Capítulo - 32

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Arquejei ao descer do táxi há cinco casas de distância da pensão, pois não queria alarmar minha chegada.

O ar na Itália parecia adocicado, como se alguém estivesse sempre assando bolinhos ou algo do tipo.

Durante a viagem, logo quando eu estava no avião, Jean me ligou por chamada de vídeo. Giordana devia ter dito algo sobre mim para ele. Me senti um pouco culpada por não responder-lhe as mensagens e nem me preocupar em ligar.

Ele logo percebeu o cenário ao meu redor, e não pude inventar uma desculpa, então acabei estragando a surpresa, pelo menos para ele. Jean disse que assim que eu pousasse ele iria para a pensão e ficaria me esperando. Sua animação era evidente, o que aqueceu um pouco o meu coração.

Minha respiração se condensava um pouco no ar, o clima era frio. Bem diferente de onde eu estava há algumas horas atrás.

E sentia frio na barriga também, não por causa do clima, mas pela ansiedade de toda a situação. Pela euforia de estar de volta, de ver tudo novamente, viver aquilo.

Parei em frente ao portão de ferro. Além do jardim, que agora estava menos florido, nada havia mudado. Por fora era exatamente igual.

— Pensão Bellini. — Saboreei as palavras ao pronunciá-las.

Não fazia ideia do quanto um lugar poderia se tornar importante para nós, não tinha noção da força com a qual nos apegávamos à coisas, lugares e pessoas.

Como não vi o carro de Jean ali, subi os degraus para entrar no casarão.

Não sei bem o porquê, mas ao invés de simplesmente entrar acabei tocando a campainha.

— Um minuto. — Ouvi Lorenzo dizer lá de dentro.

Droga. Eu havia me esquecido de seu coração debilitado e que surpresas poderiam afetá-lo. Agora já era tarde.

Ele abriu a porta despreocupado, porém logo empalideceu ao focar os olhos nos meus.

Lorenzo estava o mesmo de antes, a diferença era que agora seus cabelos estavam um pouco maiores e algumas mechas loiras caíam em seu rosto. Não me lembrava de que ele era tão alto. Olhei bem no fundo daqueles olhos verde pinho e admirei o modo como brilharam.

Meu coração batia disparado no peito, como se quisesse sair e ir de encontro a ele.

Lorenzo deixou sua respiração falhar, e com um meio sorriso disse:

— Mila.

Aquela era a primeira vez que ele dizia meu apelido, e eu havia gostado de como soou em sua voz.

O mundo pareceu congelar e reviver ao mesmo tempo.

— Oi — forcei a fala, minha voz fraca.

Aquele sorriso aumentou.

O momento foi interrompido pela chegada de um veículo. Não desgrudei os olhos de Lorenzo, de modo que não vi quem havia chegado. Mas, pelo jeito como sua expressão tornou-se tempestuosa e em como suas sobrancelhas se franziram, eu soube logo quem era.

Me virei e vi Jean saindo do carro com um sorriso de orelha a orelha.

— Venha me dar um abraço!

Nossos corpos se colidiram em um abraço apertado. Ele me girou, me deixando um pouco tonta. Jean parou de costas para a pensão e eu de frente, e pude ver a sombra de tristeza que pairou no rosto de Lorenzo.

Aquilo era novo.

Ao ouvir a movimentação em sua porta, Martina saíra para consultar. Ao vê-la, minhas lágrimas despencaram, chorei abraçada a ela. Inspirei bem fundo seu perfume de lavanda deixando que a avalanche de emoções finalmente explodisse contra o meu peito.

Mila Onde histórias criam vida. Descubra agora