Capítulo - 29

46 13 45
                                        


Era uma manhã de sexta-feira, e também o dia do meu aniversário.

Quando acordei a casa estava com cheiro de bolo de banana com caramelo. Era meio que uma tradição nas manhãs dos meus aniversários comermos bolo de banana porque quando eu estava fazendo onze anos de idade meu pai esqueceu de comprar os ingredientes certos que minha mãe havia pedido na noite anterior, então ela fez uma mágica com o que tinha e resultou nesse bolo. Que por sinal era a oitava maravilha do mundo.

Meus pais estavam na cozinha preparando a mesa quando cheguei.

— Sabe, Hellen, eu realmente não me lembro que dia é hoje — meu pai brincou, fingindo falha na memória.

— Muito engraçado, faz isso todo ano — respondi, dando-lhe um beijo na bochecha e fazendo o mesmo com a minha mãe.

— Feliz aniversário, bonequinha. — Um sorriso verdadeiro chegou aos seus olhos fazendo-os brilhar.

Meu pai me puxou para o abraço de urso dele e quando me pôs no chão esticou minhas orelhas.

— A nossa macaquinha está tão crescida!

— Ei, ainda não é hora de chorar — avisei me sentando à mesa.

Flores amarelas com veios alaranjados estavam dispostas sobre o balcão, embaladas em plástico brilhante e fitas.

— Chegaram hoje cedo, tem um cartão junto — minha mãe respondeu notando que eu as encarava.

Meu coração bateu acelerado, como se fosse atraído por aquelas cores vibrantes.

As flores eram idênticas às que eu costumava colocar na mesa da sala de jantar na pensão de Martina, então possivelmente eram dela.

O buquê pesou em minhas mãos, seu perfume se espalhando no ar conforme era balançado. Puxei o cartão que tinha uma frase escrita à mão. "Que seu dia seja extraordinário."

As flores podiam sim serem de Martina, era o que eu pensava até ver a letra elegante levemente caída para o lado. Pensei que meu coração daria um troço de tão forte que batia.

Deixei as flores onde estavam e fui tomar meu café da manhã com os meus pais.

Meu dia foi cheio. Recebi convidados e alguns presentes. Tirei fotos e agradeci a cada um. Conversei e comi, comemorei e aproveitei ao máximo o momento.

Entretanto, a todo momento só pensava nas flores amarelas ainda no mesmo lugar em que eu as havia deixado. Elas vieram justo quando meu coração estava confuso. Bem no momento em que eu não sabia o que fazer.

Meu coração, que escondia as respostas de mim, insistia que aquelas flores eram o motivo pelo qual eu não sentia o mesmo que Jean Claude sentia por mim. Eram elas as culpadas por toda aquela confusão.

Depois que os convidados foram embora abri alguns dos presentes só porque minha mãe insistira tanto. Já meu pai acabou dormindo no sofá.

Concordamos que já estávamos cansados o suficiente para arrumar toda aquela bagunça ainda hoje, então o que fizemos foi irmos dormir.

Mas eu não estava cansada, nem um pouco para falar a verdade. Esperei meia hora depois que meus pais foram dormir para sair do meu quarto em direção a cozinha. Não que eu fosse uma adolescente, só não queria que se preocupassem ou ficassem perguntando se eu estava sentindo alguma coisa.

Andei até a cozinha, em direção às flores que tiravam o meu sono.

Quando era pequena, eu acreditava que as plantas e as flores eram imortais. Pensava que viveriam independentemente de local e água. Um dia fizemos uma trilha e colhi todas as flores que eu achava bonitas no caminho, quando cheguei em casa as deixei na mesa e fui dormir. Descobri na manhã seguinte que elas eram tão delicadas quanto pareciam. Porque, apesar de belas, elas também morriam.

Tirei as flores amarelas do plástico e preparei um jarro de vidro com água para elas. O perfume que exalavam ainda era forte e inebriante, o que me hipnotizou de certa forma enquanto eu as observava atentamente.

Se as flores pudessem falar, o que elas diriam sobre a pessoa que as enviou?

É claro que aquelas ali não foram enviadas da Itália, não sobreviveriam a viagem. Mas, se pudessem, o que elas teriam dito de Lorenzo?

Eu não podia negar o fato de que meu coração sempre batia mais rápido ao escutar seu nome, ou quando me lembrava dele, ou quando alguém falava nele. Quem sabe fosse apenas porque fizemos as pazes.

Quando saí da Itália perguntei-me se sentiria saudades dele, mas eu não soube responder. Agora, após meses e muitas reflexões, eu podia dizer que sim.

Eu sentia saudades dele. Sentia saudades de tudo. E me imaginar sem isso, a pensão, a Itália e os meus amigos, pelo resto da vida era perturbador. E também injusto.

Essas coisas e pessoas me faziam felizes, me ensinaram tanto e me acolheram, então por que eu tinha que viver longe de tudo isso? Por que estava impedindo o meu próprio voo?

Inspirei novamente o aroma das flores, fechei os olhos enquanto expirava e cedia ao desejo mais arrebatador do meu coração. Cedia à felicidade completa.

Eu voltaria para a outra parte do meu coração. Voltaria para a Itália.

Mila Onde histórias criam vida. Descubra agora