✦
A suavidade da melodia que emanava das teclas do piano preenchia todos os recantos da biblioteca, envolvendo-a numa atmosfera mágica e encantadora. Jane, apoiada na janela, contemplava o quintal coberto por uma camada reluzente de neve. Seus olhos refletiam apreensão e admiração diante da paisagem invernal, absorvendo toda a sua beleza e serenidade.
Enquanto Jane se perdia em seus pensamentos, o pequeno Stephan brincava animadamente do lado de fora, sob o olhar atento de Adeline. O som delicado do piano cessou, e Hans, o habilidoso pianista, ergueu-se sorrateiramente. Ele caminhou em direção à esposa, que parecia imersa em suas reflexões, parando alguns centímetros atrás dela.
Com movimentos delicados, pousou sua mão quente e reconfortante sobre o ombro de Jane, fazendo-a sobressaltar-se levemente. O silêncio da biblioteca foi preenchido por um sentimento de ternura, como se as notas musicais fossem apenas um prelúdio para a melodia do amor ecoando naquele ambiente especial.
― Parece tão pensativa nesses últimos dias ― sua voz ecoou como um sussurro.
― Andei pensando muito em minha mãe e em Engler ― respondeu Jane, pousando sua mão sobre a dele. ― Meu pai era tudo para eles, e agora tudo está desmoronando, é injusto. Engler deve estar devastado.
― Se quiser, posso pedir para o motorista da tia Charlotte passar em Amöneburg antes, e você pode ficar lá alguns dias, se desejar, antes de seguir para Augsburg.
Jane soltou um suspiro, ciente de que essa não era exatamente uma ideia brilhante. Conhecia sua mãe como a palma da mão e sabia que se aproximar só traria problemas para ambas. Com um movimento decidido, virou-se para encarar Hans nos olhos, mostrando-se pronta para enfrentar qualquer desafio que surgisse.
― Acho que não é uma boa ideia, não agora, com tudo isso acontecendo. Conheço minha mãe e sei o quanto ela deve estar me odiando neste momento. Esta guerra derrubou o único pilar que nos unia ― disse, tristonha, desviando os olhos.
― Tem razão, não é um bom momento para tentar uma conversa amistosa, mas essa expressão triste em seus olhos está me deixando preocupado. Em alguns dias partirei, e só de imaginar deixá-la nessa situação, meu coração se parte.
Jane forçou um sorriso.
― Só de pensar em sua partida, fico sem chão, Hans ― respondeu, pegando-o de surpresa. ― Não consigo aceitar a ideia de vê-lo partir para os perigos da guerra, assim como meu pai.
Hans envolveu-a em seus braços, protegendo-a contra o turbilhão de perguntas sem respostas e a tristeza que pairava sobre eles. Buscou acalmar sua mente agitada, mas um medo avassalador tomou conta dele naquele momento.
― Hei! Prometo que voltarei ― murmurou, segurando o rosto de Jane entre suas mãos.
― Promete? Como poderia? Esta guerra está destruindo tudo... ― indagou, os olhos afogados em lágrimas.
Um sorriso radiante iluminou o rosto dele, como se o sol tivesse decidido fazer morada ali. Após tantos anos de angústia e incertezas, finalmente podia dizer com convicção que uma chama de felicidade ardente se acendia em seu peito.
Mesmo que as batalhas o chamassem para longe, a promessa de retornar aos braços daquela mulher o impulsionava a correr contra o tempo. Ah, como ansiava pelo momento de sentir seu abraço acolhedor e ser envolvido pela doçura de seu amor.
― Prometo.
Hans inclinou seu rosto em direção ao dela, mergulhando seus lábios nos dela em um beijo terno e apaixonado. Cada vez que seus lábios se tocavam, era como se o mundo ao redor simplesmente desaparecesse, evaporando-se como gotas de orvalho sob os raios cálidos do sol.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pássaros no Inverno
RomanceDurante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha nazista e o mundo são envoltos em uma tormenta de trevas, sofrimento e fúria. Em meio ao caos, a vida de Jane Anne Schoreder sofre uma reviravolta surpreendente e todos os seus sonhos desmoronam. Jamais p...