Capítulo 25

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Alis

   Ele nunca esteve tão lindo. Os cabelos negros ganharam alguns fios grisalhos, os olhos azuis marcantes nunca foram tão sensuais. Os lábios, a pele, o corpo...
   Meu deus, esse homem é que nem vinho, só melhora com o passar dos anos. Ele está sorrindo e eu tenho que me lembrar de que esse sorriso é uma saudação para os estagiários, ao invés de ser um "Estou feliz por vê-la."
   Ele tem alguém, se lembre-se disso, por mais que machuque.
— Sr. Grey. — Ele cumprimenta Nicolas, que rapidamente aceita o aperto.
— É uma grande prazer conhecê-lo senhor, estou ansioso para trabalharmos juntos.
   Ah, que bajulador.
— Estou muito ansioso para ver como vocês vão se sair. — Ele se vira para mim e estende a mão. Engulo em seco. Sei o que ele está pedindo, mas meu cérebro não raciocina mais. Ok, respira fundo, é só apertar a mão dele.
   Aceito o cumprimento e aperto sua mãos. Estar tocando ele me provoca uma nova ansiedade, que se espalha como uma trilha de choques pelo meu corpo. Meus seios enrijecem no mesmo momento.
   Minha nossa. Minha nossa. Minha nossa. Minha nossa. Minha nossa. Minha nossa.
— Srta. Shay, a quanto tempo.
— Oi, Sr.Logan. É um prazer revê-lo.
   Nossas mãos se soltam, para a minha infelicidade, e só quando o homem de cabelos loiros começa a falar que eu me dou conta de que ele está acompanhado.
— Eu sou Afonso Bittencourt, e vou ser um dos responsáveis por acompanhar vocês. Tomando um pouco a frente, nos conversamos anteriormente e achamos que seria muito melhor se dividíssemos vocês dois.
   Eba! Não vou ter que aturar Nícolas! Ponto para mim.
   Ouço o peito de Nicolas inflar do meu lado. Ele está prendendo a respiração. Rá! Inabalável coisa nenhuma.
— Ficou acordado que eu ficaria com o Sr. Grey. — E lá se vão as esperanças de Nicolas de fisgar Logan.
    Espera, isso significa que...
— E você ficará comigo, Srta. Shay. — Diz ele, olhando diretamente para mim. Ignoro o minúsculo sorriso em seus lábios. — Estão todos de acordo com isso?
   Espero o não de Nicolas. Ele mais do que ninguém deve querer dizer "Isso é injusto. Eu prefiro ficar com o Sr.Logan." Mas o que eu ouço é:
— Sim, estamos sim. — Embora o baixo astral de sua voz o entregue, Nicolas se mantém firme.
— Pois bem, eu espero mesmo que essa experimentar seja benéfica para vocês. Sejam bem vindos a Sila. — Ele se vira, olhando para mim. — Me acompanhe Srta. Shay.

   Sigo Logan, sempre me mantendo a um passo de distância dele. Seguimos para uma das portas duas portas do andar, onde na porta o nome Logan Shay está gravado. O edifício da Sila é pequeno, contendo apenas 4 andares, mas a arquitetura moderna empregada ao prédio o torna um dos escritórios mais bonitos e requintados da região de Washington.
   Ele abre a porta e me deixa passar na frente indo um pouco para o lado, e eu entro em seu escritório. A uma janela imensa em um dos lados lá parede, duas mesas de escritório opostas, uma estante de livros na madeira preta e um pequeno móvel com whisky e garrafas sortidas. É impecável limpo e claro, a cara dele.
   Me viro para ele. A porta está trancada. Ele está contra a parede, recostado e me olhando como se eu fosse...
   Engulo em seco.
— Eu quero agradecer, antes de tudo. É uma oportunidade única estar aqui.
— Não precisa agradecer. — Ele pronuncia as palavras mas seus lábios mal se mechem.
   Um minuto se passa e ele ainda está olhando para mim. Me movo, trocando o peso da uma perna para a outra e então eu aguardo. Sou a estagiária aqui e é o meu primeiro dia, não quero problemas. Sinceramente, eu só quero exercer bem o meu cargo.
— Sr. Shay?
— Sim?
— O senhor quer me instruir em algo? Eu soube que o senhor está com o caso de um assassinato. Eliot Sumner, o jornal disse que ele matou três pessoas no Hotel Delina.
   Ele sorri. Simples assim, ele abre um sorriso torto e de lado para mim, com os olhos ainda nos meus. Não consigo desviar, não consigo deixar de olhar. É ele ali, o Logan. O meu Logan. O homem que eu esperei.
— Sim, eu estou. — Ele se aproxima vagarosamente, um passo após o outro e a cada passada dele meu coração palpita no peito. — Mas não sei muito o que fazer aqui, o promotor tem as gravações do ocorrido, é prova o suficiente para condena-lo.
   Essa é a parte feia do direito. Assassinos, ladrões, estrupadores. Não importa o quão ruim seja, se eles tiverem pagando, você tem que defende-los. É um absurdo, mas é a lei. Todos tem direito a defesa.
— Então o que você pretende fazer? — Ele da outro passo,e mais um e outro. O espaço entre nós é apenas centimetros. Meu estômago já virou milhões de borboletas, e eu não sei se consigo andar sem perder as forças das pernas.
— Hum, me diz você. O que faria no meu lugar? — Ele cruza os braços sob o peito e me estuda. É um teste, sei disso. Minha nossa, o que eu faria? Eu deixaria ele apodrecer na cadeia, mas não posso dizer isso.
— Eu chamaria os amigos e a família dele para depor, alguém que diria "Ele nunca faria isso. Tem algo de errado. Talvez ele tenha problemas psicólogicos." Seria mais fácil acusa-lo de insanidade, assim ele poderia ser mandado para um clínica ao invés da cadeia.
— É sua única opção?
— É a melhor, se eles tem as fitas de segurança, se mostram ele no momento e no local do crime, eles já o tem em mãos. É prisão perpétua ou morar em uma clínica particular bancada pelo dinheiro sujo do pai dele.
   Será que eu falei besteira? É o que eu faria se estivesse no lugar dele. Bem, ao menos eu posso errar, ainda sou apenas uma estagiária,  mas ainda assim, só de imaginar receber um sermão de Logan eu já me tremo inteira.
— Você acha certo? O que vamos fazer? Poupar um assassino do seu verdadeiro castigo? — Ele desce o olhar para a minha boca enquanto diz. — Isso parece certo para você?
— N-nao, não acho. Por mim ele pagaria pelo que fez, mas ele é o nosso cliente e pela lei, pelo regulamento, nós temos que tentar fazer o melhor por ele. Se não a liberdade, então uma alternativa. — Ele volta a olhar em meus olhos.
— Você não mudou nada.
  Pisco duas vezes, engulo em seco três. Conto as batidas descompassadas do meu coração. Acho que vou desmaiar.
— Como?
— Você nunca teve medo de me desafiar, de me olhar nos olhos e dizer o que pensa. Olhar para você agora... — Ele balança a cabeça para os lados. — Tem uma pasta no notebook. — Diz ele, mudando de assunto. — Nela contém todos os dados do caso. Essa é a sua mesa, fique a vontade.
    Logan sai da sala, fechando a porta do escritório com força. A sala se torna imensa sem a sua presença. Meu coração ainda está galopando no peito. Não acredito que sobrevivi a esse encontro, ao menos isso eu consegui, porque calar meu coração foi algo impossível.
    Nem mesmo a distância, nem os cinco anos que se passaram, nada disso fez o amor que eu sinto por ele diminuir.
    Mas agora, nesse escritório, não somos Alis e Logan, somos chefe e subordinada, eu tenho meus deveres e pretendo cumpri-los. Vou para a minha mesa e abro o notebook da empresa. Não vejo a hora de estar no tribunal.

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