Capítulo 39

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Logan

   Eu perdi o caso. Eliot Sumner foi condenado a quarenta e cinco anos de prisão perpétua. Eu deveria me sentir grato pela justiça estar sendo feita, pelos pais das vítimas terem conseguido colocar o assassino de seus filhos atrás das grades. Mas, acima de tudo, sinto como se tivesse fracassado.
   E um misto estranho e egoísta de sentimentos, mas não consigo tira-los do meu peito.
   Viro o copo de whisky malte único de uma vez. A amargura é algo bem vindo, e logo a sensação de uma leve queimação se espalha em minha garganta.
— Você foi incrível. — Diz Alis. — Eu nunca vi alguém defender tão afinco alguém que merece ser punido. Você não tinha o porquê de lutar, o juri já tinha decidido e ainda assim você continuou a defende-lo. — Ela suspira. — Obrigada, por ter me deixado assistir.
— Eu não fiz nada. Não perca sua saliva me elogiando.
— Logan? — Ela chama e eu ouço os passos dela se aproximando. — Olhe para mim.
   Me viro para ela. A expressão de Alis e de preocupação e irritação. As sobrancelhas franzidas, os olhos levemente arregalados. Pelo que eu conheço dela, ela vai falar até que mude de ideia.
— O que você fez hoje foi o máximo que Eliot Sumner teria conseguido. Você lutou por ele quando ninguém mais o faria. Até os pais dele estavam sem esperanças, Logan. Você pode não ter ganhado, mas o que você fez hoje por aquela família valeu cada minuto seu naquele tribunal!
   Eu entendo cada palavra dela. Eu concordo, pelo menos uma pequena parte minha acha corrente o que ela diz. Mas eu sempre fui um péssimo perdedor.
— Eu queria ter feito mais.
— E quem disse que não pode fazer? Existem solicitações que vive pode fazer, como a visita íntima, pode facilitar o contato entre ele e a família. Ainda há o que fazer, meu amor.
   Alis puxa a gola do meu terno me puxando para ela. Deixo que Alis me acalme com seus lábios. Cada movimento de sua língua em minha boca varre um pensamento negativo da minha mente.
— Obrigada, eu não sei o que seria de mim sem você.
   E não é uma mentira. Essa parte minha, a que não quer perder por nada, me levou para um caminho escuro. Tinha dias em que eu me atolava em álcool, e outros que eu queria desistir do escritório. Perder revela uma parte horrível minha e para a minha felicidade, Alis não se importa com esse meu lado feio.
— Vamos para casa? Eu posso encher a banheira, e nos podemos abrir um vinho, o que acha?
— Acho que eu ganhei na loteria. — Beijo ela até que percamos o fôlego. Essa é a minha forma de dizer obrigada a ela.

                                     ~•~

   Eu não sei como chegamos a isso. Não sei como as coisas deram tão errado. Onde foi que eu errei?
   Na delegacia da cidade, o delegado nos informa tudo o que aconteceu. Lily saiu para encontrar o namorado, ela quase a estrupou, Lily está desesperada ao lado de Alis, o rosto vermelho devido a agressão.
   Estou possesso de raiva. Estou prestes a sair por essa porta e entrar na cela daquele desgraçado. O rosto dele vai precisar de cirurgia para quando eu acabar com ele. Eu vou gostar de cada momento, de cada soco e de ver o sangue dele escorrer de minhas mãos.
— Há provas o suficiente para um julgamento, e como Thomas já tem diversas passagens na polícia será fácil conseguir justiça. — Fala o delegado.
   Mas a justiça que eu quero não é aquela proposta pelo tribunal. Eu quero que ele sofra tanto quanto a minha menina sofreu.
   O que veio a seguir virou apenas um borrão em minha mente. Eu me lembro vagamente de Lily depondo. Me lembro de Alis nós tirando da delegacia e dirigindo o meu carro. Me lembro da sensação de impotência.
   É terrível, é insuportável, a sensação de ver minha filha aos prantos, apavorada com toda a situação e eu não poder fazer nada. Espere o julgamento, disseram, mas como fazer isso? Como esperar vai ajudar no trauma da minha menina?
   Sentado na minha cama, onde as roupas que tiramos ainda estou jogadas, a banheira ainda está cheia e os lençóis bagunçados. Saímos apressados quando recebemos a ligação e nem sequer nós importamos com as impressões de uma tarde deliciosa.
   As lágrimas escorrem soltas pelo meu rosto. Não consigo mais segurar a dor em meu peito. Não sei quanto tempo fico assim, coexistindo com a dor até que braços me rodeiam e alguém com cheiro de cereja me abraça. Alis me deixa desabar em seus braços.
— Tudo bem. Vai ficar tudo bem. — Ela diz baixinho. — Vocês são fortes e eu vou ficar aqui, estarei aqui.
   Ficamos assim por um bom tempo, até que meu acesso se desfez. Alis ficou, como prometeu, e ao menos isso eu posso ser grato neste momento.
— Eu quero matar aquele infeliz.
— Eu sei, eu também.
   A cumplicidade entre nós é incrível, eu sinto como se eu pudesse dizer tudo a ela, como se fôssemos feitos da mesma matéria.
— Mas precisamos focar em Lily agora. Ela precisa de nós. E é por isso que eu vim aqui, vou dormir com ela hoje, tudo bem? Ela provavelmente vai me expulsar, mas não vejo problema de dormir no chão.
— Eu queria poder fazer mais para ela.
— E pode, ela só precisa que estejamos ao lado dela agora. Deixa eu pegar os travesseiros, e talvez um lençol.
   Alis se levanta e caminha até o guarda lençóis. Ela começa retirar os objetos de dentro do armário e nesse momento , olhando para ela, é quando tudo se acerta, é quando eu tenho certeza de uma dúvida que surgiu em minha mente a um tempo atrás. Eu não posso e não vou deixar ela ir, Alis será minha, não importa o quão egoísta isso seja. Não há mais volta, não para mim, é como a água, ou o ar,  ela é essencial.
  

  

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