Quando vi a chamada perdida na tela do celular, não acreditei de primeira. De tudo o que pudesse acontecer, isso era o que eu achava menos provável. Lorenzo havia me ligado na noite passada, e isso era tão inesperado que não entrava na minha cabeça.Quem sabe ele discou o número errado, ou talvez tivesse sido Martina quem ligara pelo celular do neto. Mas, e se algo tivesse acontecido? Tanto com ela quanto com ele? E se tivessem me ligado para avisar algo grave?
— Essa animação é contagiante — meu pai disse enquanto tomávamos café da manhã. Eu tinha prometido que iria passar o dia com ele, isso incluía pescar. Agora estávamos à mesa, comendo antes de enfrentar um dia longo.
Tentei desfazer minha expressão pensativa e preocupada.
— Só estou pensando em algumas coisas. — Balancei a cabeça, indicando que estava tudo bem e que ele perguntar algo não era uma boa ideia.
— Podemos ir outro dia, você deve estar cansada...
— E perder a chance de pescar um peixe maior que o seu? Nem sonhando — respondi aliviando a conversa.
Meu pai deu um sorriso que fez seus olhos ficarem fechadinhos. Guardei a imagem dele sorrindo na minha mente e coração, bem como eu havia feito com minha mãe.
Quando entramos no carro deixei toda a minha preocupação e teorias para trás, era momento de não pensar em nada e eu precisava disso.
Meu pai dirigiu até o local onde alugaríamos um barquinho para pescar no lago grande. Escolhemos um barco amarelo e o empurramos rumo à água.
Confesso que eu não gostava muito de pescar, era entediante e demorado, mas eu amava a companhia silenciosa do meu pai. E isso fazia o esforço valer a pena. Tempo depois, quando já acomodados, chegamos ao meio do lago, onde, segundo ele, os peixes ficavam em maior quantidade.
Apoiei o queixo na mão enquanto segurava a vara de pescar com a outra. O dia estava quente e abafado o suficiente para causar exaustão e dor de cabeça.
— Você sente saudades de lá, não é?
Fui pega desprevenida. Entretanto, eu sabia do que ele estava falando.
— Sinto, mas o meu lugar é aqui — respondi sorrindo.
Meu pai balançou a cabeça enquanto encarava a água, depois seus olhos pequenininhos focaram no meu rosto.
— Minha filha preciosa, o seu lugar é onde o seu coração está. — Apesar de tranquilo, ele falava sério. — Seu lugar é onde você sente que é o seu lugar.
A sabedoria que sua voz transmitiu através daquelas palavras fez-me arrepiar.
— Vocês precisam de mim aqui...
— Precisamos de você bem — corrigiu.
— Ela não entenderia. — Balancei a cabeça, ele sabia que eu me referia a minha mãe.
— Ela nunca vai entender, afinal você é o bebê dela. — Meu pai sorriu. — Mas, alguém que nasceu com asas não pode viver com elas amarradas, você não concorda?
Meus olhos marejaram. Assenti sorrindo.
— Eu concordo sim, pai.
Aquilo significava que, por ele, tudo bem se eu quisesse ir onde eu tivesse que ir.
— Amo você pai, e amarei até depois da minha existência. — Alcancei sua mão.
Meu pai pegou minha mão estendida e beijou o dorso da mesma, para mostrar que também me amava tanto assim. Após isso, não tocou mais no assunto e não exigiu mais nenhuma resposta do mesmo. A conversa que fluiu durante a nossa pesca foi leve e acolhedora, ele me contava coisas de sua infância que me faziam rir tanto que eu me dobrava para frente em busca de fôlego.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Mila
RomanceCamila é uma garota alegre, esperançosa e aventureira que possui muitos sonhos, ela viaja para a Itália em busca de realizar um deles, abrir um restaurante e fazê-lo famoso. Ela conhece Lorenzo, que ao contrário dela é realista e busca apenas por co...