Capítulo 13

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Alis

   Depois da tempestade vem o arco-íris. Mas, e se na verdade, no meu caso, ser "Depois do arco-íris virá a tempestade?".
   Não consigo parar de pensar que as coisas estão boas demais para ser verdade. Essa sensação é constante, a cada beijo, a cada escapada a cada noite cheia de sexo e palavras bonitas. Não tem como isso ser real...essa felicidade ser real.
   De frente para o espelho encaro meu reflexo com dúvida.
   O que vai acontecer? Como isso pode dar certo? É impossível. Quem ver de fora vai achar nojento, esquisito. A protegida namorando o tutor, o homem que deveria ser seu pai. Mas como eu não poderia? Ele é tão gentil, atencioso e beija tão..tão bem. E tem aquela coisa com a língua...
   Não, foca Alis!
   É sua vida, seu futuro e seu coração em jogo. Porque se der errado...se der muito errado, o que pode dar, eu vou sair quebrada demais para conseguir ser concretada.
   Eu gosto dele. Gosto mesmo dele.
   Dias batidas na porta e então cabelos vermelhos entram em meu quarto. Lily tem estado aérea e feliz, como se a vida dela tivesse sentindo. Ah, que invejosa. Estou com ciúmes de uma garota de doze anos!
— Você não acha que o papai está felizinho ultimamente? Ele tá tão estranho. Você não vai acreditar no que ele disse agorinha. — Ela se deita na minha cama, a barriga para cima.
— Hum, o que ele disse?
— Que nas férias nós vamos para a Disney. Isso não é incrível? Por um momento ele parece o meu pai, sabe? Antes da mamãe...
— Não, não parece. Seu pai naquela época era mais jovem, tinha umas ideias malucas.
— Ideias malucas?
— Sim, ele queria comprar um trailer na época para sairmos viajando pelo país. Rafaela quase infartou quando ele contou a ideia a ela.
— Sério?
— Hunrum.— Me viro, indo para a cama em seguida e me sentando no colchão. — Eles eram o extremo oposto, sabe?
— Dizem que os opostos se atraem, certo? Acho que no caso deles era desse jeito.
— É, é assim.

~•~

    Com o garfo retiro a gordura da carne. Eu não gosto muito de pedaços tão gordos, mas Geron, melhor amigo e sócio de Logon, adora pedaços assim.
    Hoje, Geron e a esposa vieram jantar conosco. Eles são amigos antigos e são mais que bem vindos, mas algo, não sei bem o que, está me deixando incomodada.
— Ah, eu sei bem. Duvido que todo esse tempo você esteja solteiro! Vai, conta, já deve ter um na sua rede. — Diz Geron, balançando o garfo enquanto gesticula.
— Não, eu não tenho. Tô dando um tempo, sabe?
   Dando um tempo embaixo do meu edredom. Será que para ele só é isso? Uma ficada? Sexo casual com a protegida?
   O que eu comi vira chumbo em meu estômago e eu tenho que me esforçar para não vomitar.
— Eu vi Charlotte outro dia, ela disse que estava...como é mesmo "muito melhor sem você". — Diz Verônica.
— Fico feliz por ela.
— Não seja um santo, Logan. Uma mulher como aquela você não vai encontrar em qualquer lugar.
— Talvez na esquina.
— Como, Alis?
   Droga. Puta merda. Eu falei alto demais? Fecho os olhos e conto até três.
— Eu disse...eu disse — Droga, Alis! Pensa em algo.
— Charlotte a megera, não é boa para o meu pai tio Geron. — Diz Lily, com o tom de deboche. — Ela é uma..como se diz? Ah, é, Vaca.
   Boquiabertos em choque pela opinião de Lily, fico aliviada pela atenção ter saído de mim.
   Salva pelo gongo, ou pela sua irmã linguaruda.

   O jantar se encerrou rápido, muito por Lily dizer que eles sempre passam tempo demais conversando sobre direito e que ninguém era obrigado a escuta-los. Logan, no entanto, não gostou nem um pouco dos comentários de Lily, mas aguardou até que todos saíssem para falar com ela.
— Você não pode falar com os outros daquele jeito. É falar de respeito, Lily.
— Eu só expressei a minha opinião. — Ela da de ombros.
   Ah, isso não vai dar certo.
— Uma coisa é expressa sua opinião e a outra é dizer ao seu padrinho que ele tem o mal hábito de cuspir enquanto come.
— Mas ele tem!
— Sim, mas não se joga isso na cara dele durante o jantar! — A voz dele se altera, chegando a gritar.
— Lily, querida, o seu pai tá certo. Mesmo que seja muito nojento ter comida mastigada voando durante uma refeição, aquilo machucou o Geron. Lembra quando o David implicava com você? — Ela balança a cabeça em afirmação. Os braços dela abraçam o próprio corpo e o rosto se abaixa, olhando para os próprios pés. Ela está começando a entender onde errou. — Então, foi assim que você fez o Geron se sentir.
— Tá, me desculpa.
— Não é a nós que tem que se desculpar. — Diz Logan, chamando a atenção da filha. — Vá pro quarto, tá na hora de dormir. Amanhã você liga pro seu padrinho e pede desculpas, ok?
— Tá, eu vou pedir. — Ela suspira em alívio. — Alis, você vem?
— Eu já vou indo, pode ir na frente.
   Eu tenho algo a dizer para o seu pai.
— Tá bom.
   Lily se afasta, saindo da cozinha e indo em direção as escadas. Não demora muito para que ele se aproxime. Os braços rodeiam minha cintura e a boca distribue beijos em minha nuca. Os arrepios que se sequem quase me cegam.
— Vamos subir? Ou aqui mesmo?
— Hoje não. — Ele para, como se eu tivesse lhe dado um choque. Me viro, a fim de querer ficar de frente para ele. — Não sou uma transa para quando se necessita. Você está solteiro, não é? Então aproveite o colchão frio.
   Me afasto bruscamente, me livrando dos seus braços. Com cada passo firme e com o coração batendo na garganta, subo as escadas quase correndo e de longe eu o escuto, gritando o meu nome.
— Alis!

Nota da autora:

Oi, tudo bem?
Eu tô sumida, eu sei. Mas eu vou tentar, não prometo nada, voltar a postar toda semana.

Feliz 2022!
XOXO,
Ani Melo.

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