Capítulo 17

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Alis

    Fomos comer no restaurante mais caro de Nova York e eu fiquei agradecida pelo vestido que Logan comprou para mim. Não seria nada bom ele ser visto com uma garota que ainda está com a farda da escola.  E ele se divertiu me vendo provar alguns modelos.
    Eu ainda não consigo acreditar que isso está acontecendo.
    É real?
    Uma mentira?
    Um sonho?
    Seja o que for, eu não quero que termine.
— Vamos querer o menu de degustação. — Diz Logan. Pelo cardápio dellslizo os meus olhos procurando esse item.
   Minha nossa.
   Muito.
   Caro.
   Minha nossa. Minha nossa. Minha nossa. Não tô acostumada com isso.
   O pedido é nada menos do que uma porção menor de todo os pratos do cardápio, acompanhando um harmonização de vinhos com a cartela da casa. Chique demais, mas se ele tivesse me levado para o Macdonald's eu também teria ficado contente.
— Você sempre vem aqui? — Pergunto a ele.
— Só quando ganho um processo.
—Ah, então quase sempre. — Ele sorri, provavelmente orgulhoso de si mesmo. Logan é o terceiro melhor advogado de Nova York segundo o Times. — Você ama o que faz, né? Ser advogado, ajudar as pessoas e fazer a diferença.
— Não é bem assim, eu gosto do que faço, mas nem sempre é tão fácil. As vezes o advogado criminal não está do lado certo da história. As vezes temos que defender gente ruim, e isso, meu amor, eu não gosto nenhum pouco. Mas, é o meu trabalho.
   Meu coração se aperta no peito. Não sei se vou ser capaz de defender o assassino, o ladrão e o estrupador, não sei se consigo. Mas, ainda tenho tempo para decidir qual especialização fazer.
— Isso deve mexer com você, não é?
— Mexe sim.
   O garçom trouxe a primeira entrada. Um prato de porcelana com dados de melancia, com rúcula, castanhas e pesto. Muito bonito e floral, e espero que gostoso também.
   Levo uma garfada a boca e o gosto é incrível. Tem algo ácido na ponta da minha língua, algo amargo nas laterais e o doce da melancia faz um contraste perfeito. É uma experiência, percebi, cada prato vai ser uma espécie de experiência única.
— É uma delícia. — Falo, tentando não gemer em prazer. É só uma salada e é tão boa. Os próximos pratos devem ser muito mais espetaculares. — Eu estava pensando, não, na verdade eu planejo isso, eu sempre quis fazer direito. Mas, não sei, me sinto imponente as vezes, sabe?
— Imponente, você? — Ele não acredita. — Alis você torceria o pescoço dos seus oponentes só com o olhar. — Parece um sonho. Ninguém nunca me disse algo assim, e o que vem a seguir é ainda pior. — Você vai dar uma excelente advogada. Estou ansioso para ver isso, nossa, eu não vou querer perder por nada.
— Você é real?
— Hum?
— Logan Shay, você parece um sonho.
   Estou falando como uma idiota, mas não me sinto assim. Eu sinto como se tivesse fogos de artifício explodindo dentro de mim. Ele ri alto, como se tivesse acabado de escutar a piada mais engraçada do mundo.
— Você não está falando sério.
— Eu tô sim. — Ele sacode a cabeça para os lados. — Logan, eu disse a verdade. Você é incrível. Não acredita em mim?
— Não, não mesmo. Não sou bom, sou...péssimo. Por que você me diria algo assim?
— Por que você diz algo assim sobre si mesmo?
   É inacreditável.
— Eu... — Engole em seco. Brinca com a taça de água. Pega um pedaço de pão do cesto, o parte ao meio e o deixa de lado. A respiração está rapida, ofegante.
— Logan...
— Ninguém nunca me falou algo assim. Ninguém. Não consigo acreditar.
— Eu que não consigo acreditar. Como ninguém nunca falou isso para você? Rafaela deve ter...
— Não, não toque no nome dela agora.
   Engulo em seco. O coração metralhando meu peito. É claro. Ele está aqui, comigo, a protegida a quem ele está transando e se envolvendo. É claro que ele não quer manchar a imagem de Rafaela, não quer trai-la ainda mais.
— Meu relacionamento com Rafaela não é o que você pensa, não para uma criança que a via como o deus na terra. Ficamos juntos por causa de Lily, eu queria dar uma família para ela, não queria que ela tivesse que mudar de casa constantemente ou viver entre nós dois. Eu queria que minha filha tivesse a chance de ter o que eu não tive, uma família. Mas, Rafaela e eu? Ela era uma amiga, uma conhecida que levei para a cama. Quando ela engravidou foi a melhor e a pior notícia da minha vida. Ela não me queria, não queria o bebê. E eu sofri as consequências de tê-la feito engravidar. Ela me odiava, não deixava transparecer, mas nossa relação era péssima. — Estou sufocando, e meu queixo está aberto,mas não posso demonstrar todos os sentimentos em meu peito pois Logan está chorando agora. Posso sentir a amargura de suas palavras. — Eu não tive contato com meus pais, vivi com meus avós até a maioridade. Eu nunca tive isso, apoio, quem me diga que sou um sonho. Ah, Alis. Não faz ideia do que realmente se passa em minha cabeça.
   Ele suspira e força um sorriso. Está tudo bem, é o que ele quer dizer, mas não é o que eu vejo.
— Então me conta. Eu quero saber, quero entender. — Alcanço a mão dele sob a mesa.
   Então ele me contou. A infância difícil tendo que vender doces com a avó para conseguir por comida em casa, me contou sobre a bolsa que se matara de estudar para conseguir, me contou sobre como foi difícil ser um bolsista em Harvard, me sobrou sobre o bullying que sofrera e o quão cruel eram os alunos. Me contou sobre como conhecera a maldade do mundo, e o quão é grato pela existência de Lily.
   Eu comecei a chorar. As lágrimas desceram silenciosamente enquanto ele despejava sua vida dura.
— Rafaela me deu Lily, e eu sou exatamente grato por isso, mas nós não eramos felizes.
   Eu nunca tinha percebido isso e é claro que uma criança não entenderia. Eu via Rafaela como uma mãe, uma amiga e minha salvadora, eu sabia que ela me adotara para fazer companhia para Lily, e agora eu entendo que muito se deve a falta de vontade de ter outro filho. Não sei como processar isso.
— Eu sinto muito, Logan.
— Não é culpa sua. — Ele acaricia os nós dos meus dedos. — Não quero afetar a forma que você vê Rafaela, ela significa muito para você.
— Eu sei que você não quer, não se preocupe com isso. Eu quero agradecer por compartilhar sua história comigo.
— Eu que agradeço por escutar. Não sei se outro entenderia. — Ele sorri gentilmente. — E você? Qual a sua história?
— Ah, você conhece a minha história, Logan.
— Eu sei dos fatos, mas não conheço a sua visão sobre.
  Hum, uma via de mão dupla, não é? Na6 vejo problema em contar essa verdade a Logan, mas será que ele vai entender? Que ele vai conseguir me ver de verdade e vai querer ficar?
— Eu ainda me lembro dela. Da minha mãe. Eu me lembro de como ela sempre cozinhava para mim, ela dizia que eu tinha que crescer saudável e que eu nunca deveria tomar as decisões que ela tomou. Ela me chamava de abelhinha, porque eu roubava as flores dos canteiros no caminho da escola de volta para casa para dar a ela. Eu me lembro da risada, eu era tão nova mãos ainda assim, é como se a risada dela tivesse ficado gravada na minha mente. Ela foi uma boa mãe, Logan. Eu não me lembro de tê-la visto se drogar, ou alterada, ou não me lembro de nada disso. Não até vê-la no carpete, com a seringa no braço. Ela sempre foi gentil, e se escondeu de mim. Escondeu as sombras que viviam com ela. Eu senti tanto medo, eu passei dois dias naquele apartamento achando que ela ia acordar, eu pentiei os cabelos dela, eu conversei com ela — as lágrimas correm fluidas como um rio tortuoso pele meu rosto. — , e aí sentiram o cheiro de cadáver e me tiraram de lá, arrombaram a porta e me tiraram da minha mãe. Eu estava sozinha, sempre sozinha. E aí Rafaela surgiu em minha vida, e eu conheci Lily e tive uma família, mesmo que por pouco tempo, eu tive uma mãe e uma irmã. Mas, mesmo depois da morte de Rafaela eu não me sentia sozinha, eu tinha Lily. E minha vida é boa, sei disso, eu só tenho o que agradecer mas...sempre tem algo faltando, ao menos tinha. — Ele aperta a minha mão. O rosto esta moldado de empatia. — Gosto disso. — Entrelaço meus dedos nos dele. — De poder tocar em você em público.
— Que bom, porque eu ainda não te toquei o suficiente por hoje. — Ele leva minha mão a boca e deixa uma beijo singelo em minha pele. Sinto minhas bochechas corarem e o coração acelerar no peito.
   As entradas que se seguiram foram uma explosão de sabores, desde a tartá de carne a queijo de búfala e presunto de parma. Os pratos principais foram ainda melhores — se isso for possível —, e a todo o momento a conversa com Logan foi agradável e percebi que temos muito em comum.
   É quase como se fosse muito bom para ser verdade.
   Desde ao gosto músical aos países que desejamos visitar. Temos tanto em comum que me pergunto o porquê de eu rejeita-lo tanto anteriormente.
— Eu sempre quis ir a Veneza, é um lugar incrível para se visitar.
— Minha nossa, eu sonho com ir para lá desde que assistir aquele filme com a Angelina Jolie, O Turista, conhece? Algo sobre ser a cidade dos amantes me chamou atenção.
   Logan ri.
— Cidade dos amantes, é? E com quem planeja ir? — Ele pergunta, mas não sei se é uma pergunta leve com uma pitada de brincadeira ou se ele está com certo ciúmes. Bem, eu sei de um jeito muito fácil de obter essa resposta.
— Ah, eu achei que eu iria a um bar, vestida impecavelmente com algo vermelho, só para que soubesse que eu estava interessada, sabe? Alguém ia se sentar ao meu lado no balcão e então, bem, você já sabe.
   Ele azeda. Desde o humor, que anteriormente era leve, a postura, que enrijece. A voz dele é mais seria e grave do que o normal quando ele diz:
— "Você sabe." Ah, qual é?! — Ele tranca a mandíbula. — Vestido vermelho...pffft. Fique sabendo, meu amor, que quando você for a Veneza será comigo e você não terá muito tempo para ficar saindo do quarto, ou da cama. Sem bar, sem sexo casual com estranhos. Nunca mais, está me entendendo?
   É terrivelmente assustador a sensação de compromisso, mas é ao mesmo tempo  incrível. Quero dizer a ele ,que se estamos mesmo comprometidos, não preciso de sexo casual com estranhos, que ele já basta. Mas não é isso que eu digo.
— Você fica uma gracinha com ciúmes. — Cantarolei. Ele revira os olhos. Rá! Ele está mesmo com ciúmes!
— Sexo casual...Veneza...pfft. — Ele resmunga para si mesmo. — Onde está o próximo prato, hein? — Ele pergunta a qualquer um. Mas, pelo canto do olho noto a comoção no balcão.
— Você não precisa se irritar.
— Eu não estou irritado. Eu pareço irritado para você?
   Sim, muito.
— Estou com você, Logan. — Digo para o tranquilizar. — Vou vestir um vestido vermelho para você, ou uma lingerie, o que você preferir.
   Ele estreita os olhos. Acho que ele sabe que estou tentando acalma-lo.
— Acho muito bom mesmo. — Ele respira fundo, tentando controlar os nervos.
   Eu sempre achei que Logan fosse  insensível para esse tipo de coisa ,pois nunca o vi agindo de forma diferente com Rafaela ou Charlotte, mas após saber que na verdade o relacionamento de Logan e Rafaela era conturbado, acho que estou viamente errada quanto a quem é Logan Shay e finalmente poder conhecê-lo, está sendo algo inestimável.

Nota da autora:

Estão preparados para a bomba que vai surgir? Mais capítulos amanhã.
XOXO,
Ani Melo.

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