Intervalos trilhados: 12:39

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Com as costas contra o couro do banco principal, fitando o distante foi pisado no freio, depois tensamente na embreagem e a marcha foi posta em ponto morto, vagarosamente a embreagem foi solta, hesitante a chave do carro virou-se e o motor deu um falho sinal, a dúvida ressoou, porém novamente tentou e houve resposta, engatando a primeira marcha e abaixando o freio de mão. Não sabia muito o que estava fazendo, aquilo não era uma moto, dirigir era algo muito distante para si, mas agora o vendo mover-se com simples controles, parecia fácil.



Mesmo com dúvida Aiko tentou usar seus poderes, teria que limpar a neve do caminho e não tinha outra alternativa. Quando densas nuvens cinzentas emergiram dentre a neve, seus olhos chegaram a brilhar, um pingo de esperança em um copo vazio caiu e Aiko observava atenta os poucos espelhos presentes arrastando a neve, quanto mais ela guiava o carro pela estrada percebia que os fantasmas apresentavam fragilidades, o que estava sendo peculiar, mas mal tinha voz para falar que não tinha condições de questionar, era visto que havia ocorrido uma batalha.

Quando conseguiu atravessar a primeira estrada, ela seguiu sem hesitar por aquela que deixaria em liberdade. Um trajeto exaustivo sem muita velocidade, a fez recordar da noite úmida que com petulância marcou sua realidade atual.

Dentro do veículo pouco se sabia distinguir quem era seu dono, mas que ele tinha uma certa despreocupação com as chaves estava óbvio, dentro do porta moedas haviam quatro cédulas de 50 ienes, que a garantiam uma entrada em um daiso.

Quando chegou frente a frente ao portal, Aiko parou o carro e abaixou o vidro, sentia em seu dever de agradecer, desceu do carro e diante da sete últimas sombras, ela se reverenciou em agradecimento por seus serviços, inconscientemente sabia que o gesto de respeito valia muito mais do que promessas de paz. Os espelhos se misturaram com a neve e desapareceram.

O carro foi novamente direcionado ao destino e Aiko recostou-se com leveza para seguir longe daquela mansão, onde agora não existia mais nada.

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Estava anoitecendo na estrada que antecedia Yokohama, a atmosfera de final de inverno delatava que haviam se passado alguns dia, as horas estavam desconexas em comparação ao o portal que leva a mansão. as movimentações repreendiam qualquer pensamento calmo, todos os veículos corriam. Ao redor as árvores se retorciam por causa do vento, a imagem familiar causava indiferença que alfinetava sua vontade de acelerar junto aos outros e fugir.

Se esconder, mas esconder-se do que exatamente não se sabia, Aiko políciou seus pensamentos, era para estar em segurança entre os humanos mais ao seu redor parecia lhe apresentar o contrário. Não conseguia esbravejar e isso já estava começando a enlouquecer, tinha passado mais de meia hora na estrada e a dor não cessava, pensava que não conseguiria voltar mais a falar, que derrotada pelos pensamentos resolveu parar o carro no acostamento e elaborar um meio de se recuperar sem tumultos.

Pegou uma caneta no porta luvas e escreveu em seu antebraço " preciso de roupas, preciso de um banho quente, um whisky e de dinheiro, tenho que voltar a falar e ficar longe, muito longe dos Sakamaki e principalmente de Mina"

Quando ela ergueu o rosto para frente, a caneta caiu de suas mãos e o pouco de coerência de seus pensamentos desapareceu.

Uma sucessão de redemoinhos arrancaram árvores e elevou os carros ao ar, seres mestiços avançaram em direção aos humanos e os mataram, o descontrole se difundiu, os carros colidiram uns com os outros, os alarmes dispararam e os gritos se uniam ao cheiro de sangue como resposta ao pavor, aquela situação não era descritível aos olhos de Aiko. Quase com um reflexo ao ver os redemoinhos avançando para perto de si, ela ligou o carro e empurrou o freio, colocou o carro em marcha ré e acelerou virando para a esquerda ultrapassando os limites da estrada.

Sentindo a adrenalina aflorar seu desejo de fugir Aiko trocou a marcha ré e pois em primeira, o carro sofreu os efeitos da troca rápida e quase colidiu contra uma árvore, pela segunda vez ela tentou descontroladamente avançar e conseguiu fazer com que saísse do lugar, contornado o tumulto de ataques e retornado para a estrada.

Percebendo um pouco de cada emoção ela quase, desmoronou, as lágrimas transbordavam dos esverdeados olhos, mordiscando os lábios e angustiada não parava de pensar o quão aquilo a preocupou

Nunca tinha visto nada parecido, e não tinha nenhuma ideia do que poderia significar, ressuscitar era agora um problema, principalmente por apresentar coisas que não queria ver, e ainda mais por manejar sua vista e deixar suas mãos trêmulas.

A estrada cheia de barulhos de sirenes, e motoristas desesperados como ela, não ajudava nos seus pensamentos.

Aiko precisava se refugiar muito longe, longe até daquilo que sentia.

Quando chegou a Yokohama a última coisa que pensou era que poderia esquecer o perigo iminente, principalmente por ver mestiços sobrevoando a cidade em forma de morcegos. Boquiaberta Aiko reduzia a velocidade com objetivo estacionar frente a uma conveniência a qual torcia para que vendesse curativos.

Quando colocou uma jaqueta esfarapenta que tinha achado no banco de trás, cobriu o pescoço e qualquer parte de seus braços que estivessem machucados.

A sineta do alto da porta soou, e a luz branca do estabelecimento fez Aiko se incomodar e correr o mais rápido para um corredor menos iluminado. Pegando tudo que acreditava que iria precisar, ela caminhou até o caixa com sua recém achada caixa de ataduras.

– Sakamaki-san?

Uma voz desconhecida rompeu os chiados pensamentos de Aiko, a fazendo erguer o rosto e vendo que do outro lado do balcão de atendimento se encontrava um total desconhecido idoso.

– Você é Aiko Sakamaki, certo?– Corrigiu o homem com menos empolgação.

Aiko acenou em concordância.

– Nossa que bom, porque eu trabalhei por anos para vocês e estaria muito surpreso se Shuu-sama já tivesse tido uma filha.

Acenando em discordância e meio incomodada com a teoria absurda daquele senhor.

– Me desculpe. – O homem começou a passar as compras.– É que sempre achei vocês dois muito parecidos e a vendo tão diferente poderia ser alguém da terceira geração.– ele riu disfarçando o nervosismo.

Aiko mediou a cabeça para os lados aceitando que por serem loiros era compreensível ser comparada.

– Minha esposa esta vendendo um alisador de cabelos, a senhorita gostaria?– Desconversou ele achando que a formalidade seria a maneira correta de a tratar.

Aiko foi pega de surpresa com a oferta que por reflexo passou os dedos entre os cabelos acreditando que estavam mais bagunçados que o normal.

– Não, não estou julgando os seus.– Interrompeu o senhor – Me desculpe é que faz vinte anos que não vejo um vampiro na minha frente e de todos a senhorita foi a que menos tive convívio.

Ela sorriu, seus olhos se fecharam em riso sincero.

– Eu fui taxista antes de me casar e continuei por um bom tempo, antes Hana-san morrer.– Suspirou o homem e Aiko dar atenção a ele totalmente para o que estava dizendo.– Ela falava da senhorita e de como não gostava de sair muito da mansão, mas que "era a melhor dentre os menos piores" e eu acho que é porque a senhorita não é de falar muito– Sorriu o senhor aguardado alguma reação de Aiko

Aquele humano parecia saber mesmo quem ela era, que Aiko mal sabia como reagir apenas por ouvir o nome da Hana.

– Na época em que eu conheci Hana-san, eu trabalhava pouco para sua família e ia só quando ninguém mais queria ser assombrado...– Relembrou pondo as compras de Aiko em sacolas.– Ela era muito gentil...– Sua voz ficou murmurada.– Dinheiro, cartão ou na conta de Kanato-sama como antes era feito.

Aiko sorriu com a terceira alternativa, uma sensação de aproveitadora se uniu a sua precaria situação, pegou o papel de comanda e uma caneta, escreveu para que deixasse na conta de Kanato, e que também queria a prancha para alisar os cabelos.

Distinct Origins - Diaboliks lovers (AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora