Quinze segundos de silencio; 06:20

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Um amanhecer tardio, longínquo e nada bem vindo, de lugar chuvoso e úmido, as folhagens se raspavam contra os vitrais das janelas, os ventos assobiavam e as árvores regiam, a calçada entre o roseiral estava poluída por folhas e barro. O céu nublado, característico e intrigante, era uma manhã quieta do segundo dia da semana.

Ninguém saia da mansão durante as segundas, era hora dos fantasmas. Sob um pedido Aiko era única pessoa presente naquele ambiente peculiar, entre os espelhos, os induzindo para que fossem embora, para talvez, nunca mais voltarem. As figuras fantasmagóricas se dispersaram pelo roseiral como densas nuvens de poeira, faziam baixos redemoinhos de vento entre os circulares arbustos de rosas, eles não eram mais bem vindos na mansão. Injustiçados, tando Shimizu e seus espelhos tinham sido usados, ver-los indo embora como animais selvagens, a incomodava, mesmo não sendo de seus feitio sentir alguma emoção por eles, aquela dor formigante que sentia em seu ombro era a recordação que agora poderia começar a parar de fingir que os evitava, pouco a pouco ela tentaria.

Para bani-los ou "Arrancar seus olhos" como dizem seus primos, possuía um custo se os espelhos que fossem banidos em massa, tivessem residindo uma mansão, mas como Subaru a assegurou que não teria problema se o fizesse, contanto que nenhum de seus irmãos soubesse desse preço.

Não era como se fosse demorar muito para ela aparecer, se fazendo presente, o tempo e a natureza ao redor param no momento, que distantemente se manifestou um estrondo da colisão de tronco de árvore com o chão e um alguém tremulamente se escondeu atrás de uma cortina.

– O que está fazendo!...– Gritou uma voz esganiçada entre o som de correntes. – O que pensa que está fazendo?

Odessa, o fantasma da maldição que assombra os vampiros até os dias de hoje, o som de correntes era ecoando ao seu redor sem nem mesmo ela se mover, o cheiro de rosas enjoativo impregnava o ambiente, a lembrança de roupagens de couro vermelho costuradas a si a deixava assustadora e suas falhas tentativas de ser vaidosa às vezes a deixava vulgar, muitos adereços em seus cabelos e muita maquiagem em sua pele cinza.

– Odessa...– Aiko afastava as mãos sujas de terra do fantasma de seus ombros.

– Meu amor!– O fantasma correu para além de Aiko. – Laito!

Aiko, frustrada bateu a mão no próprio rosto e foi afligida por suas dores. Aos poucos ela foi criando coragem para encarar aquela cena, aquele devastosso reencontro, o fantasma havia derrubado Laito no chão e beijava saudosamente, dizendo que antes de mata-lo iria cenar a saudade de seu perfume de limão.

– È ele, frue Shimizu, min store kjærlighet!– Emocionada ela afagava as mãos no rosto de Laito.– Eternamente belo como meu amor por ele...

O Sakamaki deu um discreto sorrisinho para a mau humorada expressão de Aiko, ela teria que fingir que não o conhecia para que o fantasma não a se irritar, porque naquele instante não tinha a mínima vontade de impedi-la de matá-lo, onde seu primo estava com a cabeça para aparecer ali, duvidava que ele não soubesse que o objetivo Odessa fossa a si.

– Não tenho dúvidas que seja ele, Odessa.– Ela passou as mãos enluvadas entre os cabelos desgrenhados.

– Poderia nos deixar a sós, frue?– Perguntou o fantasma sugerindo segundas intenções com o Sakamaki.

Aiko olhou para o primo pela segunda vez e viu o sorriso no rosto dele sumir minimamente, iria abandoná-lo com ela, lhe poupava tempo e não teria que fazer um acordo com o fantasma, sairia ganhando. Shimizu assentiu e se despediu de Odessa, iria aproveitar que Kanato havia madrugado confeitando na cozinha e iria lha conversar com ele.

– Agora eu me lembrei porque não suporto você, priminha! – Gritou Laito correndo desesperado para longe de Odessa.

– Seu dissimulado! – Aiko virou-se rapidamente e agarrou as correntes de Odessa as puxando para que retorna-se .– Não era nem para você dar as caras nesse lugar!

Abalado, o fantasma gritou, sua voz aguda ressoou pelos ouvidos dos presentes. O sangue da ferrugem das correntes entrou em contato com as cicatrizes esbranquiçadas dos dedos de Aiko, o fantasma diante de si pareceu imobilizado e em choque, as correntes estavam pesadas, nem ela sabia o que estava acontecendo, em um piscar de olhos, os espelhos avançaram sobre ele e empurram para baixo e junto a ele atravessaram o chão para um destino desconhecido.

Shimizu largou o que restou das correntes no chão, ainda impactada com o abrupto acontecido.

– Pare de usar elas desse jeito, seu estupido!– Xingou ela sem pudores mantendo uma distância segura dele.

Confrontá-lo era errado, perigoso e nada vantajoso, mas Aiko estava com medo de Laito e queria deixar isso evidente mesmo que lhe custasse a vida, ele a mordeu, era mais forte que ela e tinha raiva dela por ter um contrato com Odessa, nada de pacifico existia entre eles.

No instante em que o mundo ao redor deles voltava ao normal, Laito se encontrava preso no impacto que as palavras da prima tinham tido em suas recordações, ele pensava como iria satirizar aquela situação, mas não entendia se era o certo a se fazer.

– Er...Eu acho que... – Ele não conseguia proferir a palavra "desculpa", o orgulho era muito, mas pela primeira vez com o rosto sério. – Você sabe algo sobre mim, não sabe Aiko?

Ela percebeu a característica marcante da mudança de humor, o olhar de Shimizu sustentou o dele, não lhe diria nada, se sentia intimada a dizer, mas iria contra aquilo que aquela expressão submissa lhe pedia.

– Você parece um cachorrinho que se perdeu da dona.– Respondeu ela entre murmúrios. – Se recomponha, por favor...– Pediu com simplicidade, não queria provocar uma discussão. – Miazaki-san pode ficar preocupada se o ver nesse estado.

Aiko limpou a garganta e massageou uma de suas têmporas, quando reconheceu quem era a portadora do olhar distante sobre si.

– Aquela Bitch-chan é muito curiosa. – Declarou Laito sustentando a atenção na única janela de vitrais abertos.

Não tendo certeza se havia escutado bem, Aiko arqueou uma das sobrancelhas, intrigada de como ele tinha se referido a Eva.

– Espere, você a chamou de vadi... – Aiko se censurou quando notou a malícia na expressão do Sakamaki. – Esqueça.

Ela não tinha nada que haver com as besteiras que se primo falava, nunca teve, mas preferia deixar explícito entre eles que não aprovava suas manias promíscuas de tratar as noivas, apenas por não se dar o luxo de ser comparada com eles.

– Ela poderia ficar menos curiosa se vocês nos permitissem, deixar ela a par de todas as coisas...

Laito riu, satirizando da prima.

– Não é um bom momento, sabe...– Importunou ele. – Meu irmãozinho, meio que, quase quis matar todos nós e eu "passei dos limites" segundo Reiji...– Ele a olhou dos pés à cabeça. – Não seria agradável para a alma frágil dela, presenciar o quão ruins vocês podem ser com as palavras.

Aiko foi calada, por instantes ela jurava ter sido posta em seu lugar. Em partes ela concordava com Laito, não era o melhor momento, mas manter a jovem na ignorância era perigoso, não estavam a protegendo, estavam apenas a induzindo a ficar alheia aos acontecidos, assim como eles, ela e Miazaki logo no início de suas vidas eternas.

– Será perigoso para um alguém como ela ficar nessa ignorância.– Proferiu Aiko virando-se para retornar para mansão. – Apenas porque você e seu irmão acham que ela muito frágil.

Ela o abandonou no roseral vazio, sem argumentar mais nada, naquele momento Aiko apenas queria uma xicarazinha de café, nada além disso. Se encontrar assombrada pelos atos Sakamaki Shuu na noite anterior, não era algo que queria e procurar Eva para persuadi-la em busca de saber como derrubou Rei, com Miazaki havia aconselhado também não era seu objetivo a hora da manhã.

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O cheiro doce de açúcar derretido se misturava com característico odor de chocolate, a cozinha não estava mais uma bagunça, limpa e aconchegante, algumas horas repondo a lenha no fogão e segundos retirando os utensílios sujos da pia e guardando  

Distinct Origins - Diaboliks lovers (AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora