Antese de agora: 22:22

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Nada estava sendo sufocante quanto ver suas feições rubras refletidas no espelho, não era de bom tom começar a se julgar por um erro que não havia cometido. Constrangedor e tenso imaginar que nem a mais bela roupa a deixava esconder sua melancolia, suas mãos tremiam e ela mal conseguia se reconhecer com aquela angústia arranhado seu coração. Algo vazio lutava contra suas emoções, algo bruto que quase a fazia perder as forças, Komori batalhava pelo controle de seu corpo.

Soluçava baixo sentada sobre o gélido mármore do banheiro, fugir da despedida e do último encontro de Ruki foi consolador para sua mente pos ruína de um relacionamento, correr para longe dos julgamentos repulsivos de seu único amor tinha sido uma das suas melhores decisões. O que a machucava completamente e fazia as forças de seu corpo diminuir, era o fato repetitivo de Ruki a decretar herege para quem quisesse ouvir, Yui quase estava começando a duvidar de si mesma, tentando relembrar se em algum ocasião havia falhado com a lealdade.

– Me desculpe, Ruki-kun...– Chorava ela afagando as mãos contra o rosto.

Um estrondo da porta a fez ficar em silencio.

– Que noite incomoda... – Balbuciou Sakamaki Kanato trocando os passos indo em direção à cabine do banheiro.

– Deixe de ser estupido com as coisas! – Advertiu Aiko puxando violentamente a porta atrás do primo, evitando uma vergonha. – Bêbado inútil...

Como se algo tivesse eletrizado seu corpo dos pés a cabeça, a presença empapuçada dos olhos marejados de Eva, fez Aiko não conseguir expressar nenhum gesto. Analisar o estado de Komori era de deixar qualquer um sem palavras, deixaria até seu julgador sem alma de vê-la naquela situação, principalmente no momento em que a jovem desviou os olhos dos dela rapidamente. A vergonha a fazia se encolher e remexer contra aqueles babados de seu vestido bordo.

Aiko estava bêbada, não totalmente como seu primo, acreditava ainda conseguir distinguir um banheiro para visitas e um privado, sabia que Eva estava naquele lugar porque pensava que não seria encontrada até o momento que estivesse apresentável novamente.

– Me deixe sair daqui!– Resmungou Kanato percebendo que havia sido tratado dentro da cabine.

– Espere quinze minutos, por favor...

Aiko se abaixou de joelhos perto de Komori. Era como tentar pegar um pássaro que tinha caído do ninho.

– Não sabe como vai voar sem apoio agora, ma chérie. – Conscientizou ela para a temerosa Eva, que aos poucos tentava se recompor novamente. – Desculpe, mas quase todos nós já temos conhecimento do que a aflige.

Mesmo sendo um resquício robótico de empatia, Komori envolveu Aiko em um abraço desesperado, precisava de apoio e mesmo que fosse daquela maneira, ela aceitava ser confortada apenas por um abraço mal jeitoso da única pessoa que parecia ser minimamente direta naquela mansão.

– Você deve ficar bem daqui algumas horas.– Comentou Aiko dentro do interminável abraço. Ela não obtive resposta, acreditando ter sido precipitada. – Dentro de alguns dias, talvez?

Aquela incerteza em sua voz fez Eva chorar mais.

– Caralho, Yumeriko abra essa porta!– Um soco foi diferido contra a madeira, fazendo as tensas pessoas se levantarem em sobressalto.

Em sincronia quando ambas estavam frente a frente o espesso espelho sem bordas, elas reconheceram a semelhança que tinham. Eva engoliu o choro em resposta ao seu ar intrigado, enquanto Aiko se fazia de descrente tocando o próprio rosto com leves batidinhas nas bochechas. Sobre aqueles reflexos elas acabaram tendo o mesmo raciocínio, estava sendo algo de mais para uma noite, adrenalina melancólica que seus anseios já estavam consumindo, seria de mais levantar uma suspeita em um momento como aquele.

– Você precisa fingir que não foi abalada por isso.– Cortou Aiko enxaguando o próprio rosto em água corrente. – Se ele ama como os humanos.– Entonou ela voltando-se completamente para Komori.– Ele virá atrás de suas explicações e pedirá desculpa ter a machucado. – Aiko pegou outra toalha do armário e alcançou para Eva.

Sem dizer mais nada, ela simplesmente tirou Kanato reclamando do banheiro após se certificar que ele não incomodaria mais.

Ma chérie, vou esperar você aqui fora.– Sorrindo como o habitual, Shimizu fechou a porta central do banheiro.

Sentindo a completa exaustão Aiko suspirou, afundou os dedos envolta dos fios de cabelo e se escorou contra a parede, estava sendo uma nevasca de informações e cada segundo que passava ela se submetia a pensar que não sabia mais o que fazer, não tinha certeza se os mestiços haviam desistido de matar Eva, o que fariam com os ressuscitados se mais uma vez entrassem na mansão...

– Espero que eles se casem. – Resmungou ela ao lógico pensamento de unir Laito e Eva logo, antes de matar-lo.

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Pela segunda vez quando o relógio de parede ressou o primeiro horário da manhã, seu estridente som ecoou por toda a mansão e quase como sempre ninguém acordaria, era possível sentir o ar tenso da neve cobrindo os arredores e distinguir a percepção de prisão que o lugar emanava. Porém foi quando a morbidade surrou nos ouvidos do pesadelo de Eva, que alguém acordou.

Um sorriso finamente desenhado, ironizava a própria vida miserável de Eva, a insultava por sua fraqueza perante um homem. Era demais para ela agradecer por ter permitido usar seu corpo até que a jovem se recuperasse, por isso não o faria.

– Não se acostume criança.– Repreendeu Cordelia sentido a alma de Komori se afastar do controle daquele corpo. – Estou aqui por o que tudo indica eu perdi um dos meus enteados.

Antes que Eva pudesse ter uma prévia reação, seus lábios foram cobertos por um pano.

Colocando a camisola de cetim, apreciando a sensação de como era sentir matéria e os tecidos depois de meses, Cordelia caminhava pelo quarto a procura de acessórios e maquiagem para estar apresentável ao amanhecer.

– Pobre a garotinho...– Suspirava a Sakamaki ao pincelar os lábios com a coloração avermelhada do batom.– Precipitado como o próprio pai. – Ela amassava as mechas loiras para dar mais volume ao cabelo ondulado.

Quando o quarto ficou com o cheiro forte de perfume que Cordelia retirou do cômodo. Autoritária ela fazia questão de deixar sua presença bem marcante, fazendo o som de seus saltos ressoarem por quase todo o corredor.

Ela sorria de nervoso, não sabia o que encontraria no porão. Tinha visto de quase tudo quando ainda tinha seu corpo, mas o frio que corria sobre sua barriga ao pensar em que estado encontraria um corpo morto de um ser como ela não era de bom grado.

– Ayato! – Gritou ela ao pé da escada, quando seu corpo se negava a caminhar mais.– Acorde agora!

Não teve resposta alguma e acreditando que se fosse atrás do filho não teria coragem de fazer o que tinha intuído, Cordelia se esforçou um pouco mais e conseguiu manter a boa consciência até chegar na porta de seu objetivo.

Limpando a garganta e sem proferir uma batida na porta se quer, ela adentrou o quarto.

Um meio passo para trás disse tudo que seu espanto não conseguia dizer.

– Sempre dormindo... – Sorria ela, escondendo as mãos trêmulas de nervoso.

Poderia confessar que não esperava o encontrar sereno naquela forma, mas estava aliviada por não o encontrar morto brutalmente.

Distinct Origins - Diaboliks lovers (AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora