Capítulo 19

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Alis.

   Lily olha para mim novamente. Desde que nos sentamos no sofá da sala para assistirmos tv, Lily vem me encarando entre a escuridão. Os cabelos vermelhos estão trançados, deixando o rosto dela visível e facilmente perceptível.
— Você dispensou Cindy hoje, por que? — Ela finalmente pergunta.
   Cindy e eu discordamos quando o assunto é sair para festas. Eu prefiro as mais tranquilas e seguras, já ela não se importa se no final da noite estará apagada no beco, a consciência em um mar de psicotrópicos. Ela está passando dos limites e eu a advertir, não brigamos, nunca chegamos a isso, mas fui firme quando disse que se ela não diminuísse o ritmo eu contaria tudo para os seus pais. Cindy não gostou, achou que eu estava a controlando, mas no final da conversa prometeu que pegaria leve.
   Já tivemos essa conversa tantas vezes que já cansei de esperar que as palavras dela sejam reais. Nunca é.
   Mas, Lily não precisa saber desse meu dilema com a minha melhor amiga.
— Eu acabei de terminar as últimas provas, em pouco tempo eu vou ter que me mudar, vou para a faculdade, vou começar a viver uma vida sem descanso. Achei melhor ficar em casa, eu prefiro descansar antes da coisa esquentar.
— Ah, entendi.
— E você? Achei que fosse trazer a Manu e a Yasmin essa semana para uma festa do pijama.
— Ah, a Yasmin é uma vaca, mas você já sabe disso. Ela espalhou para todo mundo que a Manu pegou piolho da irmãzinha dela. Estão todos evitando a coitada.
— Minha nossa, e você, o que fez?
— Eu? Ah, eu não fiz nada. Eu não quero pegar piolho, sabe?
— Lily você sabia que nem todos tem condições de pagar por um tratamento adequado? Alguns tem que conviver com isso e se tratar como pode. E além do mais, quando você era mais nova ,você também pegou, se lembra disso? E ainda passou para mim! Nós tivemos como pagar o tratamento em uma clínica especializada, mas muitos não tem essa oportunidade.
— Tá pondo a culpa em mim da Manu ter pegado piolho?
— Não, Lily, estou dizendo que ela é sua amiga e que nós defendemos os nossos amigos.
   Ela bufa, e tenho certeza que revirou os olhos, mas é difícil ver com clareza já que a única luz é a da tv.
— Não sei o que aconteceu com você, Alis, mas nem parece você. Está tão chata ultimamente.
— Eu? Chata? Eu estou a mesma, na verdade eu que não tô te encontrando. Você nunca mais me acordou de manhã, nunca mais me pediu para arrumar seu cabelo. Nós conversavamos todos os dias e hoje eu mal consigo estar com você. Ou é no celular, ou está com as suas amigas, olha eu entendo que esteja passando pela...
— Você não entende nada, Alis. — Ela se levanta do sofá, jogando a almofada de volta ao acento. — Eu cresci, não preciso mais de você para fazer as coisa por mim.
   Algo pontiagudos e metálico foi fincado no meu peito.
— Fico feliz que pense assim, Lily. É um bom sinal. — Digo, mesmo falhando em evitar que minha voz delate o nó em meu peito.
— Eu vou subir, esse filme está super chato.
   E então ela se vai, subindo as escadas apressadamente.
   Quando foi que isso aconteceu? Quando foi que eu deixei de ser a irmã dela? Eu sei que a puberdade é difícil e que ficamos impossível, mas Lily estão totalmente diferente da menina que ela era. Meu peito se aperta e as lágrimas escorrem sem limites.
   Como que eu não vi isso acontecendo? Essa mudança? Eu estava cega? Eu deixei de notar? Não, não deixei. Eu simplesmente ignorei. Com Germa, comigo, com o próprio pai e com as amigas, Lily está tratando todos diferente. Não como se ela tivesse sido machucada, não como se ela estivesse com raiva, mas como se nenhum de nós importasse de verdade. Outro dia ela gritou com Germa e foi Logan quem a freiou. As piadas sem graça, a falta de limites, eu vi tudo, apenas ignorei achando que ia passar.
   Eu estava muito enganada sobre isso.
— Alis?
   Logan está na entrada da sala. Fiquei tão perdida em meus próprios pensamentos que nem ao menos notei que ele chegara. Ele se aproxima, deixando a maleta no sofá e se sentando ao meu lado.
— Ei, o que foi?
— Lily está em casa, ela tá lá em cima. — Sussurro para ele, o alertando.
— Eu só estou preocupado, nunca a vi chorando antes.
— Aqui não, por favor. Eu vou subir, a porta vai estar aberta, ok?

    Eu não sabia o que falar, não sabia se deveria dizer sobre minhas preocupações com Lily. Não sei se tenho esse direito. Eu sou a irmã, certo? Eu posso dizer que tem algo de errado, que ela não está normal. A puberdade é um momento difícil para qualquer um, e pode trazer muitos traumas na vida de um adolescente, então eu estou certa em está preocupada, não é?
    Uma hora depois Logan estou no meu quarto. Eu estou sentada na cama, com um moletom largo cobrindo o corpo e meias quentes. Ele não se intimida e sobe na cama, se sentando ao meu lado.
— Você está me deixando preocupado de verdade, Alis. O que foi que aconteceu?
— É a Lily. Você tem notado que ela está estranha ultimamente? Mais arredia? Ela brigou com Germa outro dia por causa de uma blusa, e hoje ela disse que não precisava mais de mim. Foi tão estranho, parecia que ela estava me expulsando da vida dela. Eu nunca a vi assim, Logan. Isso não é de Lily.
— Agora que você falou ela tem me chamado por gírias ultimamente. Velhote, coroa. Ela nunca foi disso. E também teve o incidente na escola.
— Que incidente?
— Ela foi pega tentando cabular aula, a professora me ligou e contou tudo. Eu conversei com Lily, disse que era errado. Ela não prestou atenção em nada que eu disse.
   A preocupação vai deixando a voz de Logan mais carregada.
— O que você acha que é?
— Eu não sei, ela fica fugindo de mim. Todos temos essa fase de rebeldia, só não achei que a de Lily fosse ser tão intensa. Ela era tão calma e amorosa. Eu realmente não entendo. — Mordo o lábio inferior. A dor é uma ponte para longe do medo. — E se ela descobrir sobre nós?Minha nossa, ela já não está bem. Logan isso vai ser uma catástrofe.
   As lágrimas rolaram novamente. Minha garganta está tão fechada que não consigo respirar.
— Ei, não se preocupe ainda com isso. — Ele me abraça. —  Vamos resolver isso e contar nós mesmo a Lily. Temos que fazer isso antes que ela descubra de outra forma.
— Ela vai me odiar, Logan.
— Ela ama você, não vão acontecer nada disso.
   Ele me aperta ainda mais contra o próprio peito. Consigo ouvir os batimentos carregados dele. Tum tum tum tum.
— Não quero que fique preocupada, mas Geron nós viu no hotel no outro dia. Ele já sabe sobre nós.
   Merda. Puta merda.
   Tudo está ruindo rápido demais.
— E o que ele...o que ele disse?
— Ele não gostou, claro que não, ele não entende. Mas prometeu guardar segredo, ele disse que o problema é meu para se resolver.
   Problema. Eu sou um problema na vida dele. Um empecilho. Uma pegadinha do universo. Eu sou o caos e a destruição, pelo menos para ele.
   Não posso fazer isso. Não posso destruir alguém que eu amo. O aperto ainda mais, querendo poder eternizar a sensação de tê-lo comigo.
— Logan...— Sussurro baixinho.
— Sim, meu amor. — Estou estilhaçada.
— Você pode me amar hoje? Pode fazer amor comigo como se fosse ser pra sempre? Como se o mundo não fosse contra nós?
— Alis, o que você está falando?
   Ergo a cabeça e encontro os olhos dele, preocupados e avermelhados.
— Que eu amo você, mas você já sabe. Mas também, que esse amor não pode ser vivido. Não vê? Vou arruinar sua vida.
— Você me salvou, Alis. Melhorou a minha vida, não destruiu...
— Mas eu vou, você vai ver.
   Ele segura meu rosto nas mãos e o ergue para cima. Meus olhos ficam fixos nós dele.
— Não fale mais isso, não fale nunca mais, ouviu? Eu amo você, e não me arrependo de nada.
— Você me ama.
— Eu amo.
— Então pode dar certo? Somos possíveis?
— É possível.
   E no mesmo segundo ele está me beijando como se fosse a última vez. As mãos dele descobrem meus corpo, puxando o moletom para cima da cabeça, me despindo. Eu o arranho, o beijo, o mordo. A blusa dele é fácil de se tirar , e pouco tempo depois a calça moletom encontra o chão. Somos lábios, mãos e sentimentos. Somos o fogo sendo ameaçado pela água, mas nesta noite vamos queimar.
   Ele se encaixa entre as minhas pernas. Sem preliminar, sem perder tempo, apenas a nua e crua vontade de estarmos unidos, de estarmos juntos. A língua dele traça uma linha entre meu pescoço e meus seios. Ele chupa um mamilo, e a dor é bem vinda e me faz esticar os dedos dos pés.
   Nossas bocas se encontram novamente, famintas e vorazes. Ele se encaixa, a glande entrando em mim. Nossas mãos se juntam, e com um impulso dos quadris ele está dentro de mim. Nossos corpos se chocam e o meu corpo é arremessado para longe, para um lugar bonito onde tudo é possível.
   Onde nós dois somos possíveis.

Nota da autora:

Eita que vem chumbo grosso.

XOXO,
Ani Melo.

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