exército vermelho consiga derrubar as barreiras.

As mãos de Schmidt tremiam, um sinal que deixava Hans ainda mais curioso e preocupado. O que estaria passando pela mente de Hanke?

— Desculpe pela minha ousadia, mas creio que não é exatamente isso que está o incomodando. Conheço sua fama como Korvettenkapitän e sei de seus feitos durante a grande guerra...

Hanke saltou da cadeira com uma explosão de energia, coçando freneticamente a testa como se tentasse domar a confusão de pensamentos que fervilhava em sua mente.

— Olhe para mim, meu caro — disse, gesticulando incrédulo. — Estou velho. Acha que sou capaz de ir para a linha de frente e lutar contra aqueles malditos vermelhos? Diabos! Estou há anos usando essa farda, sei como os homens podem ser cruéis, e sei que eles não terão piedade de ninguém. Ouvi o relato de um oficial que conseguiu escapar das garras dos yankees na Normandia.

— Posso ir em seu lugar, se esse for o problema — sugeriu Hans, com frieza. — Sou jovem, lutei na Polônia há dois anos antes de ser mandado para trás de uma mesa. Basta que o senhor redija uma carta para os superiores, descrevendo problemas de saúde, e creio que mandarão o oficial disponível.

Hanke parou abruptamente, seus olhos fixos e admirados em Hans Fürtzmann. A coragem que emanava dele era palpável, envolvendo o ambiente com uma energia única. Aceitar aquela proposta significaria ir contra todos os princípios pelos quais Hanke sempre lutou, rebaixando-se e deixando de lado sua honra para se tornar um homem sem valores.

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