Capítulo 22

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Parte II
Alis
5 anos mais tarde.

— Nicolas Grey está afim de você. — Diz Samantha, ou Sam, minha amiga. Ela está olhando para o loiro de olhos verdes do outro lado da sala. — Ele não para de te olhar.
— Humrum.
— Ok, eu realmente acho que você é assexual. Ele é um gato, Alis!
— Pode falar mais baixo? — Minha atenção agora é a ortografia da minha carta de solicitação de estágio. — Todos vão saber da sua admiração pelo filho do reitor.
— Olha toda a faculdade tem uma queda por ele mesmo, até o Olavo, o químico da turma oito. — Ela se debruça sobre o balcão e lê a minha carta.— Achei que você fosse para a West Association, é a melhor do ramo.
   A melhor do ramo? Eu pretendo ficar em Nova York, não ir para o outro lado do país. E não, não é porque Logan é o dono da Sila Corporation, o novo escrito de advocacia dele, que eu vou mandar minha carta justamente para lá.
   Logan e eu estamos separados a muito tempo. Mesmo que tentemos manter comunicação, era difícil demais ouvir a voz dele e não chorar.
— Quero ter todas as chances que eu puder.
— Primeiro da turma, condecorada, PhD em Filosofia, acho que você está querendo engolir o mundo, Alis.
— Eu quero o melhor para mim, Sam. Assim como você.
    O professor entra na sala e eu dou o assunto por encerrado. Sam é do tipo que se eu der corda vai conversar comigo durante a aula inteira e essa aqui é especial, é a última de toda a minha vida.

    Daqui a seis meses, quando eu terminar meu estágio, estarei finalmente formada. Eu nem acredito que sobrevivi a cinco anos sozinha. É uma loucura, não é?
    Cinco anos desde que ingressei na faculdade, desde que saí da casa dos Shay, desde que terminei com Logan.
    Eu achei que fosse morrer, a princípio, foi tão difícil abrir mão daquele sentimento, foi mais difícil ainda não poder encontrá-lo, não poder abraca-lo. E isso me matou, definitivamente. Eu não sou a mesma de cinco anos atrás, e como poderia? As vezes eu me sinto um fantasma vagando sem rumo. Pelo menos o meu sonho ser uma grande advogada continua firme. Ao menos eu tenho isso.
    Todas as quartas após as aulas eu vou ao centro recreativo visitar Cindy. Desde que ela quase morreu de uma overdose a três anos, os pais dela a confinaram em uma clínica particular. Todas as quartas eu a visito com um pacote de marshmallow e chocolate em mãos.
— Você está péssima. — Diz ela. Cindy está totalmente diferente do de costume. O cabelo loiro já não tem mais as mexas coloridas, e a maquiagem que antes não lhe faltava, agora é uma mera lembrança.
— Eu não consigo dormi, lembra? Pesadelos. — Pego um quadradinho de chocolate e o levo a boca.
— Ah, do seu amado tutor te deixando. Da dor e do sofrimento. — Ela debocha. — Qual é, Alis. Você cresceu, amadureceu. Pode dar para quem quiser, seja ele seu tutor, o policial da esquina, a moça do carinho de cachorro quente ou o papa. Eu já disse isso a você.
— Não é simples, Cindy. Pelo que eu ouvi ele tem outra.
— Onde você ouviu isso?
— Eu o vi, um dia desses, com uma mulher de cabelos castanhos, alta e bonita. Bem o tipo dele.
— Achei que ele gostasse de baixinhas raivosas.
   Chuto a canela dela por debaixo da mesa. Ela uiva de dor.
— Aí sua louca. Quer me matar, é?
— Eu não sou raivosa.
— Tá tá. Agora me diz, e daí que ele tem outra? Ate um dias desses ele tava te mandando flores.
   E mandou, para o meu aniversário de vinte e quatro anos, ele me mandou um buquê com rosas vermelhas.
   "Feliz aniversário, meu amor. Sinto sua falta."
    Era o que estava escrito no cartão e foi o suficiente para que eu ruisse em choro e ficasse sorrindo feito uma boba o dia inteiro.
— Ele pode me mandar flores por gentileza.
— Ou por que ainda quer te comer.
— Aí, você é nojenta, Cindy.
— E você me ama, já superamos isso. — Ela enfia um travesseiro rosa na boca. A boca dela está cheia quando diz: — A questão é que eu não estou errada. Você vai ver, esse estágio vai te mostrar o que eu consigo ver.
— E o que você consegue vê?
— Que a história de vocês ainda não acabou.

                                 ~•~

Eai, quem ficou super chateada com a Lily? Eu demorei para postar justamente por isso, só a ideia dela fazer isso com a Alis me deixou triste, sério mesmo. Infelizmente ER o certo a se fazer.

XOXO,
Ani Melo.

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