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Após ser despertado por um estrondo distante de um trovão, ele encontrou-se imerso em um terrível pesadelo. Seus joelhos dobraram-se enquanto tentava controlar a respiração, seu corpo encharcado de suor. Com um suspiro, passou a mão pelos cabelos, amaldiçoando as lembranças que o assombravam. Seu coração ainda batia rápido, como se estivesse de volta àquela floresta assustadora.
Ao virar-se, deparou-se com Jane, dormindo tranquilamente com um sorriso suave no rosto, parecendo um anjo. Sabendo que precisava de um copo de água para acalmar os nervos, ergueu-se com cuidado para não perturbá-la e saiu do quarto.
Um incômodo no ombro esquerdo o fez ignorar, atribuindo-o ao impacto do pesadelo. Dirigiu-se ao armário de madeira, pegou um copo e abriu a torneira. Seus pensamentos vagavam, e a cada trovão, seu coração disparava. De um só gole, bebeu toda a água.
"Agora compreendo, meu rapaz, mas lembre-se: somos apenas peões nesse jogo", ecoou a voz do Korvettenkapitän Schmidt em sua mente.
Caminhou até seu escritório e, ao abrir a porta, percebeu que já passava das quatro da madrugada. Mais uma noite em que o remédio não surtiria efeito. Fechando a porta, jogou-se na poltrona. A lareira ainda crepitava, após horas analisando documentos confidenciais confiados por Schmidt.
Seus olhos azuis contemplaram as chamas dançantes. A chuva lá fora intensificava-se, trazendo consigo trovões e raios. Começava a questionar sua sanidade mental. Era imprescindível encontrar uma solução para não enlouquecer, suspirou.
Um estrondoso trovão fez com que as batidas na porta passassem despercebidas. Sua mente estava distante. Jane adentrou a sala silenciosamente e avistou Hans sentado na poltrona, de costas para ela. A jovem fechou seu roupão de cetim branco e ajeitou os cabelos para o lado, suas pernas tremiam pelo susto.
― Perdeu o sono? — perguntou, um tanto receosa, parando ao lado da poltrona.
― Tenho insônia na maioria das noites — respondeu Hans, sem virar o rosto para ela.
― Entendo. Quando eu era criança, também tinha dificuldades para dormir, era terrível — argumentou, apertando as mãos, apreensiva. ― Acabei não agradecendo por ter me defendido das palavras rudes de minha mãe. Foi bom que ao menos alguém tivesse coragem de enfrentá-la.
Hans finalmente virou-se para encará-la. Era como se a luz da lareira intensificasse sua beleza.
― Não precisa agradecer. Fiz o que achei correto — respondeu, um tanto áspero.
Jane acomodou-se no divã, concordando em silêncio. Uma quietude envolveu a sala, enquanto apenas o crepitar das chamas ecoava suavemente.
― Por que foi tão rude quando trombei em você naquela manhã? — questionou, sua voz carregada de curiosidade, rompendo o silêncio.
― Tinha acabado de fazer uma longa viagem, estava exausto, e você manchou minha única farda de traje comemorativo — respondeu Hans, voltando seus olhos para a jovem, que ficou rubra de vergonha.
― Sei que tenho sido rude em meus atos, mas...
― Não precisa me explicar seus motivos — interrompeu, sua voz áspera.
Ela aconchegou-se no confortável divã, mantendo seu olhar fixo nele, desafiando-o silenciosamente. O tempo parecia esticar, como se cada minuto durasse uma eternidade.
― Edite me contou sobre Amelie Hald. Que vocês tiveram um caso romântico antes de sermos obrigados a nos casar — falou, pegando-o de surpresa. Ele virou-se para observá-la, e ela continuou: ― Você ainda a ama?
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Pássaros no Inverno
RomanceDurante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha nazista e o mundo são envoltos em uma tormenta de trevas, sofrimento e fúria. Em meio ao caos, a vida de Jane Anne Schoreder sofre uma reviravolta surpreendente e todos os seus sonhos desmoronam. Jamais p...