Já fazia uma semana que estávamos cuidando de Peppe. Descobrimos que ele era bastante animado e amigável com quem quer que chegasse na pensão. O que era bom.Peppe me fazia companhia noite e dia, me seguindo pela casa com suas patinhas ligeiras e orelhas penduradas por serem grandes demais. Eu havia me afeiçoado ao filhotinho, bem como todos os outros. Até mesmo Lorenzo conversava com Peppe como se ele pudesse entendê-lo, e era super engraçado de ver.
Estávamos reunidos na sala em uma noite fria, aproveitando do chocolate quente com canela e pãezinhos caseiros feitos por Martina. Ela contava como era o natal antes de seu marido falecer, como eram as festas e o tanto que ela sentia falta daquilo.
Observei Lorenzo, achando que veria vestígios de tristeza em seus olhos, contudo, havia um misto de felicidade e nostalgia. Algo que fez brilhar um sorriso em seu rosto.
Ele se virou para me olhar, mas desviei os olhos bem a tempo.
— Então por que não trazemos isso de volta? — disparei acariciando o pelo de Peppe, que estava deitado no sofá entre eu e Lorenzo.
Martina tinha um sorriso nos lábios, porém era evidente a saudade que lhe afligia por dentro.
— Façamos em memória dele, que amava tanto o natal — Lorenzo incentivou, pegando-me de surpresa.
— Ah, e como amava! — A senhora gargalhou.
— Podemos chamar os vizinhos que não tem para onde ir, que não possuem alguém para compartilhar a noite — sugeri dando de ombros.
O rapaz ao meu lado assentiu e encarou a avó.
— Isso seria perfeito, Nona, tenho certeza de que o vovô adoraria essa ideia — comentou ele.
Martina ergueu os olhos para cima, suspirou e disse:
— Ainda posso sentir o amor de Alonso nesta casa. — Seu sorriso aumentou, doce e sofrido. — Espero que, de onde estiver, ele também possa sentir nossa homenagem.
Sorri diante da força de seu amor pelo falecido marido. Eu não podia imaginar como era amar alguém com tanto fervor e então perder esse amor repentinamente. Como se seu coração fosse arrancado de seu peito com você ainda vivo.
Era tão trágico quanto ser a pessoa que vai partir.
Em alguns momentos eu esquecia que meu tempo era escasso e que pessoas sairiam feridas quando ele acabasse. Mas que é que eu poderia fazer para evitar? Como afastaria as pessoas que ofereciam tanto amor?
Senti algo diferente de pelos debaixo da minha mão. Lorenzo esticara sua mão e a enfiara por debaixo da minha sobre o dorso de Peppe, ele a girou para que seus dedos se enlaçassem aos meus.
Meu coração titubeou forte. Ele sairia ferido.
Os convites já haviam sido feitos, e muitas confirmações chegaram. Teríamos uma festa de natal esplêndida.
Quando a manhã da véspera raiou levantei-me empolgada. Era dia de comidas deliciosas, festas e presentes. E muito mais.
Desci para o café da manhã com o filhotinho no meu encalço.
Na mesa havia pães com passas e frutas secas, biscoitos de gengibre, geleias de diversos sabores e bolo de frutas vermelhas com açúcar polvilhado em cima.
Nós quatro comemos juntos e logo partimos para os afazeres. Lorenzo e Martina ficariam na cozinha cuidando das comidas, Tommaso ficaria com a limpeza do primeiro andar e eu terminaria a decoração. E Peppe... Bem, ele carregava consigo as bolinhas de natal que eu tentava juntar.

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Mila
RomanceCamila é uma garota alegre, esperançosa e aventureira que possui muitos sonhos, ela viaja para a Itália em busca de realizar um deles, abrir um restaurante e fazê-lo famoso. Ela conhece Lorenzo, que ao contrário dela é realista e busca apenas por co...