— Uma oferta de paz? — perguntei fungando. Sentei-me na cama mantendo os cobertores quentes sobre mim. — Pensei que tinha vindo alimentar a fera de novo.Lorenzo ponderou a ideia. Ele colocou a bandeja na escrivaninha e se aproximou da minha cama.
— O que eu fiz foi estúpido — começou ele. — Acho que passei tanto tempo sem ter alguém novo por perto, ou sem permitir que alguém se aproximasse, que me esqueci de como agir. De como acolher. — Seus olhos se mantiveram em suas mãos, que apertavam uma a outra.
Ajeitei minha postura para dar tempo de digerir suas palavras, afinal eu havia sido pega de surpresa.
— Eu sei que é difícil lidar com algumas coisas quando se está com problemas maiores na cabeça, sei disso muito bem — mantive a voz baixa. — Mas você não tem que enfrentar tudo sozinho, ou se afastar de quem quer se aproximar. Às vezes o melhor remédio é a companhia.
Um peso pareceu sair de seus ombros ao me ouvir falar. Lorenzo se abaixou ao lado da cama.
— Entendo se não aceitar, mas quero pedir desculpas pelos meus erros — sua voz soou sincera.
Lorenzo Romano pedindo desculpas para mim, e ainda por cima de coração aberto. Uau.
— Primeiro preciso saber de uma coisa — cruzei os braços. — Você foi forçado a trazer o almoço, não foi?
Uma risada, que eu jamais havia escutado, veio dele.
— Eu fiz o almoço reforçado para você — admitiu ele.
— Sendo assim, como eu não aceitaria suas desculpas de joelhos?
Só então ele notou que estava mesmo de joelhos, por estar abaixado.
— Eu não pretendia estar assim — respondeu estreitando os olhos com ar de brincadeira.
Lorenzo pôs a bandeja no espaço vazio da cama e saiu do meu quarto fechando a porta.
Fiquei uns instantes ainda tentando entender se aquilo era real, se aquele Lorenzo era real. Então era assim que ele era quando não estava arisco e emburrado?
Não pude deixar de sorrir.
Não havia nada mais revigorante que se curar de um resfriado.
Quando acordei naquele dia abri as janelas do quarto inspirando o ar primaveril. Nova estação, novos ares.
Era sábado, toda a cidade estava se preparando para o festival que começaria antes do pôr do sol, inclusive a pensão Bellini.
— Martina, você não acha que... — Parei de falar ao ver que a senhora não estava sozinha nos preparativos do festival. Lorenzo a ajudava.
— Mia cara*, você está ótima! — Martina veio me abraçar.
Inspirei seu perfume de lavanda e chá.
— Me sinto ótima, pronta para ajudar — respondi animada.
— Muito bem, me ajude com os calzones* e a fogazza*.
Lorenzo não falava nada enquanto cozinhava, o que notei ser um hábito dele.
Logo o aroma dos temperos tomou conta do lugar, trazendo consigo alegria e tradição. Meu estomago só não reclamava porque eu experimentava um pouquinho de cada coisa uma vez ou outra. Eu podia apostar que as pessoas ficariam encantadas com os pratos ofertados pela pensão.
Após cozinhar fomos nos preparar para o evento. Eu havia pesquisado um pouco sobre o festival para saber mais dele, foi o que me levou a querer me vestir a caráter.

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Mila
RomanceCamila é uma garota alegre, esperançosa e aventureira que possui muitos sonhos, ela viaja para a Itália em busca de realizar um deles, abrir um restaurante e fazê-lo famoso. Ela conhece Lorenzo, que ao contrário dela é realista e busca apenas por co...