Capítulo 38

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Alis

— E depois vocês foram para onde?
— Olha, você não precisa sabe dos detalhes.
— Qual é, Alis! Estou na seca a dois anos, ajuda a sua amiga.
   Ela pega mais M&M's de dentro do pacote e leva a boca.
   Eu vim visitar Cindy como sempre faço: uma vez na semana com uma sacola de chocolates para ela em mãos. Dessa vez eu também trouxe uma proposta diferente. Graças a Logan, Cindy vai poder sair desse inferno particular. 
— Depois de almoçar, fomos para casa. Lily estava na escola, então tínhamos a casa inteira para nós.
— Então, sofá ou cama, ou mesa?
— Na parede, na verdade. — Ah, eu quero mudar de assunto. — Mudando de assunto...
— Ah, não! Agora que estava ficando bom!
— É sério, Cindy, preciso conversar com você.
— Sem problema, por favor. Se for má notícia eu prefiro saber como foi que sua noite terminou! — Ela faz uma careta. Cindy nunca vai deixar de ser criança pelo visto.
— Logan olhou as diretrizes da clínica, e ele descobriu que você não precisa da assinatura dos seus pais para sair daqui. Você precisa apenas de um responsável como o seu padrinho, sabe?
— Mais eu não tenho um padrinho.
— Então, pelas regras um padrinho pode ser qualquer um desde que esteja disposto a aprender e a ajudar.
— Ainda não estou entendendo, Alis, desenhe para mim, por favor.
— Eu vou ser sua madrinha, sua anta! Estamos trabalhando nisso. Eu não entendo muito bem sobre isso, mas ao que parece vai dar certo.
— Quer dizer que...que eu vou sair daqui? Que você vai ser a minha madrinha?!
   Ela está em choque, totalmente espantada com a informação.
— Sim?
— Isso! Finalmente!
    Cindy comemora dando gritinhos de alegria. Ela até faz uma dança engraçada que me faz rir. Cindy sempre fora uma figura.
— Mas tem uma condição.
— Eu aceito qualquer coisa!
— Você não vai mais provar nada, entendeu? LSD, cocaína, maconha, seja lá o que, você não vai poder nem sequer pensar nisso, entendeu?
— Sim, mama, sim sim! Eu nem acredito, Alis! Você vai me tirar daqui! Você é a minha heroína, não a heroína, sabe? Tipo super herói, você me entendeu né?
   Cindy comemora e eu só aprecio a sua felicidade. Eu espero que ela encontre um caminho para ela, um que não seja autodestrutivo.

                                    ~•~

    Logan se enterrou em um edredom no sofá da sala. Colocou um filme e agora está lá, assistindo O Milagre da Sela 7.
    Ele pode não está demonstrando, mas o fato dele poder perder o caso o está estressando e eu não o culpo, ninguém gosta de perder.
    Lily entra na cozinha os olhos cheios de uma curiosidade infantil. Estou no fogão fazendo uma calda de chocolate para cobrir um bolo.
— Que cheiro é esse?
— Tô fazendo um bolo. Seu pai está deprimido por causa do caso, achei que se ele tiver um dia bom ele possa melhorar.
   Claro que isso também envolve muito sexo e deixar que ele faça aquilo com a língua, mas essa parte eu não preciso contar a ela.
— Posso cortar os morangos? — Ela oferece ajuda e esse é um momento muito rápido para se negar.
— Claro, pode ser a caixa toda.
   Lily pega a faca na gaveta, a tábua de corte e um recepiente para por os morangos. Ela fica do outro lado da ilha, de frente para mim.
— Então é por isso que ele estava gritando hoje de manhã? Achei que vocês estavam brigando.
— Não era comigo, a juíza antecipou o julgamento para daqui a dois dias. Ele não aceitou bem essa novidade.
— Ele sempre fica nervoso quando perde alguma coisa. — Ela olha para mim de soslaio. Acho que Lily quer alguma coisa. — Eu posso te fazer uma pergunta?
   Engulo em seco. O que ela quer de mim? Será que eu falei ou fiz algo? Não, não me lembro de nada. Essa semana foi bem tranquila e Lily se manteve na dela, então não brigamos ou discutimos.
— Claro, pode perguntar.
— Quando foi que você começou a ver o meu pai como um...um ficante, aí sei lá, namorado? Não entra na minha cabeça que você sinta atração por ele.
— Sério? Por que pensa assim?
   Ela da de ombros.
— Algumas das minhas amigas dizem que preferem ficar com homens mais velhos por causa do dinheiro. — ela explica e isso me faz lembrar dela me questionando se eu estava com Logan por causa do dinheiro.
— Eu não estou com o seu pai por causa do dinheiro. — Desligo o fogo e deixo a calda de chocolate reservada.
— Então, por quê?
   Encaro Lily com toda a minha sinceridade. Ela está mesmo falando sério?
— Eu amo o seu pai, mesmo. Amo tanto que as vezes é difícil acordar de manhã e não tê-lo ao meu lado. É tão difícil acreditar nisso,Lily? — Ela morde o lábio inferior, constrangida. — Nos não queríamos no início, quando ficando pela primeira vez foi um acidente. Eu sempre deixei claro que não queria machucar você e ele também queria o mesmo. Mas foi mais forte, nos dois, eu simplesmente não consegui ficar longe dele. Então, quando percebemos que o tínhamos era sério, decidimos contar a você, mas já era tarde demais e você nos flagrou na pior forma.
    As lembranças daquela noite me provoca ondar gelidas pelo corpo. Como se naquele dia meu mundo todo tivesse petrificado como gelo.
— Eu sinto muito, por não ter contado a você, mas não me arrependo de ter amado o seu pai.
   O timer do forno soa e eu me viro para pegar as pas de plástico. O bolo de chocolate ficou macio e fofinho, e está fumegando.
   Uma parte minha está contente por Lily querer conversar sobre isso, mas uma vozinha de preocupa com ela. Se fosse eu no lugar dela eu iria querer ver as pessoas que eu amo felizes, mas Lily pode não pensar assim. Ela ainda está crescendo, ainda está entendendo como o mundo funciona.
— Posso ajudar a decorar? — Ela pergunta, a voz saindo um fio.
— Quer decorar sozinha? Eu vou fazer a massa do macarrão.
— Pode ser.

   Lily não voltou a falar, ela ficou na dela, apenas decorando o bolo e cantando baixinho alguma música de melodia triste, mas eu fiquei feliz por esse passo que ela deu.
   Felizmente, Lily pode estar abrindo os olhos e percebendo que a vida não e só feita de coisas que queremos, as vezes as dificuldade superam as alegrias, mas isso também faz parte do significado de viver.

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