Liv Moyer
Alguns minutos ou horas se passaram desde que Paola saiu. E eu estou encostada na parede urrando de dor devido as contrações. Ainda estou de 8 meses, não sei se isso pode afetar o bebe, mas sei que ele está bem agitado aqui dentro. Estava fazendo força involuntariamente, meu próprio corpo estava tentando tirar meu filho, mas não tinha condições de ter um parto aqui, principalmente pela falta de higiene.
Minha única saída era gritar, não de dor, mas de desespero. Se eu não fosse levada ao hospital meu filho ia acabar morrendo, minha preocupação não era eu, e sim, ele.
Acho que nunca gritei tanto, as contrações começaram a ficar mais fortes e eu tinha certeza que não ia sobreviver. E aparentemente, meus gritos incomodaram uma certa pessoa.
- CALA A BOCA SUA PIRRALHA!!! – Gritou Paola entrando na sala. – Estamos com problemas e não consigo pensar com você gritando assim.
- Por favor!! Me ajuda, minha bolsa estourou, meu filho está morrendo aqui dentro, só tira ele daqui você pode fazer qualquer coisa comigo depois, mas salva ele.
Aquela risada sombria de novo, ela só podia estar louca em um nível tão alto, a ponto de rir de uma mulher em trabalho de parto pedindo para salvar o filho. Ela é esquizofrênica.
- Own, você está pedindo ajuda para tirar essa coisa de você? Que bonitinho, até onde vai o amor de mãe? – Perguntou se ajoelhando na minha frente e apontando a faca em minha direção.
- Ele vai até onde eu conseguir suportar, diferente de você, eu amo meu filho e preciso tira-lo daqui. – Gritei mais uma vez sentindo outra contração.
Antes que ela pudesse responder ou revidar, o mesmo homem de mais cedo escancarou a porta e falou ofegante.
- Senhora, eles estão aqui. Estão em seis carros, os vi na estrada. O que faremos?
- O QUE???? Como eles nos acharam? – Berrou andando de um lado para o outro.
- Provavelmente Enzo está ajudando eles, senhora.
- Aquele arrombado do caralho. – Gritou jogando a faca contra a parede. – Eu devia ter matado ele quando tive a chance. – Fez uma pausa e continuou. – Leve ela para as salas aqui embaixo, eu vou dar um jeito nessa bagunça, fazer parecer que nunca estivemos aqui. Trate de colocar alguma coisa na boca dela, ela está em trabalho de parto.
Ele me pegou pelos braços para me levantar e pude ver sangue no chão, era mais que certo, meu filho estava morrendo, eu estava morrendo. Me pegou no colo quando viu que não conseguia andar, abriu uma tampa no chão e descemos para um corredor com várias portas, esse lugar fedia, parecia que alguém tinha morrido aqui. Ele abriu uma porta e me jogou dentro da pequena sala, parecia um canil, com várias correntes na parede e uma tigela no chão. Senti sua presença atrás de mim e colando um lenço na minha boca, eu já não estava aguentando mais, minhas forças estavam indo embora e eu quase não sentia mais meu filho mexer. Ele não pode ter morrido.
Chorava e gritava ao mesmo tempo, a dor da contração e a dor da possível perda que tive. Senti mãos pesadas nos meus cabelos me puxando e praticamente os arrancando, era certo, eu ia morrer.
- Se você não calar a boca, eu mesmo te mato. Entendeu? – Perguntou puxando meus cabelos.
Apenas concordei com a cabeça e escorreguei pelo chão novamente, coloquei minha mão na barriga numa tentativa de manter meu filho comigo, até que escutei um barulho, passos pesados no assoalho, parecia algumas pessoas invadindo o andar de cima.
Era ele. Meu Alec! Eu tinha certeza que era.
Senti Lorenzo chutar minha barriga, fraquinho, como se me dissesse que ainda estava ali. Só podia ser um milagre.
Os passos foram chegando mais perto, e pude ver o homem a minha frente ficar com o corpo tenso. Essa era minha deixa.
Com a mísera força que eu ainda tinha no corpo, gritei. Gritei o mais alto que consegui, queria mostrar que eu estava ali e estava viva. Mas meu momento de glória não durou muito.
Até ficar tudo escuro a minha frente.Alec Mancini
- ALEC!!!!!!!
Ouvi seu grito. Alto, estridente e cheio de dor e angústia. Era ela, minha doce Liv. Depois de ouvir o seu grito, eu paralisei alguns segundos, meu corpo não queria responder aos meus comandos, era como se minha mente estivesse tentando pregar uma peça em mim, depois de dias sem vê-la, apenas com a dor da saudade, não seria surpresa ter alucinações agora. Não ouve outro grito, depois disso apenas o silencio podia ser ouvido, foi quando meu corpo reagiu. E corri, abri todas as portas a chamando, tinha chegado na última e estava quase convencido que eu mesmo tinha me pregado uma peça. Abri e lá estava ela, com um vestido branco, deitada no chão e cheia de sangue, corri em sua direção e apalpei seu rosto sem cor. Ela não podia ter morrido, não agora, depois de tudo que passamos e ela passou. Grávida, sozinha, com medo e sem esperança de que eu a encontrasse. A peguei em meus braços e corri para um dos carros, Anthony e Enzo vieram comigo enquanto meus seguranças vasculhavam o local em busca de Paola, duvido que ela tenha feito tudo sozinha, devia ter alguém com ela, mas naquele local, não tinha ninguém.
Anthony estava dirigindo com Enzo no banco da frente, eu estava atrás com Liv no meu colo e a todo momento olhando seus batimentos cardíacos e respiração, ainda estava viva, mas a cada segundo, ficava mais fraco. Temia pela vida de meu filho, tinha muito sangue na barriga dela e a cada minuto, ela ficava mais pálida.
- Anthony, vai mais rápido, por favor. Ela está morrendo. – Pedi chorando.
Senti ele acelerando mais ainda, tinha certeza que o carro já estava a mais de duzentos por hora. Enzo estava nervoso, a todo momento olhava para trás e seu olhar estava perdido, como se algum tipo de culpa o rondasse.
- Quer dizer alguma coisa, Enzo? – Indaguei olhando em seus olhos pelo retrovisor.
- Só queria lhe pedir desculpas, de qualquer forma, por mais que eu tenha saído depois, eu incentivei Paola a fazer tudo isso. Só não imaginei que chegaria a esse ponto. Vendo você nessa situação de angústia e desespero, me imagino no seu lugar se acontecesse alguma coisa com Alicia, pela primeira vez eu sei o que é amar e ser amado. Sinto muito por tudo isso, tenho certeza que Liv e seu filho ficarão bem, ela é uma mulher forte e duvido que desistirá fácil.
Suas palavras realmente me tocaram, nunca imaginei que estaria no mesmo ambiente que Enzo ser brigar ou trocar farpas. Sempre olhei a história pelo meu lado, mas Enzo sofreu muito na infância, seu pai não era como o meu, era rígido mas sabia dar amor quando precisávamos. Diferente da situação dele, o pai sempre foi muito ausente e cobrava muito do filho que na época era apenas uma criança. Eu e ele temos a mesma idade, mas as situações que a vida lhe fez passar, fez com que ele parecesse mais velho.
Antes que eu pudesse responder, Anthony parou o carro no estacionamento de emergência do hospital, saímos às pressas do veículo e já via muitos médicos e enfermeiros vindo na nossa direção. Liv foi colocada em uma maca pelos paramédicos e ligaram vários tipos de aparelho nela, inclusive uma máscara inaladora para ajudá-la a respirar. Como todos sabiam quem eu era, eu não tive que dar explicações nenhuma, apenas olhei para um dos médicos que conhecia e implorei que a ajudasse.
Não podia perde-la. Ela é a luz da minha vida.
[...]
Duas horas já tinham se passado desde que chegamos.
Eu andava de um lado para o outro, sentava, levantava, tomava café. Tentava qualquer coisa que me distraísse por pelo menos alguns segundos. Anthony tinha ligado para Amália para contar o que tinha acontecido. Ela, Alicia e Dionísio estavam vindo para cá. Enzo estava sentado em uma cadeira afastado de nós, acho que era a hora de conversar com ele.
- Enzo? – O chamei. Parecia estar cochilando. – Queria te agradecer, pelas palavras no carro. Sei que está arrependido, e relaxe, não guardo rancor ou ressentimentos de você, na verdade, o admiro pela coragem de ter chegado na minha casa, totalmente desarmado e ter me contado a verdade. Sobre a louca da Paola e sobre a máfia Russa. Sei que deve estar pensando que vou tira-la de você por ser minha por direito, mas assim como meu pai, eu também não consigo administrar duas máfias sozinho. Receba isso como uma oferta de paz, uma era sem brigas e novas alianças. O que acha? – Estendi a mão em sua frente e pude ver seus olhos com lágrimas.
Me surpreendi com ele me abraçando.
- Pô cara, valeu. Peço desculpas de verdade, e agradeço também por não tira a máfia russa de mim. Gosto do que faço e construí lá. Queria falar outra coisa também... – Fez uma pausa e olhou para baixo. – Emma, eu não a amava de verdade, eu apenas estava com ego ferido por ela ter me trocado por você, a raiva me consumiu e eu não pensei, apenas agi e tirei de nós dois uma pessoa incrível. Você realmente amava ela, eu apenas não aceitava perder, conheci o amor de verdade, ao ver aquela cabeleira loira ali.
Apontou para sua namorada e nossa miniplateia. Amália estava abraçada com Anthony que tinha lagrimas nos olhos, meu abençoado irmão nos olhava com um sorriso no rosto e Dionísio tinha um olhar orgulhoso. Alicia estava um pouco tímida mas podia ver felicidade em seu olhar também, provavelmente ela conhecia nosso passado.
- Podemos dizer que decretamos paz entre ambas as máfias e recomeçaremos uma amizade antiga. – Disse a plateia a nossa frente e todos riram.
Até que vi uma mulher, em um avental de hospital vindo em nossa direção. Meu sorriso morreu ali.
- Familiares da Senhorita Liv Moyer? – Chamou olhando uma prancheta em suas mãos.
- E..eu. Sou o noivo dela. – Minha voz saiu entrecortada devido ao desespero e angústia ao saber o resultado de tudo isso.
- Por favor, Senhor Mancini. Me acompanhe. – Olhei para as pessoas que estavam ali comigo e me incentivaram a ir.
A segui no automático, até pararmos na porta de um quarto e a médica chamar minha atenção.
- Ela sofreu muitos machucados pelo corpo, levou duas facadas: uma na barriga e outra na região externa na coxa. Felizmente, a facada na barriga não atingiu o bebe, a bolsa dela estourou provavelmente pelo estresse e adrenalina e a alta exposição a tortura. Ela teve duas costelas quebradas e muitos ferimentos nos braços, devido à grande perda de sangue por ter demorado a iniciar o parto, ela desmaiou e ainda não acordou. Ela se encontra estável e. – Ela fez uma pausa e me olhou com um sorriso. – Parabéns Papai, o seu filho é lindo e saudável.
Ela abriu a porta do quarto e eu entrei devagar, apenas analisando. Liv estava com uma expressão serena no rosto e parecia estar apenas dormindo tranquilamente. Ainda tinha aparelhos conectados nela a ajudando respirar. Suas roupas foram trocadas e não se via mais nenhum vestígio de sangue pelo seu corpo, a não ser os hematomas causados pela tortura. Fui em sua direção, abaixei-me e depositei um pequeno beijo em sua testa. Sussurrei em seu ouvido que a amava e ficaria tudo bem.
A médica abriu a porta do quarto pela segunda vez, e vi um pequeno berço azul entrando. Meu pequeno Lorenzo! Cheguei perto de seu berço e o vi com um macacão azul claro e enrolado numa manta branca, ele dormia sereno e fiquei com medo de chegar muito perto ou pega-lo no colo.
- Pode pega-lo senhor Mancini. – Disse o pegando e dando em meus braços. – Seu filho foi um milagre, mesmo depois de todas as situações que a senhorita Moyer passou, ele não teve nenhum ferimento. De qualquer forma, não sei se o médico de vocês falou, a senhorita Liv não chegaria a nove meses. O bebê é muito grande para ela, mas isso não afetou em seu desenvolvimento, ele é forte e muito saudável. Fizeram um bom trabalho.
Eu apenas sorri para ela e voltei minha atenção ao pequeno serzinho em meus braços, senti a nossa conexão assim que olhei para ele, e em Italiano, sussurrei.
- Sei il mio miracolo! (Você é meu milagre!) – Deixei minhas lagrimas caírem. Ele se remexeu um pouco em meus braços e logo voltou a dormir.
Olhei para a cama e vi ela se movimentar. Olhei para médica com uma expressão confusa e ela foi para a porta chamar uma enfermeira. Cheguei perto da cama com Lorenzo no colo e a vi abrindo os olhos devagar. Seu olhar encontrou o meu e suas palavras saíram quase inaudível.
- Amor?.......
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Ma Belle
RomanceLiv Moyer, uma menina simples e com infância conturbada, perdeu os pais nova e foi mora com sua vó, o que ela não sabia era que literalmente em uma noite toda sua vida mudaria drasticamente. Alec Mancini, um grande mafioso e com um passado misterio...