Capítulo 45

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Lily

   Eu ainda vejo ele. Ainda sonho com Thomas, com as mãos dele, com as grosseiroas, com sua vontade feroz de levantar a minha saia. Eu sempre sonho com ele, mas quando acordo e tenho a certeza de que tudo aquilo já ficou para trás e que agora só passam de um pesadelo, eu me sinto aliviada.
   Eu conheci Tom quando tinha onze, eu ainda nem sabia sobre Alis e meu pai na época. Ele é mais velho, dois anos mais avançado que eu. Eu não me lembro quando comecei a gostar dele, mas sei que ele nem seuwer olhava para mim e isso me magoava. Lindsey, a loira de olhos claros da turma dele era quem ganhava sua atenção e aquilo me matava por dentro. Eu não entendia que aquilo era paixão, que eu estava perdidamente apaixonada por ele. E ele nem sabia que eu existia.
   O sentimento de rejeição, de amor não correspondido, mexeu comigo, me desestabilizou e agora eu vejo o quanto eu errei. Tratei Germa de forma terrível, sempre sendo grossa e rude. Tratei Alis ainda pior, e em algum momento eu esqueci que ela era a minha irmã e a minha melhor amiga. Quando eu a vi com meu pai, os lábios deles um no outro, eu senti como se fosse perde-los, senti que os dois iam ficar juntos e iam esquecer de mim, como meu pai fez após a morte da minha mãe, como ele era quando estava com Charlotte.
   Eu gritei, humilhei e agi por impulso, machuquei aqueles que amo e como consequências afastei a única pessoa que realmente se importava comigo, que sempre esteve comigo quando eu precisei. Alis ter ido embora matou uma parte essencial minha e ver o que causei em meu pai foi ainda pior.
   Eu me senti um lido durante muito tempo. Me senti perdida e sozinha. Andei em círculos em um deserto de sentimentos, apenas a solidão era minha companhia.
   Até que Thomas falou comigo. Eu me lembro como se fosse hoje dele me dizendo que eu era a melhor atacante do time feminino e aquilo me fez feliz, eu me agarrei a ele e todas as palavras bonitas sem perceber o que estava embaixo do meu nariz.
   Ele sempre me fazia fazer coisas que eu não queria e acabava cedendo por pressão. Dirigir em alto velocidade, fugir de casa, levar um pacote suspeito para um amigo dele. Eu me ceguei, eu deixei ele fazer isso. Minha virgindade foi a única coisa que conseguir manter intacta. Eu me lembrava constantemente de Alis dizendo que gravidez na adolescência é complicado, que temos que nos prevenir, que temos que ter responsabilidade e eu sabia que eu não tinha e eu não queria ter um filho de Thomas, não tendo apenas dezesseis anos. Então mantive as pernas fechadas, e o idiota ainda zoava com a minha cara por causa disso. Ele dizia que por se meu namorado eu tinha que dar isso a ele, mas eu não queria e tive que aguentar ele se masturbando pelo telefone durante todo esse tempo.
   Agora, depois de tudo que aconteceu, depois de eu pesquisar sobre o que era um relacionamento abusivo, eu finalmente compreendi que aquilo não era amor, nunca tinha sido. Ver meu pai e Alis juntos, se amando e brincando e se ajudando nos momentos difíceis me fez tem uma maior noção do que querer em um relacionamento.
   Eu quero alguém que me ame como eles se amam.
   Eu fui tão tola de ter rejeitado o relacionamento deles, mas na época eu não entendia que o amor pode aparecer em um lugar inusitado.
   Pelo menos agora com Alis aqui, com tudo se resolvendo e a minha psicóloga me instruindo, eu posso finalmente mudar tudo que fiz. Posso pedir perdão, e eu não vou esperar mais para fazer isso.

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