Capítulo 27

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Alis

    O meu primeiro dia na Sila foi interessante e passou tão rápido que mal notei que o relógio marcava cinco.
    Eu estudei o caso em que estamos trabalhando e fique em choque com os detalhes da descrição de cena da polícia. Eu nunca vi algo tão terrível. É incrível a capacidade que algumas pessoas tem para o mal.
    Na hora do almoço eu fiquei no escritório, estava animada demais para terminar o arquivo, então apenas comi um sanduíche que eu consegui na máquina na copa dos funcionários.
    Logan saiu com Afonso para almoçar. Depois da cena de mais cedo ele simplesmente se limitou com as palavras. Eu espero que essa situação entre nós não interfira em meus estudos. Eu realmente estou aqui para aprender e me formar, e torço para aquele ele seja um bom professor.
— Hoje foi muito bom, Sr.Shay. — Digo a ele enquanto estou juntando as minhas coisas. Caderno, canetas e fones de ouvido são todos jogando dentro da bolsa. — Se o senhor puder me dar permissão, eu posso elaborar algumas perguntas para se fazer as testemunhas.
— Hum, fique a vontade, Alis, quero que dê seu melhor. — Giro nos calcanhares e olho para ele. Sua atenção está nos papéis e relatórios, e se divide entre entender o que está escrito e no que eu estou falando.
— Meu horário acabou.
— Até amanhã...
— Logan? — O interrompo. Tem algo que eu quero perguntar. Algo mais importante do que qualquer coisa. Ele ergue o olhar e se endireita na poltrona. Os olhos estão indecifráveis. — Estou fora do horário de trabalho, então quero tomar liberdade para fazer uma pergunta.
— Pode perguntar, Alis.
— Como Lily está? Eu não tive muitas notícias dela e eu me pergunto sempre o que aconteceu com ela, e com você. Bem, se puder me dizer...se não for um incomodo...
— Não é incomodo nenhum, Alis. — Ele se recosta na poltrona, sem deixar de olhar para mim. — Ela está...as vezes é difícil. Ela tem um temperamento forte, é difícil mantê-la na linha. Eu não diria que ela está bem, longe disso. O terapeuta diz que ela está passando por um momento de descobertas e rebeldia e que eu deveria ter paciência, mas não e fácil, não mesmo.
— Eu...eu sinto muito. Eu me sinto tão culpada. — Sinto um aperto no peito. — Nao deve ter sido nada fácil para vocês.
— Não é sua culpa.
— É sim, eu estava lá, eu vi a mudança e não fiz nada. Eu sou a irmã mais velha, ou pelo menos era, eu tinha que ter feito alguma coisa Logan. — Abraço o meu corpo, a sensação de impotência me toma aos poucos, me engolindo vagarosamente. Ele se levanta, contorna a mesa ampla de tampo de vidro e vem até mim. Meu coração está colapsando dentro do peito. As mãos dele deslizam pelos meus braços. Meu peito infla com a aproximação repentina e com as ondas que pecorrem meu corpo.
— Lily precisa se encontrar, foi o que o terapeuta disse, que enquanto ela não souber quem é, que ela não reconhecer as próprias ações, ela continuará assim. Só precisamos de paciência, Alis.
   Os olhos azuis estão cheios de  sentimentos. Não consigo entende-los. São tantos, tantos.
— Quer jantar comigo?
   Eu perco o fôlego. Sei o que ele quer dizer, e quero dizer sim, mas uma voz em minha mente diz "Ele é o seu chefe."
   Eu fui certinha durante cinco anos da minha vida. Pintei dentro das linhas, desenhei um sol com uma casinha, eu fiz o que pediram, me tornei a melhor da classe. Não namorei. Não bebi. Não fui as calouradas que tinham no campus. Eu me privei para esse momento e ok,ele é meu chefe, mas também é o Logan, o meu Logan.
   Mas, o que sai da minha boca é totalmente diferente.
— E a sua namorada?
   Ele pisca e agora olha para mim como se eu tivesse falado em coreano.
— Eu não quero problemas, Logan, e você também é o meu chefe...acho melhor não...
— Eu não tenho ninguém. — Ele me solta, a mão vai a tempora a pressionando. — De onde você tirou isso?
— Eu...eu... — Engulo em seco. — Eu vi você com uma mulher alta, de cabelos castanhos e pele parda. A três meses, no Luive.
   Com as sobrancelhas contraídas ele me encara com dúvida e ressentimento. Me pergunto o porquê desse sentimento.
— Você me viu e não falou comigo?
— Você estava acompanhado, eu não queria...
— Dane-se, Alis. Se eu tivesse te visto, se você estivesse na minha frente, acompanhada ou não, eu teria ido até você, nem que fosse para quebrar a casa do desgraçado! — A lógica e compostura se vão, e Logan não é mais o chefe, não nesse momento. Agora ele só é o Logan Shay, aquele que trepou comigo em um vestiário. O mesmo que me deu a tatuagem de farol. O Logan pelo qual eu me apaixonei. A sensação de estar diante dele, nessa posição, me deixa desestabilizada. Me faz queimar. — Por que não falou comigo? Por que você deixou de ligar? De me procurar?!
   Duas batidas na porta me fazem dar um pulo para trás. Logan se recompõe, ajeita seu terno e engole em seco, quando ele fala, sua voz é firme e profissional.
— Entre.
   Afonso atravessa o portal, uma da mãos dentro do bolso e com um sorriso malicioso nos lábios. Ele está feliz, percebi, como se tivesse acabado de cometer um delito.
— Logan, estou te devendo uma. — Diz ele. — O Sr. Grey se saiu melhor do que a expectativa.
— Ele é muito bom, é o segundo melhor da turma. — Explico a ele. Afonso abre um sorriso gentil para mim.
— Precisa de carona, querida?
— Ah, não. Eu vim de carro. — Pego minhas coisas, desejando ficar mas sabendo que devo ir embora. — Até amanhã, Sr. Shay, Sr. Bettencourt.
    Deixo os dois no escritório e sigo para fora da sala, em direção ao elevador. Minhas pernas ainda estão tremendo e meu coração está acelerado no peito. Eu sabia que uma hora ou outra iríamos estourar como balões de festa, só não sabia que isso aconteceria tão rápido. Pelo visto, ele se sente tão transtornado quanto e eu, mas, talvez ele não tenha percebido, mas fiquei aliviada por saber que ele não está com ninguém.
    Será que ele esperou por mim?
    Bolhas de sabão cheias de esperança estouram e flutuam ao meu redor. Nunca me senti tão cheia de expectativa.

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